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ELEIÇÕES 2006 / ESTADOS
"Neolulista", Geddel engorda PMDB no poder
Após passar anos criticando Lula, deputado se alia aos petistas e vê sua votação crescer de 150 mil para 287 mil votos
Cotado para ministro ou para presidente da Câmara, deputado, antes chamado de "viúva de FHC", voltará a integrar a base governista
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
No dia 1º de outubro, quando
se confirmou a vitória do petista Jaques Wagner sobre o pefelista Paulo Souto na Bahia, o
deputado Geddel Vieira Lima
(PMDB), um dos artífices da
surpreendente eleição, foi entrevistado por uma TV. "Como
tenho certeza de que o senador
Antonio Carlos Magalhães está
assistindo, quero me dirigir a
ele: "Durma com a lembrança
do meu rosto e saiba que o derrotei'", disse, tripudiando sobre
seu inimigo e principal líder
político do Estado nas últimas
décadas, que acabara de sofrer
uma derrota histórica.
Aos 47 anos, reeleito para o
quinto mandato com 287 mil
votos, Geddel fazia questão de
se firmar, ali, como o que pretende ser daqui para a frente: o
antípoda do carlismo. Sem falsa
modéstia, o deputado faz questão de dizer que foi fundamental na vitória de Wagner. O petista assina embaixo.
O caminho que levou um dos
expoentes do que o PT chamava de "viúvas de FHC" a se aliar
ao PT e a fazer discursos inflamados pró-Lula foi tortuoso e
teve como norte o combate ao
carlismo. Antes de selar seu
destino ao de Jaques Wagner,
Geddel tentou acordo com o
PSDB, que não avançou. Quando Geraldo Alckmin se aliou ao
PFL, viu que não haveria espaço para ele no palanque tucano.
O problema era: como se
aproximar do PT depois de passar quase quatro anos bombardeando Lula? O peemedebista
encomendou uma pesquisa
qualitativa para ver se era visto
antes como anti-Lula ou como
anti-ACM. Deu a segunda opção, disparado. Começou, então, a construir o discurso com
o qual justificaria a guinada.
No programa de TV do
PMDB, disse que as urnas, em
2002, o colocaram na oposição
a Lula, pois o partido havia
apoiado José Serra (PSDB). Pedia então licença para firmar
"um novo contrato" com o eleitorado, anunciando sua disposição de apoiar o PT local e nacionalmente. O resultado: viu
sua votação subir de 150 mil para 287 mil votos. "Os preços que
eu pago na minha vida são sempre por posições, nunca por
omissão. Quem votou em mim
sabia em que proposta estava
votando. E não deixei de dizer
que minha disposição era de
apoiar para que não se repetissem os erros do primeiro mandato de Lula", diz o deputado.
"Repaginado", Geddel voltará, agora, ao primeiro time da
articulação política, ao qual foi
alçado no governo FHC, paradoxalmente incentivado pelo
filho de ACM, o deputado Luís
Eduardo Magalhães, de quem
Geddel tem uma foto emoldurada na parede do gabinete.
A morte de Luís Eduardo
marcou o rompimento definitivo do deputado com o senador
e desencadeou uma feroz troca
de ofensas. Geddel foi chamado
por ACM de "agatunado". O cacique distribuiu denúncias sobre suposto enriquecimento
ilícito de Geddel e de familiares, tudo reunido num vídeo
("Geddel vai às compras").
Hoje, Geddel faz questão de
mostrar certidões da Receita de
que não houve enriquecimento
ilícito da família Vieira Lima.
Formado em administração,
acumulou patrimônio de R$
2,13 milhões, com bens como
dez fazendas, dois apartamentos, casa na praia e um avião.
Mesmo como um dos mais
ácidos críticos de Lula no início
do governo, Geddel teve êxito
na liberação de suas emendas:
dos R$ 2,55 milhões aprovados,
teve R$ 1,99 milhão pago.
A transmutação de oposicionista a lulista leva o deputado
ao centro do tabuleiro das especulações sobre um segundo
mandato de Lula. Seu nome
passou imediatamente a freqüentar listas como cotado para ministro e para a presidência
da Câmara. Experiente, ele tem
tentado submergir e não trata
publicamente de seu futuro.
Mesmo fugindo de bolas divididas, Geddel não se esquiva de
dizer que se considera "preparado e absolutamente maduro"
para ocupar a presidência da
Casa para a qual se elegeu pela
primeira vez em 1990: "Seria
uma honra". Mas tem um mantra: presidência da Câmara não
é algo que se postule. Diz a aliados que não repetiria uma
aventura como a do petista Virgílio Guimarães (MG) nem um
"vôo solo" como o que levou Severino Cavalcanti ao posto, para ser apeado meses depois.
Por ora, o campeão de votos
do PMDB na Câmara se ocupa
de tentar levar os antigos companheiros da oposição no partido, como Michel Temer (SP),
para o bloco dos governistas,
hoje francamente majoritário.
"O governo também tem de saber que para ter a unidade do
PMDB é preciso ampliar a interlocução no partido", diz.
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