São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DE DIRCEU

Ex-ministro afirma que tem direito a ampla defesa e que o Conselho de Ética da Casa havia desrespeitado decisão do Supremo

Para Dirceu, STF fez "advertência" à Câmara

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA


O ex-ministro José Dirceu considerou a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) uma "advertência" para o Conselho de Ética da Câmara.
"A ansiedade por confirmar uma sentença que já estava anunciada antes mesmo da análise dos fatos denunciados tem levado o Conselho de Ética da Câmara a tomar decisões que desrespeitam as normas jurídicas. A pressa tem prejudicado a perfeição do processo", declarou, por meio de nota. Segundo ele, há "riscos institucionais de atropelos jurídicos".
O advogado do ex-ministro, José Luiz Oliveira Lima, afirmou que foi restabelecida a legalidade. "O conselho tinha cometido um ato da maior gravidade, desrespeitando uma decisão clara do Supremo", declarou.
Segundo Oliveira Lima, poderá ser encaminhada nova ação ao STF pedindo explicitamente a anulação da votação. Ao ter a certeza de que a votação no conselho iria seguir adiante apesar de seus protestos, ele despachou seu auxiliar Rodrigo Dall'Acqua para o Supremo. Dez minutos antes de proclamado o resultado no conselho, um embargo de declaração dava entrada no gabinete do ministro Eros Grau.
O ex-ministro não compareceu à sessão de ontem do conselho, sob orientação de seus advogados, para não legitimá-la.

Passado
A biografia do ex-ministro, ex-líder estudantil e ex-exilado José Dirceu, sempre evocada pelo deputado em sua defesa, foi ontem usada por membros do Conselho de Ética contra ele. A lógica: se Dirceu sempre ocupou posições de liderança, certamente saberia do esquema irregular de financiamento do PT.
"O que pesa contra Dirceu é sua biografia. Ele é um líder nato, inconteste. E, num passe de mágica, abdica disso e vem dizer que não sabia de nada?", disse Edmar Moreira (PFL-MG).
O mesmo raciocínio teve Cézar Schirmer (PMDB-RS): "Dirceu está pagando por seus erros e também por suas virtudes".
Discurso após discurso, os deputados cobriam o ex-ministro de loas a seu passado -para em seguida pedirem sua cassação.
"Não julgamos passado, julgamos fatos imediatos e recentes. É inegável o passado brilhante de José Dirceu, de construção do processo democrático. Mas ele perdeu sua história passada e construiu uma péssima história futura", afirmou Orlando Fantazzini (PSOL-SP), ex-petista.
Em seu duro relatório contra o ex-ministro, Júlio Delgado (PSB-MG) apontou uma espécie de metamorfose. "Aquele José Dirceu que era líder estudantil contra a ditadura militar, treinado pela inteligência cubana, que viveu clandestinamente no Brasil, não é mais o mesmo".

Expropriações
Nelson Trad (PMDB-MS) foi mordaz em suas referências. Primeiro, fez uma comparação dos assaltos a bancos realizados por grupos de esquerda durante o regime militar, que eram chamados de "expropriações", com o esquema de financiamento ilegal montado pelo PT.
"Naquele tempo, José Dirceu apoiava tais atos. Hoje, temos novas expropriações no Brasil, por homens de negócios, sentados em agências bancárias, para distribuir a parlamentares recursos necessários para concretizar seus projetos", afirmou Trad. Arrematou seu discurso com a seguinte tirada. "A alma política de José Dirceu merece uma temporada no inferno."
Chico Alencar (PSOL-RJ), outro ex-petista, lembrou uma das muitas coincidências da votação de ontem. "Há três anos chorávamos de alegria pela vitória do presidente Lula. E era o deputado José Dirceu o comandante dessa vitória", disse, em referência ao 27 de outubro de 2002.
Houve ainda quem notasse que Dirceu perdeu por 13 votos, no plenário 13, em resultado anunciado às 13h30 -13 é o número do PT. (FZ E SN)


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