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OPINIÃO
O sucesso do Brasil
DO "FINANCIAL TIMES"
Num editorial publicado ontem, o jornal inglês "Financial Times" elogia a política monetária e
fiscal do governo Lula, mas alerta
que o presidente não pode relaxar
em sua pressão "por reformas".
A estabilização da economia
brasileira foi uma das maiores
histórias de sucesso dos últimos
12 meses. Luiz Inácio Lula da Silva
-o presidente que obteve uma
arrasadora vitória eleitoral um
ano atrás- conseguiu manter níveis de popularidade respeitáveis
enquanto modificou radicalmente as noções dos investidores a
respeito do Brasil.
Os mercados financeiros têm tido tamanho sucesso que o risco-país (medido pela margem de
rendimento de seus títulos em relação aos do Tesouro americano)
caiu nas últimas semanas para seu
nível mais baixo em cinco anos.
Mas, embora essas conquistas
sejam bem fundamentadas, a recuperação do Brasil continua vulnerável, especialmente a choques
externos. Portanto, é vital que Lula continue pressionando por reformas que ajudarão a aumentar
o investimento e o crescimento.
A rígida política monetária e fiscal trouxe como recompensa a
queda constante da inflação. O investimento direto estrangeiro
vem caindo, mas, em compensação, as exportações brasileiras
têm aumentado rapidamente.
Ajudado pela demanda chinesa
por minério de ferro, cobre e soja,
o Brasil registrará um superávit
comercial de mais de US$ 22 bilhões neste ano, e sua conta corrente estará no azul pela primeira
vez desde 1993.
Na frente política, o presidente
Lula ampliou sua base política,
habilmente formando alianças no
Congresso que lhe dão maioria
operacional em ambas as Casas. A
reforma fiscal mostrou-se difícil,
mas ele está quase conseguindo
uma reforma radical do sistema
público de aposentadorias.
O problema, porém, é que a
economia do Brasil ainda está relativamente estagnada. Houve indícios recentes de retomada da
produção industrial, mas a produção em geral deverá aumentar
apenas cerca de 0,5% neste ano. O
desemprego subiu a quase 13%. O
crescimento lento ajuda a explicar
por que o peso da dívida pública
do Brasil continua alto, em quase
60% do Produto Interno Bruto.
Até agora -talvez de modo
surpreendente-, os eleitores
continuam notadamente leais. Os
índices de popularidade de Lula
caíram, mas não muito, e as pesquisas mostram que os brasileiros
estão preparados para dar a seu líder mais tempo para produzir
uma muito necessária melhora
dos padrões de vida. De certa maneira, o presidente conseguiu armar uma revolução para baixo
nas expectativas.
Mas esse não é um processo que
possa continuar indefinidamente.
O governo espera que os recentes
cortes das taxas de juros -a redução de um ponto percentual na
semana passada fez as taxas no
overnight caírem 19%- gradualmente alimentem o crescimento.
Mas Lula não deve descansar
sobre seus louros. O governo precisa fazer mais para melhorar o
clima empresarial. Por exemplo,
deveria esclarecer sua abordagem
da regulamentação do setor de
serviços públicos, no qual a incerteza deprimiu os investimentos.
Também é vital que o governo leve adiante a reforma da Previdência, para aliviar a pressão sobre as
finanças públicas. Lula ganhou
um tempo valioso, mas deve usar
essa vantagem de modo eficaz.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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