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Ministro prevê processo até 2010, e Planalto arma defesa
Governo avalia que caso dá discurso à oposição e quer empurrar PT para disputa política
"Não estamos no âmbito de
uma pizzaria", diz Marco
Aurélio Mello; Planalto vai
argumentar que abertura
de ação não é condenação
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello disse ontem que "um
prazo razoável" para duração
do processo do mensalão será
"dois anos e meio ou três".
Isso significa que o caso deve
se arrastar até 2010, ano da
próxima eleição presidencial.
A cúpula do governo avalia
que a abertura de ações penais
contra os ex-ministros José
Dirceu e Luiz Gushiken dá discurso à oposição. Na visão do
Planalto, PSDB e DEM poderão
dizer que o esquema do mensalão, mais grave escândalo de
corrupção do governo Lula, teve participação de ministros
que integravam o antigo "núcleo duro", grupo de auxiliares
que participou da campanha de
2002 e que dominou posições-chaves no primeiro mandato.
Oficialmente, será mantido o
discurso de que o governo não
está sob julgamento, mas apenas pessoas que integraram a
administração Lula.
Nos bastidores, porém, o Planalto e o PT preparam contra-ofensiva. Primeiro argumento:
abertura de ação penal não significa condenação prévia. Na
avaliação de auxiliares do presidente, não haveria provas
contra Dirceu e Gushiken. Teriam, assim, chance de absolvição ao final do julgamento.
Mas, diante do cenário de um
longo processo, o presidente e a
cúpula do governo se dizem
preparados para continuar a fazer a "disputa política". Lula
deve fazer um discurso nessa linha na abertura do 3º Congresso do PT, na sexta, em São Paulo. Incentivará o PT a se defender dos ataques da oposição.
Na avaliação do Planalto, o
STF decidiu abrir por unanimidade ação penal contra Dirceu
por corrupção ativa devido à
pressão da opinião pública e da
imprensa. Integrantes da cúpula do governo disseram à Folha
que já esperavam esse resultado porque, na sua opinião, o ingrediente político estaria pesando mais do que o técnico na
decisão do Supremo.
O tribunal deve examinar
hoje o principal ponto da denúncia: a acusação de formação
de quadrilha contra Dirceu.
Na cúpula do governo, já não
há mais esperança de que Dirceu escape dessa acusação. No
entanto, se houver três ou quatro votos a seu favor nesse ponto, o Planalto e o PT buscarão
enfatizar que essa acusação específica do procurador-geral
seria frágil. A acusação que
mais contraria Dirceu é a de ser
chefe de quadrilha, carimbo
dado pela denúncia.
Os ministros Marco Aurélio
Mello e Celso de Mello afirmaram ontem que consideram o
julgamento importante para a
imagem do Judiciário. O primeiro declarou: "Não estamos
no âmbito de uma pizzaria."
"Cabe ao Ministério Público
provar a culpabilidade dos acusados, além de qualquer dúvida
razoável e com apoio em suporte probatório lícito e idôneo", disse Celso de Mello.
Outro integrante do STF,
Eros Roberto Grau, afirmou, ao
se referir ao processo contra
Dirceu: "o ministro Marco Aurélio costuma dizer que, em
processo, a gente não vê o nome que está na capa."
Colaborou SILVANA DE FREITAS ,
da Sucursal de Brasília
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