São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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"República dos Silva" celebra com forró

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A CAETÉS (PE)

Com um trio elétrico embalado por forrós e músicas de carnaval, a "República dos Silva", onde quase todo mundo é ou agora se proclama parente do presidente eleito, comemorou ontem o triunfo do filho mais famoso. Os mais velhos choravam, os moços previam dançar até amanhecer.
Ex-distrito de Garanhuns, Caetés, agreste pernambucano, a 248 km do Recife, estava coberta de vermelho e repleta de caminhões paus-de-arara, o mesmo tipo que levou Luiz Inácio Lula da Silva, em 1952, para o Guarujá (SP).
Após os primeiros resultados da apuração, o forró, nos bares e em barracas de rua, começou a tomar toda a cidade. Parecia festa de São João fora de época. "Caetés é a terra do presidente", anunciavam as caixas de som. Uma chuva de fogos deu sequência à festa.
"Agora moramos na cidade mais importante do Brasil", gritava mais um Silva, José Ricardo, 53, também primo de Lula. "A gente achava que nunca iria acontecer, só sonhava, como sonha com chuva todo ano".
Ontem os paus-de-arara, além de simbolizar o passado de Lula, prestavam serviço à Justiça Eleitoral, transportando os eleitores dos cafundós para a sede do município. "Trouxe agora mesmo uma carrada de primo de Lula", contou o motorista José Godoi, 51, que fazia a "linha" Várzea Comprida -sítio onde o petista nasceu há 57 anos- a Caetés.
Parente de Lula é o que não falta em Caetés e Garanhuns. A maioria, como atesta o primo legítimo Gilberto Ferreira, 55, ainda mora na zona rural. "Mas agora já tem gente de tudo quanto é lugar que entrou para a família", ironiza a romaria de Silva que se incorporou à família do petista.
Além da população do município, de 20.022 pessoas, a festa atraiu gente de outras cidades e foi bancada pela prefeitura, sob o comando do PT há duas gestões. "Vamos superar o percentual que Lula vai ter no país", disse o prefeito José Luis de Lima Sampaio. No primeiro turno, o petista teve 52% dos votos no município.
Filho de pequenos agricultores, Lula deixou o sítio Várzea Comprida aos sete anos, com a mãe e sete irmãos. A família foi apanhada pelo motorista Zé de Diné, dono do caminhão pau-de-arara, na beira da estrada de Caetés.
"Quase nada mudou por aqui", constatou o próprio Lula ao visitar o local, este ano. "O mesmo atraso, a mesma política perversa que maltrata o Nordeste".


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