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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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OPINIÃO

O sucesso do Brasil

DO "FINANCIAL TIMES"

Num editorial publicado ontem, o jornal inglês "Financial Times" elogia a política monetária e fiscal do governo Lula, mas alerta que o presidente não pode relaxar em sua pressão "por reformas".
 
A estabilização da economia brasileira foi uma das maiores histórias de sucesso dos últimos 12 meses. Luiz Inácio Lula da Silva -o presidente que obteve uma arrasadora vitória eleitoral um ano atrás- conseguiu manter níveis de popularidade respeitáveis enquanto modificou radicalmente as noções dos investidores a respeito do Brasil.
Os mercados financeiros têm tido tamanho sucesso que o risco-país (medido pela margem de rendimento de seus títulos em relação aos do Tesouro americano) caiu nas últimas semanas para seu nível mais baixo em cinco anos.
Mas, embora essas conquistas sejam bem fundamentadas, a recuperação do Brasil continua vulnerável, especialmente a choques externos. Portanto, é vital que Lula continue pressionando por reformas que ajudarão a aumentar o investimento e o crescimento.
A rígida política monetária e fiscal trouxe como recompensa a queda constante da inflação. O investimento direto estrangeiro vem caindo, mas, em compensação, as exportações brasileiras têm aumentado rapidamente.
Ajudado pela demanda chinesa por minério de ferro, cobre e soja, o Brasil registrará um superávit comercial de mais de US$ 22 bilhões neste ano, e sua conta corrente estará no azul pela primeira vez desde 1993.
Na frente política, o presidente Lula ampliou sua base política, habilmente formando alianças no Congresso que lhe dão maioria operacional em ambas as Casas. A reforma fiscal mostrou-se difícil, mas ele está quase conseguindo uma reforma radical do sistema público de aposentadorias.
O problema, porém, é que a economia do Brasil ainda está relativamente estagnada. Houve indícios recentes de retomada da produção industrial, mas a produção em geral deverá aumentar apenas cerca de 0,5% neste ano. O desemprego subiu a quase 13%. O crescimento lento ajuda a explicar por que o peso da dívida pública do Brasil continua alto, em quase 60% do Produto Interno Bruto.
Até agora -talvez de modo surpreendente-, os eleitores continuam notadamente leais. Os índices de popularidade de Lula caíram, mas não muito, e as pesquisas mostram que os brasileiros estão preparados para dar a seu líder mais tempo para produzir uma muito necessária melhora dos padrões de vida. De certa maneira, o presidente conseguiu armar uma revolução para baixo nas expectativas.
Mas esse não é um processo que possa continuar indefinidamente. O governo espera que os recentes cortes das taxas de juros -a redução de um ponto percentual na semana passada fez as taxas no overnight caírem 19%- gradualmente alimentem o crescimento.
Mas Lula não deve descansar sobre seus louros. O governo precisa fazer mais para melhorar o clima empresarial. Por exemplo, deveria esclarecer sua abordagem da regulamentação do setor de serviços públicos, no qual a incerteza deprimiu os investimentos. Também é vital que o governo leve adiante a reforma da Previdência, para aliviar a pressão sobre as finanças públicas. Lula ganhou um tempo valioso, mas deve usar essa vantagem de modo eficaz.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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