São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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Brasil voltará a crescer com eleito, diz economista do IIE

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No mesmo ano em que Luiz Inácio Lula da Silva disputou pela primeira vez a Presidência, 1989, um grupo de economistas ligados ao IIE (Institute for International Economics) formulou um receituário de políticas econômicas liberais, o Consenso de Washington. Passados 13 anos, o economista britânico John Williamson, idealizador do conceito, disse que Lula, "para se tornar "elegível", para ser eleito", teve de aceitar a maioria das idéias do Consenso.
"Acredito que, hoje, em termos macroeconômicos, como combate à inflação alta, todo mundo aceita as idéias essenciais do Consenso. Inclusive o Lula", diz.
Na opinião de Williamson, que é membro sênior do IIE, sediado em Washington, Lula será capaz de recolocar o Brasil no caminho do crescimento econômico sustentado e terá mais condições de reduzir os juros do que o tucano José Serra. Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha, por telefone, de Washington:

Folha - Como se comportará o mercado com a vitória de Lula ?
Jonh Williamson
- Tudo vai depender das ações do governo eleito. Lula prometeu nomear o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central rapidamente. É muito importante que sejam pessoas respeitadas, sérias, competentes e com familiaridade com os mercados financeiros.

Folha - Se o Lula anunciar um quadro técnico e competente para compor sua equipe econômica, conseguirá credibilidade?
Williamson
- Acho que é muito difícil para um governo de esquerda ganhar a credibilidade do mercado. Isso exige tempo e mais ações do presidente. Ações na área fiscal seriam muito bem-vindas. Mas não simplesmente elevando o superávit primário, que provavelmente será necessário, mas também fazendo as reformas tributária e da Previdência.

Folha - A intenção de adotar essas medidas deveria ser anunciada logo, antes mesmo da posse?
Williamson
- Seria muito bom. Demonstraria que ele começou a trabalhar antes de assumir. Esperar dois meses é um tempo longo demais para deixar os mercados pensando no que vai acontecer.

Folha - Qual a importância da eleição do Lula para a consolidação do processo democrático no Brasil?
Williamson
- Acho que ter uma pessoa que é muito fora dos setores tradicionais do país mostrando habilidade para assumir a Presidência é muito bom para a democracia no Brasil. Demonstra que qualquer pessoa com habilidade, mesmo tendo origem muito modesta, pode chegar ao cargo.

Folha - O atual governo pautou sua política econômica pelo Consenso de Washington. A vitória da oposição pode ser entendida como rejeição a essas prescrições?
Williamson
- Acho que é muito interessante notar que para se tornar "elegível", para ser eleito, foi necessário que Lula aceitasse a maioria das idéias do Consenso. As idéias essenciais, em termos macroeconômicos, como combate à inflação alta, acho que todo mundo as aceita hoje, o Lula inclusive. O mesmo em relação à idéia de economia de mercado, em vez de um papel mais ativo do Estado. Nessa área, acho que o Lula adotou posição mais central. Certamente ele não vai tentar estatizar ou nacionalizar empresas.

Folha - O governo Lula terá condições de levar o Brasil de volta ao crescimento sustentado?
Williamson
- É um erro imaginar que isso vai acontecer já em 2003. Na situação atual, é necessário criar confiança, um processo lento, que exige paciência. O problema é que sempre houve um mal-estar entre os investidores, que pensavam que o Lula iria ganhar e tomar medidas ruins para o mercado. Se essa idéia for eliminada das mentes dos investidores e Lula conseguir conquistar sua confiança, será possível reduzir os juros até mais do que Serra poderia.

Folha - Esse quadro poderia se confirmar em 2004? Poderíamos ter taxas de juros bem mais baixas do que nos últimos anos?
Williamson
- Eu espero. Neste mundo nada é certo, mas até 2004 seria razoável esperar por isso.


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