São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Para cientistas políticos, faltou política na TV

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CAXAMBU (MG)

Na opinião da cientista política Fátima Anastasia, tanto neste como nos debates anteriores entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) faltou o ingrediente principal: política. "As pessoas perguntam e é como se tudo fosse responsabilidade pessoal. O que eu fiz ou que eu deixei de fazer", disse.
Segundo ela, "o próprio formato [do debate] deveria proporcionar que se abordasse a questão política propriamente. Depois da primeira resposta, era necessário perguntar: como vai fazer, com que recursos, com que hierarquia da ações?", afirma a professora do Departamento de Ciência Política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e uma das organizadoras do livro "Reforma Política no Brasil".
Já para a socióloga e historiadora Isabel Lustosa, foi a presença da platéia, mesmo "meio fake", que deu vantagem ao presidente Lula sobre Alckmin no debate da Rede Globo: "Lula precisa desse contato com uma platéia mais empática, ou pelo menos não hostil. Aí ele leva vantagem. Olha para as pessoas, mostra o grande comunicador que é", disse. "Nos outros debates, sem platéia ou com platéia de jornalistas, Lula só tinha Alckmin para olhar e não era o rosto mais receptivo do mundo", compara Lustosa.
A socióloga, alguns outros cientistas sociais e dezenas de estudantes que participam da reunião da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) lotaram um auditório para assistir o confronto ontem, em Caxambu (MG).

Repetição
Mais atenta aos trejeitos e aos muxoxos dos candidatos do que às palavras, a platéia -que parecia simpática ao presidente Lula (na simulação eleitoral feita pela Folha no encontro, Lula venceu Geraldo Alckmin com larga diferença)- gargalhava em alguns momentos.
"As respostas são as mesmas. É muito tedioso. São exatamente as mesmas respostas, os mesmos exemplos. A novidade fica por conta da arena, onde eles soltam os "leões" para se movimentar", diz Lustosa.
Num determinado momento do debate, Lula se aproxima de Alckmin. Chega ainda mais perto. A platéia acompanha com risinhos. A cientista política mineira Fátima Anastasia analisa o gesto: "Ele mostra domínio de cena. Mais à vontade, ele até pega em Alckmin, toca o braço. É engraçado", diz ela.
Lula também ganha no humor, afirma Isabel Lustosa. "Ele faz ironia, até mais do que nos outros debates, enquanto Alckmin permanece duro".


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