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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DE DIRCEU
Ex-ministro afirma que tem direito a ampla defesa e que o Conselho de Ética da Casa havia desrespeitado decisão do Supremo
Para Dirceu, STF fez "advertência" à Câmara
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O ex-ministro José Dirceu considerou a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) uma "advertência" para o Conselho de Ética da Câmara.
"A ansiedade por confirmar
uma sentença que já estava anunciada antes mesmo da análise dos
fatos denunciados tem levado o
Conselho de Ética da Câmara a
tomar decisões que desrespeitam
as normas jurídicas. A pressa tem
prejudicado a perfeição do processo", declarou, por meio de nota. Segundo ele, há "riscos institucionais de atropelos jurídicos".
O advogado do ex-ministro, José Luiz Oliveira Lima, afirmou
que foi restabelecida a legalidade.
"O conselho tinha cometido um
ato da maior gravidade, desrespeitando uma decisão clara do
Supremo", declarou.
Segundo Oliveira Lima, poderá
ser encaminhada nova ação ao
STF pedindo explicitamente a
anulação da votação. Ao ter a certeza de que a votação no conselho
iria seguir adiante apesar de seus
protestos, ele despachou seu auxiliar Rodrigo Dall'Acqua para o
Supremo. Dez minutos antes de
proclamado o resultado no conselho, um embargo de declaração
dava entrada no gabinete do ministro Eros Grau.
O ex-ministro não compareceu
à sessão de ontem do conselho,
sob orientação de seus advogados, para não legitimá-la.
Passado
A biografia do ex-ministro, ex-líder estudantil e ex-exilado José
Dirceu, sempre evocada pelo deputado em sua defesa, foi ontem
usada por membros do Conselho
de Ética contra ele. A lógica: se
Dirceu sempre ocupou posições
de liderança, certamente saberia
do esquema irregular de financiamento do PT.
"O que pesa contra Dirceu é sua
biografia. Ele é um líder nato, inconteste. E, num passe de mágica,
abdica disso e vem dizer que não
sabia de nada?", disse Edmar Moreira (PFL-MG).
O mesmo raciocínio teve Cézar
Schirmer (PMDB-RS): "Dirceu
está pagando por seus erros e
também por suas virtudes".
Discurso após discurso, os deputados cobriam o ex-ministro de
loas a seu passado -para em seguida pedirem sua cassação.
"Não julgamos passado, julgamos fatos imediatos e recentes. É
inegável o passado brilhante de
José Dirceu, de construção do
processo democrático. Mas ele
perdeu sua história passada e
construiu uma péssima história
futura", afirmou Orlando Fantazzini (PSOL-SP), ex-petista.
Em seu duro relatório contra o
ex-ministro, Júlio Delgado (PSB-MG) apontou uma espécie de metamorfose. "Aquele José Dirceu
que era líder estudantil contra a
ditadura militar, treinado pela inteligência cubana, que viveu clandestinamente no Brasil, não é
mais o mesmo".
Expropriações
Nelson Trad (PMDB-MS) foi
mordaz em suas referências. Primeiro, fez uma comparação dos
assaltos a bancos realizados por
grupos de esquerda durante o regime militar, que eram chamados
de "expropriações", com o esquema de financiamento ilegal montado pelo PT.
"Naquele tempo, José Dirceu
apoiava tais atos. Hoje, temos novas expropriações no Brasil, por
homens de negócios, sentados em
agências bancárias, para distribuir a parlamentares recursos necessários para concretizar seus
projetos", afirmou Trad. Arrematou seu discurso com a seguinte
tirada. "A alma política de José
Dirceu merece uma temporada
no inferno."
Chico Alencar (PSOL-RJ), outro
ex-petista, lembrou uma das muitas coincidências da votação de
ontem. "Há três anos chorávamos
de alegria pela vitória do presidente Lula. E era o deputado José
Dirceu o comandante dessa vitória", disse, em referência ao 27 de
outubro de 2002.
Houve ainda quem notasse que
Dirceu perdeu por 13 votos, no
plenário 13, em resultado anunciado às 13h30 -13 é o número
do PT.
(FZ E SN)
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