São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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Êxito alcançado por Geraldo Alckmin em São Paulo leva o PSDB ao terceiro mandato consecutivo no principal Estado do país

Tucanos rumam para 12 anos de poder

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A vitória de Geraldo Alckmin em São Paulo é a realização mais próxima daquilo que foi preconizado por um dos ícones da era FHC, o então ministro Sérgio Motta, morto em 1998, para quem os tucanos deveriam ter um projeto de 20 anos de poder.
No plano federal, essa aspiração chegou ao segundo mandato de FHC; no principal Estado da Federação, vai para os 12 anos com a reeleição de Alckmin e a permanência do PSDB paulista no Palácio dos Bandeirantes, de onde comandará um orçamento anual de R$ 50 bilhões sob as vistas de 25 milhões de eleitores.
A continuação de um mesmo grupo político por três mandatos subsequentes é coisa inédita no Estado de São Paulo desde a redemocratização do país, pós-Estado Novo, em 1945. A situação mais próxima foi verificada no final dos anos 80 e começo dos 90, quando se sucederam no governo Franco Montoro (1983-1987), Orestes Quércia (1987-1991) e Luiz Antônio Fleury Filho (1991-1995). Eram todos do PMDB ao tempo de seus respectivos mandatos, mas os grupos de Quércia e Montoro não apenas "racharam" como este último foi um dos principais articuladores da criação, em junho de 1988, do PSDB.
Entre os fundadores do partido dos tucanos estava Mário Covas (1930-2001), que viria a se eleger governador em 95, em disputa também com o PMDB, dando início ao atual ciclo.
Na opinião do cientista político Rubens Figueiredo, 44, (organizador, ao lado de Bolívar Lamounier, da coletânea "A Era FHC"), a continuação tucana no comando do governo estadual é decorrência da conjugação da performance administrativa com características eleitorais peculiares.
"O Mário Covas foi eleito pela primeira vez vencendo o Francisco Rossi (então no PDT), um "outsider", numa eleição em que as principais forças políticas do Estado ficaram de fora. Fez uma administração que não foi bem avaliada, razoável, e foi para o segundo turno na reeleição por muito pouco. Acabou ganhando com o voto da rejeição a Maluf."
Quanto a Alckmin, diz ele, o ponto alto é a avaliação de seu governo, 56% de bom/ótimo, segundo o Datafolha. "Ele é agora, assim como Aécio Neves [governador eleito no primeiro turno em Minas", força emergente do PSDB para a tentativa de retomada do governo federal."
Essa também é a opinião de outro cientista político, o professor da Unicamp Leôncio Martins Rodrigues, 68. Para ele, o cenário ainda é muito incerto, não sendo possível prever como vai evoluir o quadro político nacional.
"Mas o PSDB é um partido que representa uma parcela importante da população e que está de momento enfraquecido. E São Paulo é um Estado muito forte, servirá como ponto de apoio para sua recuperação", disse.
Não apenas São Paulo, de acordo com Rodrigues, mas também Minas Gerais. "Aécio leva uma vantagem em relação a Alckmin, porque tem um tráfego mais nacional, é presidente da Câmara, tem mais diálogo com o PT."
Para Rodrigues, tanto Alckmin quanto Aécio "certamente serão bons trunfos" do PSDB para a Presidência em 2006.
Mas para o cientista político e presidente do Cebrap, Fernando Limongi, 44, esse tipo de previsão é precipitada. "Todos os prognósticos sobre quem saiu ganhando em eleições anteriores nunca deram certo", afirmou.
Segundo diz, há que se esperar as "inúmeras variáveis" que vão surgir ao longo do governo de Lula, bem como a performance que tanto Aécio como Alckmin terão em suas gestões.
Quanto ao governo de São Paulo, ele não acredita em hegemonia absoluta do PSDB. "O que há é a permanência do centro no poder. Este é o sexto mandato de um partido de centro. Em São Paulo, há três forças políticas bem distintas -esquerda, direita e centro- , cada uma respondendo por 25% a 30% do eleitorado. Toda eleição é disputada, nunca há favas contadas para nenhum grupo. A eleição de Covas não foi tranquila no primeiro mandato nem no segundo. Há muita competitividade."
Limongi lembra que a esquerda representada pelo PT nunca havia disputado um segundo turno para o governo estadual. "As performance de Genoino e do PT foram, portanto, muito boas."
Sobre Alckmin e uma possível liderança nacional, "é muito cedo para falar nisso". Mesmo porque, conforme a análise da professora de filosofia da Unicamp Maria Sylvia Carvalho Franco, sua eleição foi totalmente "conjuntural".
"Não se sabe direito que forças ele lidera, a gente conhece pouca coisa dele." Maria Sylvia acha que Alckmin conquistou "o eleitor conservador ou um pouco menos que isso com sua correção e certa suavidade". Mas "herdou o cargo de um carismático, que era o Mário Covas, e não se sabe como vai governar ou que alianças fará".
"Ele passa uma sensatez, mas daí a dizer que vai ser uma liderança nacional há muito espaço. Tem na mão um Estado poderoso, mas deverá ficar nos limites estreitos de sua figura política."
O que, para ela, já não ocorreria com Aécio Neves. "Esse tem tudo para ser uma liderança nacional: tem família, tem estrutura de poder, é um governador eleito no primeiro turno. Acho que o Alckmin não toma o seu lugar."


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