São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CASO CELSO DANIEL

Sérgio Gomes da Silva, Klinger Luiz de Oliveira e Ronan Maria Pinto serão confrontados

CPI convoca três para nova acareação sobre assassinato

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL


A CPI dos Bingos ampliou ontem a investigação do caso Santo André, e aprovou acareação entre Klinger Luiz de Oliveira (ex-vereador do PT e ex-secretário de Serviços de Santo André) e os empresários Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva (ex-segurança de Daniel, acusado de ser o mandante do assassinato).
Segundo o Ministério Público de Santo André, os três faziam parte de um esquema de corrupção na prefeitura. Eles negam. Segundo o Ministério Público de São Paulo, o prefeito petista de Santo André Celso Daniel foi assassinado, em 2002, ao tentar romper um sistema de corrupção montado por ele próprio para arrecadar dinheiro destinado a campanhas do PT.
João Francisco e Bruno Daniel, irmãos do prefeito, afirmam que existia a corrupção e que Gilberto Carvalho, à época secretário de Governo do município e hoje chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sabia do esquema. Eles afirmam que Carvalho chegou a dizer que levou, em R$ 1,2 milhão ao deputado José Dirceu, então presidente do PT.
Durante acareação anteontem com os irmãos de Daniel, Carvalho negou ter feito o relato e desmentiu o suposto esquema de corrupção na prefeitura.
Foram convocados ainda Ivone de Santana, ex-namorada de Celso Daniel, o deputado Jamil Murad (PC do B-SP) e Paulo Algarate Vasques, que trabalhou com o médico Carlos Delmonte Printes.
Printes, que morreu neste mês, afirmou que Daniel foi torturado após ser seqüestrado no dia 18 de janeiro de 2002, retirado de um carro dirigido por Gomes da Silva. O corpo foi localizado no dia 20. Segundo os irmãos, a tortura ocorreu para que o prefeito revelasse onde guardava um dossiê sobre o suposto esquema.
O requerimento da acareação entre Klinger, Maria Pinto e Gomes da Silva pede também a convocação de sete pessoas que estão presas em São Paulo, acusadas pelo crime. Para a Polícia Civil, o grupo teria atuado sozinho.
Mesmo aprovada a convocação dos presidiários, o presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse que a acareação ocorrerá apenas entre Klinger, Maria Pinto e Gomes Silva. Ele não adiantou a data.
Efraim Morais disse que as 42 fitas com escutas telefônicas ilegais, recebidas da Justiça Federal em São Paulo anteontem, estão lacradas na CPI. "Após a solicitação de senadores, vamos fazer a degravação e entregar cópias a eles."
As gravações ocorreram entre janeiro e março de 2002, após a morte de Celso Daniel. Petistas foram grampeados ilegalmente já que a Polícia Federal tinha autorização da Justiça apenas para ouvir traficantes de drogas.
Com as conversas, a CPI quer investigar se os petistas, liderados por Carvalho, teriam montado uma operação para abafar a investigação do assassinato, preservando o PT. O assessor de Lula negou e disse não ter medo das fitas, mas pediu que sejam apresentadas transcrições na íntegra.
O advogado Roberto Podval criticou ontem o fato de o assassinato de Celso Daniel ser discutido na CPI dos Bingos. Ele disse que ainda irá avaliar se seu cliente, o ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, comparecerá à acareação.
"É um caso jurídico que está sendo tratado politicamente. Não sei qual a razão para a CPI dos Bingos investigar a morte do prefeito. Toda essa exposição traz a opinião pública contra o meu cliente", afirmou Podval.
O promotor Roberto Wider Filho disse que a convocação é prematura, pois não existe contraditório entre os convocados. "Será como visitar uma cadeia pública onde todos dizem ser inocentes."
Wider criticou a atuação de Gilberto Carvalho na acareação. "Gilberto se defendeu com uma questão pessoal, a suposta filha de Daniel. O ex-prefeito não foi morto por conta disso."
Ronan Maria Pinto disse ontem rechaçar as declarações dos irmãos Daniel e afirmou que irá processá-los. (HUDSON CORRÊA E LILIAN CHRISTOFOLETTI)

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