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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DE DIRCEU
Ex-ministro perde por 13 a 1, mas Eros Grau ordena que parecer de relator seja refeito e relido
STF obriga conselho a votar de novo relatório contra Dirceu
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Conselho de Ética da Câmara
desafiou uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) e acabou forçado a anular votação
ocorrida ontem que aprovara relatório pedindo a cassação do
mandato do deputado José Dirceu (PT-SP).
O conselho havia aprovado no
início da tarde, por larga margem
de votos (13 a 1), o relatório do deputado Júlio Delgado (PSB-MG),
que recomendava a cassação de
Dirceu. O ex-ministro, porém,
conseguiu neutralizar a derrota
quatro horas depois recorrendo
ao novamente ao STF.
No final da tarde, em resposta a
uma ação dos advogados do petista, o ministro Eros Grau determinou a elaboração de um novo
relatório.
Depois de reclamar de interferência do STF no Legislativo, o
presidente do Conselho de Ética,
Ricardo Izar (PTB-SP), marcou
leitura do novo relatório e nova
votação para segunda-feira, mas
afirmou que não caberá novo pedido de "vista" pela deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), o que
pode resultar em nova batalha jurídica. Izar, que havia viajado para São Paulo no início da noite,
ainda tentava convocar, por telefone, membros do conselho para
uma sessão emergencial hoje.
O presidente da Câmara, Aldo
Rebelo (PC do B-SP), admitiu que
há o risco de também ser protelada para o final de novembro a votação da cassação de Dirceu no
plenário, programada para ocorrer no dia 9.
"Os fatos decorrentes da decisão do Supremo serão analisados
pelo Conselho de Ética. As providências adotadas terão implicação no calendário", disse Aldo.
O imbróglio tem origem em
uma liminar concedida por Grau
a Dirceu na última terça-feira, que
considera que uma série de provas utilizadas no relatório que pedia a cassação do ex-ministro foi
obtida de forma irregular.
Trata-se da transferência de sigilos bancários e telefônicos pedidos pelo conselho às CPIs dos
Correios e do Mensalão, que teria
sido feita sem fundamentação jurídica.
Delgado, com respaldo de Izar e
da maioria do conselho, decidiu
ontem simplesmente retirar do
relatório quatro parágrafos do parecer que mencionavam tais informações e fazer a votação.
A defesa protestou. "O Conselho está cometendo uma ilegalidade, desrespeitando uma decisão judicial. Isso é gravíssimo",
disse José Luiz Oliveira Lima, advogado de Dirceu.
Às 13h22, minutos antes de a
votação no conselho ser consumada, outro advogado de Dirceu,
Rodrigo Dall'Acqua, já dava entrada com embargo declaratório
(pedido de esclarecimento de
uma decisão) a Grau para que ele
deixasse mais clara sua decisão:
bastava a retirada dos parágrafos
ou seria necessário fazer um novo
relatório?
Pouco antes das 17h30 veio a
resposta: "A não convalidação do
relatório, isto é, a continuidade da
tramitação da representação sem
a produção de novo relatório, como determinado na decisão liminar, comprometerá a validade do
procedimento. [...] Em suma: o
relatório deve ser refeito", afirmou Grau.
Ao explicar a questão a um grupo de jornalistas, o ministro disse
que o processo não pode conter
"vícios" e afirmou que o rito de
cassação poderá ser anulado, futuramente, "se houver uma ação
nesse sentido".
Imediatamente após tomar conhecimento do despacho, Izar
marcou sessão para segunda-feira. "O conselho de Ética fez um
trabalho dentro das normas. Não
houve falhas. Eu estranho", disse.
Delgado protestou contra o que
viu como "interferência protelatória" do Supremo no Legislativo.
"A decisão será cumprida. Vou ler
o relatório, a votação será refeita e
vai dar o mesmo placar."
Voz solitária em defesa de Dirceu no conselho, a deputada Ângela Guadagnin tentou fazer um
pedido de vista -prazo para análise do texto- da nova versão, argumentando que, por ter sido
adaptado, se tratava de um novo
relatório. O pedido foi negado por
Izar, e, em seguida, referendado
pelo demais membros em votação simbólica.
Guadagnin apresentou seu voto
em separado, no qual afirmou
que "quem condena sem prova
falta com a ética". Também acusou o relator de "omitir informações importantíssimas, tomar como verdade acusações irresponsáveis e respaldar seu voto em testemunhos de desafetos".
A sessão do conselho durou três
horas e foi marcada por uma série
de discursos contra a conduta do
ex-chefe da Casa Civil. "A alma
política de José Dirceu merece
uma temporada no inferno", disse Nelson Trad (PMDB-MS).
Apesar de não citar especificamente a palavra "mensalão", o relatório conclui que Dirceu "tinha
poderes para ser o autor intelectual de todo o esquema". Diz também que sua cassação "se impõe
como meio de restaurar a dignidade e a credibilidade" da Câmara.
(SILVIO NAVARRO, FÁBIO ZANINI E SILVANA DE FREITAS)
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