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NO AR
Nova velha história
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
- O novo presidente do
Brasil é Luiz Inácio Lula
da Silva!
Quem fez o anúncio ao país foi
ninguém menos que Alexandre
Garcia. O velho porta-voz, 12
anos depois, sorria.
Na sequência, o presidente do
Ibope também anunciou com
pompa a vitória, acrescentando,
orgulhoso:
- Lula deve ter entre 55 e 57
milhões de votos. Isso o tornará
o presidente com mais votos na
história mundial.
Para além da estranheza de
assistir dois personagens de 89
em trama tão diversa, o que se
viu na Globo foi a glorificação
do novo mito.
Pedro Bial abriu o Fantástico
também sorrindo, "sem medo
de ser feliz":
- O operário chegou lá!
O tom do programa foi todo
na linha "pela primeira vez um
brasileiro nascido na miséria,
que passou fome quando era
menino", venceu.
Até chegar ao extremo da
exaltação, com Lula entrando
ao vivo, na sua única entrevista,
respondendo a Bial e Glória
Maria.
Com o apresentador em ritmo
de "reality show" e engasgado
pela emoção, foi encenado de
cara um esta-é-a-sua-vida, no
esforço de levar o "presidente"
-como Lula já era chamado-
a chorar.
Bial não conseguiu, mas Lula
poderia ter passado sem esta, no
dia de sua eleição. Poderia não
ter se submetido de tal maneira,
em sua primeira aparição como
presidente eleito.
Franklin Martins, o analista,
deu o tom do que deve esperar o
governo Lula em sua relação
com o oligopólio:
- Os números são históricos.
Fecha-se um ciclo, baseado na
estabilização, e abre-se outro...
Depois de oito anos de reforma
do Estado, de privatizações,
abertura da economia, entram
na agenda crescimento, geração
de emprego, de renda, ou seja,
melhoria na condição de vida
da população.
Anunciar crescimento, mais
emprego, melhoria na condição
de vida da população é somente
adaptar o velho oficialismo ao
novo oficial.
E a Globo foi achar Duda
Mendonça na Bahia.
Alexandre Garcia, como antes
no anúncio da vitória, sorriu ao
dizer que o publicitário tratava
a eleição do petista como um
"sonho". Duda ecoou o velho
bordão de fim de ano da própria
Rede Globo:
- A gente está começando
um novo tempo. O sonho de um
presidente diferente.
Na CBN, a conversa com o
marqueteiro, já em São Paulo,
foi na mesma direção. Pergunta
e resposta:
- Qual é a diferença de fazer
campanha para Paulo Maluf e
fazer para Lula?
- O Paulo Maluf é um bom
profissional, a campanha teve
de mim o melhor que eu pude,
não me arrependo de ter feito.
Mas é diferente... Esta não foi
uma campanha qualquer. Esta
foi a campanha da minha vida...
Não foi uma campanha. Foi um
sonho.
Foi uma campanha, mas não
como qualquer outra. Ainda vai
demorar para se compreender
todo o impacto em outras partes
do mundo da eleição, por um
marqueteiro, de um presidente
como Lula.
Agora Duda mal comemora e
já parte para a Argentina, onde
tem outro cliente presidenciável.
Outro "sonho".
FHC, ainda presidente, teve
pelo menos duas alegrias, no dia
em que se escolheu aquele que
vai tomar seu lugar.
Ao sair de seu local de votação,
afirmou sentir a "generosidade"
dos eleitores "até mesmo para
com o presidente da República".
Gritavam:
- Fica, fica, fica.
Por outro lado, na Venezuela,
Hugo Chávez declarou num
programa de rádio, em meio aos
esperados louvores a Lula, que
agradecia ao colega brasileiro, a
FHC, por seu "cavalheirismo e
pelo apoio irrestrito à Venezuela
revolucionária".
Inusitadamente, o presidente
vai saindo do cargo e entrando
para a história quase como uma
unanimidade.
Mas os tucanos só iniciam a
violenta disputa interna pelo
que restou de poder.
Em meio a comentários óbvios
sobre a salutar alternância no
poder, Franklin Martins saiu-se
com esta ironia:
- A alternância no poder é
importante, mas eu quero ver
alguns partidos na oposição. A
alternância na oposição é que é
importantíssima.
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