São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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"MENSALÃO"/A HORA DE DIRCEU

Zeca Dirceu, que é acusado de improbidade administrativa praticada na Casa Civil quando seu pai era ministro, questiona "alarde" sobre assunto

Filho de Dirceu ataca atuação de procurador

EDUARDO SCOLESE
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acusado de improbidade administrativa pelo Ministério Público Federal, o prefeito de Cruzeiro D'Oeste (PR), Zeca Dirceu, filho do deputado federal José Dirceu (PT-SP), divulgou ontem nota na qual contesta a atuação do procurador Luciano Rolim no procedimento administrativo que identificou suposto uso da Casa Civil para ajudar com estrutura e pessoal sua candidatura à prefeitura. Zeca também questiona o "alarde criado em torno do assunto".
Hoje pela manhã, o procurador entrará com uma ação na Justiça Federal por suposta improbidade administrativa contra Zeca, o deputado federal e ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz. Relatório da procuradoria afirma que Dirceu, pai de Zeca, montou um esquema na Casa Civil para auxiliar o envio de recursos públicos a cidades do noroeste paranaense entre 2003 e o início de 2004.
Por conta do foro privilegiado de Dirceu em ações penais, Rolim encaminhará hoje à Procuradoria Geral da República todo o procedimento administrativo do caso. Segundo ele, há indícios de crimes de tráfico de influência e advocacia administrativa.
Ontem, em nota, o filho de José Dirceu atacou a imprensa, dizendo que as reportagens tentam "inexplicavelmente" relacionar os fatos ocorridos em 2003 (reuniões em Brasília e repasses de verbas) com "supostos benefícios" à sua candidatura. "Fica claro o objetivo político de relacionar os fatos à crise política nacional."
No texto, Zeca Dirceu afirma ser "muito estranho e questionável" a duração de dois anos das investigações, ataca o "vazamento" de informações à imprensa e diz que o procurador "não tinha competência legal" para investigá-lo e processá-lo.
Procurado pela reportagem, Rolim disse que não houve vazamento, que a investigação não foi protelada nem precipitada, e que a lei que trata de improbidade administrativa deixa claro que qualquer agente público está sujeito a sanções por tais práticas. "É meu dever prestar esclarecimentos à imprensa depois de ter concluído o relatório", disse o procurador.

Mercadante
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), também contestou ontem, na tribuna da Casa, a denúncia de Luciano Rolim.
Para Mercadante, as ações de Zeca Dirceu foram legítimas, pois ele exercia funções públicas. Ele foi chefe em Umuarama do escritório da secretaria de Trabalho do governo do Paraná. "Se ele não tivesse o sobrenome do pai, isso não seria tratado em nenhum lugar. Ele não pode ser perseguido pelo vínculo familiar."
O líder do governo ainda afirmou que a divulgação da denúncia na véspera do julgamento, pelo Conselho de Ética do pedido de cassação de José Dirceu atenta contra o Estado de Direito. Para ele, isso não estaria em consonância com o princípio de isenção investigativa. Mercadante fez um apelo para que o Conselho Nacional do Ministério Público analise o caso, assim como a imprensa.
Apesar de o senador ter subido à tribuna para defender Dirceu nesse episódio, a relação entre os dois não é boa. O ex-ministro o acusa, nos bastidores, de omissão na atual crise política e pretende atrapalhar os planos do senador de concorrer ao governo de São Paulo no próximo ano. (FK)


Leia manifesto em defesa de Dirceu na www.folha.com.br/053001

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