São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Banco Sofisa, de SP, recebeu dólares do PT

Parte dos US$ 248,8 mil entrou legalmente no Brasil pela instituição e seguiu para casas de câmbio e pessoas físicas

Banco diz que operação foi registrada no BC; Justiça quebra sigilo bancário de agências do BankBoston, do Safra e do Bradesco


SHEILA D'AMORIM
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Parte dos US$ 248,8 mil usados na negociação do dossiê contra tucanos entrou legalmente no Brasil por meio do banco Sofisa. De lá saiu para instituições que negociam moeda estrangeira, como casas de câmbio, e também para pessoas físicas.
A operação legal se restringe a US$ 110 mil, o montante de notas de dólares que foi possível rastrear, com a colaboração de autoridades norte-americanas, porque estavam seriadas. Fazem parte de um lote emitido pela casa da moeda dos EUA em abril deste ano. Não há, por ora, informação sobre a origem do restante do dinheiro em moeda estrangeira usado pelos petistas na negociação.
O Sofisa é uma instituição de médio porte, fundada em 1961, tem sede na alameda Santos em São Paulo e duas subsidiárias no exterior. Uma delas, o Sofisa Bank, na Flórida, e a outra, o Sofisa Bank Limited, em Saint John"s, em Antígua. A origem da operação financeira que aportou os dólares suspeitos no Brasil é Miami, na Flórida.
Até 1990, o foco do Sofisa, que tem atuação regional, era o crédito e financiamento para pessoas físicas. A partir daí, ampliou suas atividades, atendendo também o setor empresarial. Desde novembro de 1993, tem autorização do Banco Central para operar com câmbio.
Segundo a assessoria da instituição, não há nenhuma ilegalidade na operação que permitiu o ingresso dos dólares no país e tudo está devidamente registrado no sistema do BC.
"Todas as operações com moeda estrangeira realizadas pelo banco são registradas no Banco Central e identificadas obedecendo todas as prescrições legais. Tais recursos são transacionados com outras instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central", informa em uma nota.
O Sofisa alega que, por exigência legal de manter o sigilo de suas operações, não pode informar o destino dos recursos.
A Folha apurou que o dinheiro foi repassado a corretoras de câmbio, que também estariam autorizadas a negociar moeda estrangeira no país.
O registro de todas as operação teria sido feito no sistema do BC, como determinam as regras em vigor. Como as corretoras também são obrigadas a identificar para onde vão os dólares que saem do caixa delas, a informações dos sacadores finais também constariam dos registros do banco e do BC.
Há uma semana, a PF apreendeu R$ 1,75 milhão em poder de Valdebran Padilha e Gedimar Passos, que estavam hospedados no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo. Parte do montante estava em dólares, cujo rastreamento é o caminho mais curto, até o momento, para a PF chegar aos donos do dinheiro que financiou, para os petistas, a aquisição do dossiê montado pela família Vedoin, que protagonizou o escândalo dos sanguessugas.
Valdebran, empresário em Mato Grosso, era o emissário dos Vedoin. Gedimar, ex-agente da PF, representava o PT na negociação. Seria o responsável por fazer o pagamento.
Além dos dólares seriados, é preciso identificar a origem do R$ 1,168 milhão que também estava com Passos e Padilha. Até agora, pouco se sabe sobre os reais apreendidos, somente que R$ 25 mil foram sacados em três agências bancárias em São Paulo dos bancos Bradesco, Safra e BankBoston.
Ontem, a Polícia Federal pediu e a Justiça Federal de Cuiabá autorizou a quebra de sigilo bancário de algumas agências bancárias, que, segundo o órgão, podem ter sido de onde os petistas sacaram os reais. A Folha apurou que, entre essas agências, estão as do BankBoston (atualmente comprado pelo Itaú), Safra e Bradesco.


Colaborou a Agência Folha, em Cuiabá

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