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Êxito alcançado por Geraldo Alckmin em São Paulo leva o PSDB ao terceiro mandato consecutivo no principal Estado do país
Tucanos rumam para 12 anos de poder
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A vitória de Geraldo Alckmin
em São Paulo é a realização mais
próxima daquilo que foi preconizado por um dos ícones da era
FHC, o então ministro Sérgio
Motta, morto em 1998, para quem
os tucanos deveriam ter um projeto de 20 anos de poder.
No plano federal, essa aspiração
chegou ao segundo mandato de
FHC; no principal Estado da Federação, vai para os 12 anos com a
reeleição de Alckmin e a permanência do PSDB paulista no Palácio dos Bandeirantes, de onde comandará um orçamento anual de
R$ 50 bilhões sob as vistas de 25
milhões de eleitores.
A continuação de um mesmo
grupo político por três mandatos
subsequentes é coisa inédita no
Estado de São Paulo desde a redemocratização do país, pós-Estado
Novo, em 1945. A situação mais
próxima foi verificada no final
dos anos 80 e começo dos 90,
quando se sucederam no governo
Franco Montoro (1983-1987),
Orestes Quércia (1987-1991) e
Luiz Antônio Fleury Filho (1991-1995). Eram todos do PMDB ao
tempo de seus respectivos mandatos, mas os grupos de Quércia e
Montoro não apenas "racharam"
como este último foi um dos principais articuladores da criação,
em junho de 1988, do PSDB.
Entre os fundadores do partido
dos tucanos estava Mário Covas
(1930-2001), que viria a se eleger
governador em 95, em disputa
também com o PMDB, dando início ao atual ciclo.
Na opinião do cientista político
Rubens Figueiredo, 44, (organizador, ao lado de Bolívar Lamounier, da coletânea "A Era FHC"), a
continuação tucana no comando
do governo estadual é decorrência da conjugação da performance administrativa com características eleitorais peculiares.
"O Mário Covas foi eleito pela
primeira vez vencendo o Francisco Rossi (então no PDT), um "outsider", numa eleição em que as
principais forças políticas do Estado ficaram de fora. Fez uma administração que não foi bem avaliada, razoável, e foi para o segundo turno na reeleição por muito
pouco. Acabou ganhando com o
voto da rejeição a Maluf."
Quanto a Alckmin, diz ele, o
ponto alto é a avaliação de seu governo, 56% de bom/ótimo, segundo o Datafolha. "Ele é agora, assim como Aécio Neves [governador eleito no primeiro turno em
Minas", força emergente do PSDB
para a tentativa de retomada do
governo federal."
Essa também é a opinião de outro cientista político, o professor
da Unicamp Leôncio Martins Rodrigues, 68. Para ele, o cenário
ainda é muito incerto, não sendo
possível prever como vai evoluir o
quadro político nacional.
"Mas o PSDB é um partido que
representa uma parcela importante da população e que está de
momento enfraquecido. E São
Paulo é um Estado muito forte,
servirá como ponto de apoio para
sua recuperação", disse.
Não apenas São Paulo, de acordo com Rodrigues, mas também
Minas Gerais. "Aécio leva uma
vantagem em relação a Alckmin,
porque tem um tráfego mais nacional, é presidente da Câmara,
tem mais diálogo com o PT."
Para Rodrigues, tanto Alckmin
quanto Aécio "certamente serão
bons trunfos" do PSDB para a
Presidência em 2006.
Mas para o cientista político e
presidente do Cebrap, Fernando
Limongi, 44, esse tipo de previsão
é precipitada. "Todos os prognósticos sobre quem saiu ganhando
em eleições anteriores nunca deram certo", afirmou.
Segundo diz, há que se esperar
as "inúmeras variáveis" que vão
surgir ao longo do governo de Lula, bem como a performance que
tanto Aécio como Alckmin terão
em suas gestões.
Quanto ao governo de São Paulo, ele não acredita em hegemonia
absoluta do PSDB. "O que há é a
permanência do centro no poder.
Este é o sexto mandato de um
partido de centro. Em São Paulo,
há três forças políticas bem distintas -esquerda, direita e centro-
, cada uma respondendo por 25%
a 30% do eleitorado. Toda eleição
é disputada, nunca há favas contadas para nenhum grupo. A eleição de Covas não foi tranquila no
primeiro mandato nem no segundo. Há muita competitividade."
Limongi lembra que a esquerda
representada pelo PT nunca havia
disputado um segundo turno para o governo estadual. "As performance de Genoino e do PT foram,
portanto, muito boas."
Sobre Alckmin e uma possível
liderança nacional, "é muito cedo
para falar nisso". Mesmo porque,
conforme a análise da professora
de filosofia da Unicamp Maria
Sylvia Carvalho Franco, sua eleição foi totalmente "conjuntural".
"Não se sabe direito que forças
ele lidera, a gente conhece pouca
coisa dele." Maria Sylvia acha que
Alckmin conquistou "o eleitor
conservador ou um pouco menos
que isso com sua correção e certa
suavidade". Mas "herdou o cargo
de um carismático, que era o Mário Covas, e não se sabe como vai
governar ou que alianças fará".
"Ele passa uma sensatez, mas
daí a dizer que vai ser uma liderança nacional há muito espaço.
Tem na mão um Estado poderoso, mas deverá ficar nos limites
estreitos de sua figura política."
O que, para ela, já não ocorreria
com Aécio Neves. "Esse tem tudo
para ser uma liderança nacional:
tem família, tem estrutura de poder, é um governador eleito no
primeiro turno. Acho que o Alckmin não toma o seu lugar."
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