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Para advogados, interferência do STF é legítima
DA REDAÇÃO
A intervenção do Judiciário sobre o Legislativo no caso específico do processo de cassação do
mandato de José Dirceu (PT-SP)
que corre na Câmara tem base
constitucional e, portanto, não
pode ser considerada abusiva.
Essa é a opinião de especialistas
ouvidos pela Folha, que entendem que não há problemas em relação a aspectos formais na decisão tomada pelo ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal) Eros
Grau. Na última terça, o ministro
concedeu liminar em favor de
Dirceu para que fossem retirados
dados obtidos na CPI dos Correios do relatório de processo
contra o deputado petista no
Conselho de Ética da Câmara.
Ontem, consultado pela defesa
de Dirceu, ele decidiu que o relator Júlio Delgado (PSB-MG) deve
produzir um novo relatório, anulando votação que pedia a cassação de Dirceu.
Segundo o professor de direito
constitucional da UnB (Universidade de Brasília) Márcio Iorio, o
STF tem poder para invalidar atos
inconstitucionais independentemente do Poder em que eles ocorram. Por isso, a decisão de Grau
não pode ser vista como interferência no Legislativo.
Iorio, vice-diretor da Faculdade
de Direito da UnB, diz que é tradicional o Judiciário interferir em
algum Poder afirmando que dados ilícitos não podem ser usados
em algum processo. "Esse [relatório contra Dirceu] é um caso de
erro formal do procedimento. Por
isso a interferência do STF."
O ex-ministro da Justiça e do
STF Célio Borja afirma que o STF
tem o dever de assegurar o cumprimento da Constituição, mesmo na Câmara. "Quando na Câmara viola-se uma regra constitucional, o prejudicado pode ir ao
Supremo. Haveria interferência
[do Judiciário no Legislativo] apenas caso a decisão se desse sem
fundamento na Constituição. Só
nessa hipótese se poderia falar em
interferência ilegítima", diz Borja.
José Afonso da Silva, advogado
constitucionalista e ex-secretário
de Segurança Pública de São Paulo, afirma que a decisão do ministro do STF, embora tecnicamente
correta, é "muito ruim politicamente". "O assunto é mais político do que técnico, jurídico. [Esse
tipo de decisão] vai politizando o
Supremo, que tem que ter muito
cuidado para não cair fora dos limites de sua competência."
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