São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Lula será punido se houver provas, diz presidente do TSE

Marco Aurélio Mello ressalta, porém, presunção de inocência do presidente no caso da tentativa de compra de dossiê contra tucanos

Para ministro, aumento de teto de gastos na atual campanha é prova de que houve caixa dois na eleição passada para a Presidência


SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Marco Aurélio de Mello, disse ontem que, em um eventual processo que vise a cassação de um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tribunal não deixará de puni-lo se surgirem provas de abusos. Entretanto ele afirmou que o presidente terá direito à ampla defesa e gozará da presunção de inocência.
"Em se tratando de presidente da República, nós potencializamos a presunção de não-culpabilidade, já que o exemplo parte dele, ou pelo menos deve partir. Aguardemos. É claro que, como tem dito até mesmo Sua Excelência, todos estão submetidos à lei pátria, à ordem jurídica brasileira. E se houver culpa, aí se terão as conseqüências."
Marco Aurélio também afirmou que houve caixa dois em 2002 ao comentar o fato de que Lula e Geraldo Alckmin aumentaram o limite de gastos da campanha presidencial e fixaram um teto cerca de duas vezes maior que as despesas declaradas pelo petista e pelo então presidenciável do PSDB, José Serra, quatro anos atrás.
Naquele momento, a prestação de contas de Lula informou gastos de R$ 33,7 milhões e a de Serra, R$ 34,4 milhões, em valores da época. Agora, o presidente aumentou o seu limite de R$ 89 milhões para R$ 115 milhões e Alckmin, de R$ 85 milhões para R$ 95 milhões.
"Em 2002 houve recursos não contabilizados [não declarados na prestação de contas]. Já agora não, tendo em conta a quadra vivida, em que as mazelas não são mais escamoteadas. Até mesmo doadores que doavam por debaixo do pano, e aqui eu me refiro especificamente ao caixa dois, estiveram em 2006 mais espertos", disse.
A lei da minirreforma eleitoral, que entrou em vigor neste ano, proibiu outdoors e showmícios para baratear campanhas. "Podemos concluir que a campanha de 2002 foi menos custosa? A resposta é desenganadamente negativa."
O presidente do TSE disse que as pesquisas eleitorais influenciam a decisão do eleitor, lamentou esse fato e protestou contra o "voto útil", em que a escolha recairia sobre o candidato que detém a preferência geral. Ele sugeriu que os institutos revejam a metodologia, particularmente quanto à seleção dos locais de entrevista.
"Lastimavelmente temos que admitir que sim [sobre a influência das pesquisas]. Não deveriam influenciar. Não se deve buscar o voto útil, mas o voto consciente. O direito ao voto deve ser exercido segundo o convencimento formado em torno do perfil deste ou daquele candidato. Talvez seja um assunto para se questionar, para não se ter a consideração maior de certos redutos."
Ele aproveitou a entrevista coletiva concedida ontem à tarde para fazer um apelo aos eleitores para que votem de forma consciente, advertindo para o risco de se arrependerem.
"O momento é de conscientização, de escolher, na concepção de cada qual, o melhor representante para dirigir o Estado, o país, nos próximos quatro anos. Não há espaço para arrependimentos." O ministro defendeu a aprovação de uma reforma política em 2007 e voltou a criticar a reeleição, dizendo que há consenso sobre a necessidade de extingui-la.


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