São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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PÓS-MARCHA
Ato teria "milhões" se pobres pudessem ir a Brasília, diz d. Jayme
Governo deve rever rumos da economia, avalia CNBB

da Sucursal de Brasília

e free-lance para a Folha

O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Jayme Chemello, disse que a "Marcha dos 100 Mil" foi um recado para o governo e serviu para mostrar que "o povo sofre". Ele afirmou, porém, que a Igreja Católica não apoiará a greve geral prevista para 8 de outubro "porque uma greve causa muito prejuízo para o país".
Para dom Jayme, o governo "deve valorizar e dialogar com esse povo" representado na marcha, mas afirmou que a manifestação não resolve os problemas. "Os mais pobres não vieram porque não têm como vir. Se tivessem como vir e se o povo achasse que a marcha ia resolver seus problemas, não viria só 1 milhão, viriam 10 milhões, 15 milhões."
O cálculo do número de pessoas presentes à marcha, realizada anteontem na Esplanada dos Ministérios, variou. Os organizadores do ato estimaram mais de 100 mil pessoas. A Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal contou pouco mais de 40 mil manifestantes. Projeções feitas pela Folha indicaram a presença de cerca de 75 mil pessoas.
Dom Jayme deu as declarações em entrevista convocada para falar sobre a reunião do Conselho Permanente da CNBB, de onde saiu o documento "Desafios e Esperanças do Momento Atual".
O trabalho traz uma avaliação da igreja sobre problemas do país e contém críticas ao governo e aos políticos. Para a CNBB, é hora de rever a política econômica e de traçar uma nova política social.
"Estamos caindo, cada vez pior", avalia a CNBB. O país está "crescendo no papel, como o rabo do petiço (cavalo de pequena estatura), que cresce para baixo".
Dom Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra, entidade ligada à Igreja Católica que monitora conflitos no campo e assessora movimentos de sem-terra, disse que, na marcha, "o presidente ficou isolado no Palácio do Planalto e rodeado por ministros e seguranças".

Oposição
Os partidos de oposição (PT, PDT, PC do B, PSB e PCB) preparam um ""manifesto" que será divulgado para o público dentro de 15 ou 20 dias com uma proposta unitária de administração, alternativa à do governo FHC.
O anúncio foi feito em Porto Alegre pelo líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu com o governador Olívio Dutra (PT). Segundo ele, o manifesto estará pronto em 15 ou 20 dias.
Já no caso de uma investigação sobre a privatização do Sistema Telebrás, PDT e PT adotarão estratégias distintas.
O presidente do PDT, Leonel Brizola, disse que o partido insistirá na campanha pela renúncia de FHC. O líder do PT na Câmara, José Genoino (SP), disse que o partido tentará conseguir apoio de senadores -já tem o de deputados- para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito.


Colaborou a Agência Folha, em Porto Alegre

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