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HEGEMONIA AMEAÇADA
Jantar entre Fernando Henrique Cardoso,
José Serra e Geraldo Alckmin marca reação à tentativa de Aécio
Neves e Tasso Jereissati de assumir o comando do partido
Núcleo paulista do PSDB se rearticula
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso, o candidato derrotado à Presidência José Serra e o
governador reeleito de São Paulo,
Geraldo Alckmin, jantaram anteontem para dar uma demonstração de força do PSDB paulista,
cuja hegemonia vem sendo questionada no partido.
O jantar foi na casa do embaixador do Brasil em Roma, Andrea
Matarazzo, no Morumbi, bairro
nobre de São Paulo, e durou até
aproximadamente 1h de ontem.
As mulheres e filhas de FHC, Serra e Alckmin participaram.
Apesar de Matarazzo descrever
o encontro como "entre amigos,
em que nem se discutiu política",
ele ocorreu apenas três dias depois de um outro jantar a muitos
quilômetros de distância dali: o
que reuniu em Fortaleza, quarta-feira à noite, o núcleo tucano que
disputa o comando partidário
com os "paulistas".
Fazem parte desse núcleo antipaulista o governador eleito de
Minas, Aécio Neves, e o senador
eleito Tasso Jereissati (CE), que
querem trazer de volta ao PSDB o
candidato derrotado do PPS à
Presidência, Ciro Gomes.
Eles consideram que São Paulo
manteve o comando do PSDB nos
oito anos dos dois mandatos de
FHC na Presidência e agora está
na hora de "arejar" o partido.
Na avaliação do grupo, que espera a adesão dos tucanos de
Goiás, Pará e Mato Grosso do Sul,
FHC está "voltando para casa" e
Serra não só perdeu a eleição presidencial como sai dela com uma
legião de inimigos.
Os tucanos paulistas, porém,
têm uma visão oposta do papel de
FHC e do resultado das eleições.
Dizem que FHC sai do governo,
mas não da vida pública, e, apesar
do desgaste natural de oito anos
de poder, mantém um bom índice de popularidade. No último
Datafolha, 26% de ótimo e bom,
mais 38% de regular.
FHC, portanto, continuaria sendo decisivo no PSDB e no próprio
processo político, especialmente
se o governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva vier a enfrentar
turbulências.
Para os paulistas, também será
impossível desconsiderar a liderança de Serra, que sai das eleições de 2002 com cerca de 30 milhões de votos. FHC ganhou em
1998 com 35,9 milhões. A diferença é que Serra tem isso com apenas um adversário no segundo
turno e FHC ganhou no primeiro
turno, concorrendo contra vários
candidatos.
Além disso, os paulistas contrapõem: Aécio Neves venceu no primeiro turno em Minas com
57,68%, mas Alckmin também
passa a ser naturalmente uma força política nacional. Deixa de ser
substituto do governador Mário
Covas -principal líder tucano,
morto em 2001- e passa a ter
personalidade política própria.
Serra, Alckmin e o presidente
nacional do PSDB, José Aníbal
(SP), também fizeram questão de
aparecer juntos ontem mais de
uma vez, todos com camisas
azuis, cor do partido. Não foi por
acaso. Ao contrário, um sinal.
Ainda segundo os paulistas do
PSDB, Tasso não sai da eleição
sob glória. Perdeu a legenda para
Serra na eleição presidencial, pulou no barco de Ciro quando este
disparou nas pesquisas e seu candidato no Ceará, Lúcio Alcântara,
ganhou por menos de 1%.
Os dois grupos têm uma posição comum: a de que o partido terá de, forçosamente, ocupar a liderança da oposição. Mas terão
de disputar, palmo a palmo,
quem dá as cartas no partido numa nova fase, longe do poder.
O PSDB venceu em São Paulo,
Minas, Goiás, Ceará, Paraíba e
Rondônia. Até o fechamento desta edição, estava indefinido o governo do Pará. Tem, ainda, a
quarta bancada no Congresso,
com 71 deputados e 11 senadores.
O partido perde a Presidência,
mas não está morto. Muito menos estão os tucanos paulistas.
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