São Paulo, terça-feira, 28 de agosto de 2007

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Ministro prevê processo até 2010, e Planalto arma defesa

Governo avalia que caso dá discurso à oposição e quer empurrar PT para disputa política

"Não estamos no âmbito de uma pizzaria", diz Marco Aurélio Mello; Planalto vai argumentar que abertura de ação não é condenação

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello disse ontem que "um prazo razoável" para duração do processo do mensalão será "dois anos e meio ou três". Isso significa que o caso deve se arrastar até 2010, ano da próxima eleição presidencial.
A cúpula do governo avalia que a abertura de ações penais contra os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken dá discurso à oposição. Na visão do Planalto, PSDB e DEM poderão dizer que o esquema do mensalão, mais grave escândalo de corrupção do governo Lula, teve participação de ministros que integravam o antigo "núcleo duro", grupo de auxiliares que participou da campanha de 2002 e que dominou posições-chaves no primeiro mandato.
Oficialmente, será mantido o discurso de que o governo não está sob julgamento, mas apenas pessoas que integraram a administração Lula.
Nos bastidores, porém, o Planalto e o PT preparam contra-ofensiva. Primeiro argumento: abertura de ação penal não significa condenação prévia. Na avaliação de auxiliares do presidente, não haveria provas contra Dirceu e Gushiken. Teriam, assim, chance de absolvição ao final do julgamento.
Mas, diante do cenário de um longo processo, o presidente e a cúpula do governo se dizem preparados para continuar a fazer a "disputa política". Lula deve fazer um discurso nessa linha na abertura do 3º Congresso do PT, na sexta, em São Paulo. Incentivará o PT a se defender dos ataques da oposição.
Na avaliação do Planalto, o STF decidiu abrir por unanimidade ação penal contra Dirceu por corrupção ativa devido à pressão da opinião pública e da imprensa. Integrantes da cúpula do governo disseram à Folha que já esperavam esse resultado porque, na sua opinião, o ingrediente político estaria pesando mais do que o técnico na decisão do Supremo.
O tribunal deve examinar hoje o principal ponto da denúncia: a acusação de formação de quadrilha contra Dirceu.
Na cúpula do governo, já não há mais esperança de que Dirceu escape dessa acusação. No entanto, se houver três ou quatro votos a seu favor nesse ponto, o Planalto e o PT buscarão enfatizar que essa acusação específica do procurador-geral seria frágil. A acusação que mais contraria Dirceu é a de ser chefe de quadrilha, carimbo dado pela denúncia.
Os ministros Marco Aurélio Mello e Celso de Mello afirmaram ontem que consideram o julgamento importante para a imagem do Judiciário. O primeiro declarou: "Não estamos no âmbito de uma pizzaria." "Cabe ao Ministério Público provar a culpabilidade dos acusados, além de qualquer dúvida razoável e com apoio em suporte probatório lícito e idôneo", disse Celso de Mello.
Outro integrante do STF, Eros Roberto Grau, afirmou, ao se referir ao processo contra Dirceu: "o ministro Marco Aurélio costuma dizer que, em processo, a gente não vê o nome que está na capa."


Colaborou SILVANA DE FREITAS , da Sucursal de Brasília


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