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Brasil voltará a crescer com eleito, diz economista do IIE
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No mesmo ano em que Luiz
Inácio Lula da Silva disputou pela
primeira vez a Presidência, 1989,
um grupo de economistas ligados
ao IIE (Institute for International
Economics) formulou um receituário de políticas econômicas liberais, o Consenso de Washington. Passados 13 anos, o economista britânico John Williamson,
idealizador do conceito, disse que
Lula, "para se tornar "elegível", para ser eleito", teve de aceitar a
maioria das idéias do Consenso.
"Acredito que, hoje, em termos
macroeconômicos, como combate à inflação alta, todo mundo
aceita as idéias essenciais do Consenso. Inclusive o Lula", diz.
Na opinião de Williamson, que
é membro sênior do IIE, sediado
em Washington, Lula será capaz
de recolocar o Brasil no caminho
do crescimento econômico sustentado e terá mais condições de
reduzir os juros do que o tucano
José Serra. Leia a seguir trechos da
entrevista que ele concedeu à Folha, por telefone, de Washington:
Folha - Como se comportará o
mercado com a vitória de Lula ?
Jonh Williamson - Tudo vai depender das ações do governo eleito. Lula prometeu nomear o ministro da Fazenda e o presidente
do Banco Central rapidamente. É
muito importante que sejam pessoas respeitadas, sérias, competentes e com familiaridade com os
mercados financeiros.
Folha - Se o Lula anunciar um
quadro técnico e competente para
compor sua equipe econômica,
conseguirá credibilidade?
Williamson - Acho que é muito
difícil para um governo de esquerda ganhar a credibilidade do
mercado. Isso exige tempo e mais
ações do presidente. Ações na
área fiscal seriam muito bem-vindas. Mas não simplesmente elevando o superávit primário, que
provavelmente será necessário,
mas também fazendo as reformas
tributária e da Previdência.
Folha - A intenção de adotar essas medidas deveria ser anunciada
logo, antes mesmo da posse?
Williamson - Seria muito bom.
Demonstraria que ele começou a
trabalhar antes de assumir. Esperar dois meses é um tempo longo
demais para deixar os mercados
pensando no que vai acontecer.
Folha - Qual a importância da
eleição do Lula para a consolidação
do processo democrático no Brasil?
Williamson - Acho que ter uma
pessoa que é muito fora dos setores tradicionais do país mostrando habilidade para assumir a Presidência é muito bom para a democracia no Brasil. Demonstra
que qualquer pessoa com habilidade, mesmo tendo origem muito modesta, pode chegar ao cargo.
Folha - O atual governo pautou
sua política econômica pelo Consenso de Washington. A vitória da
oposição pode ser entendida como
rejeição a essas prescrições?
Williamson - Acho que é muito
interessante notar que para se tornar "elegível", para ser eleito, foi
necessário que Lula aceitasse a
maioria das idéias do Consenso.
As idéias essenciais, em termos
macroeconômicos, como combate à inflação alta, acho que todo
mundo as aceita hoje, o Lula inclusive. O mesmo em relação à
idéia de economia de mercado,
em vez de um papel mais ativo do
Estado. Nessa área, acho que o
Lula adotou posição mais central.
Certamente ele não vai tentar estatizar ou nacionalizar empresas.
Folha - O governo Lula terá condições de levar o Brasil de volta ao
crescimento sustentado?
Williamson - É um erro imaginar
que isso vai acontecer já em 2003.
Na situação atual, é necessário
criar confiança, um processo lento, que exige paciência. O problema é que sempre houve um mal-estar entre os investidores, que
pensavam que o Lula iria ganhar e
tomar medidas ruins para o mercado. Se essa idéia for eliminada
das mentes dos investidores e Lula conseguir conquistar sua confiança, será possível reduzir os juros até mais do que Serra poderia.
Folha - Esse quadro poderia se
confirmar em 2004? Poderíamos
ter taxas de juros bem mais baixas
do que nos últimos anos?
Williamson - Eu espero. Neste
mundo nada é certo, mas até 2004
seria razoável esperar por isso.
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