São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / ESTADOS

"Neolulista", Geddel engorda PMDB no poder

Após passar anos criticando Lula, deputado se alia aos petistas e vê sua votação crescer de 150 mil para 287 mil votos

Cotado para ministro ou para presidente da Câmara, deputado, antes chamado de "viúva de FHC", voltará a integrar a base governista


VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

No dia 1º de outubro, quando se confirmou a vitória do petista Jaques Wagner sobre o pefelista Paulo Souto na Bahia, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), um dos artífices da surpreendente eleição, foi entrevistado por uma TV. "Como tenho certeza de que o senador Antonio Carlos Magalhães está assistindo, quero me dirigir a ele: "Durma com a lembrança do meu rosto e saiba que o derrotei'", disse, tripudiando sobre seu inimigo e principal líder político do Estado nas últimas décadas, que acabara de sofrer uma derrota histórica.
Aos 47 anos, reeleito para o quinto mandato com 287 mil votos, Geddel fazia questão de se firmar, ali, como o que pretende ser daqui para a frente: o antípoda do carlismo. Sem falsa modéstia, o deputado faz questão de dizer que foi fundamental na vitória de Wagner. O petista assina embaixo.
O caminho que levou um dos expoentes do que o PT chamava de "viúvas de FHC" a se aliar ao PT e a fazer discursos inflamados pró-Lula foi tortuoso e teve como norte o combate ao carlismo. Antes de selar seu destino ao de Jaques Wagner, Geddel tentou acordo com o PSDB, que não avançou. Quando Geraldo Alckmin se aliou ao PFL, viu que não haveria espaço para ele no palanque tucano.
O problema era: como se aproximar do PT depois de passar quase quatro anos bombardeando Lula? O peemedebista encomendou uma pesquisa qualitativa para ver se era visto antes como anti-Lula ou como anti-ACM. Deu a segunda opção, disparado. Começou, então, a construir o discurso com o qual justificaria a guinada.
No programa de TV do PMDB, disse que as urnas, em 2002, o colocaram na oposição a Lula, pois o partido havia apoiado José Serra (PSDB). Pedia então licença para firmar "um novo contrato" com o eleitorado, anunciando sua disposição de apoiar o PT local e nacionalmente. O resultado: viu sua votação subir de 150 mil para 287 mil votos. "Os preços que eu pago na minha vida são sempre por posições, nunca por omissão. Quem votou em mim sabia em que proposta estava votando. E não deixei de dizer que minha disposição era de apoiar para que não se repetissem os erros do primeiro mandato de Lula", diz o deputado.
"Repaginado", Geddel voltará, agora, ao primeiro time da articulação política, ao qual foi alçado no governo FHC, paradoxalmente incentivado pelo filho de ACM, o deputado Luís Eduardo Magalhães, de quem Geddel tem uma foto emoldurada na parede do gabinete.
A morte de Luís Eduardo marcou o rompimento definitivo do deputado com o senador e desencadeou uma feroz troca de ofensas. Geddel foi chamado por ACM de "agatunado". O cacique distribuiu denúncias sobre suposto enriquecimento ilícito de Geddel e de familiares, tudo reunido num vídeo ("Geddel vai às compras").
Hoje, Geddel faz questão de mostrar certidões da Receita de que não houve enriquecimento ilícito da família Vieira Lima. Formado em administração, acumulou patrimônio de R$ 2,13 milhões, com bens como dez fazendas, dois apartamentos, casa na praia e um avião.
Mesmo como um dos mais ácidos críticos de Lula no início do governo, Geddel teve êxito na liberação de suas emendas: dos R$ 2,55 milhões aprovados, teve R$ 1,99 milhão pago.
A transmutação de oposicionista a lulista leva o deputado ao centro do tabuleiro das especulações sobre um segundo mandato de Lula. Seu nome passou imediatamente a freqüentar listas como cotado para ministro e para a presidência da Câmara. Experiente, ele tem tentado submergir e não trata publicamente de seu futuro.
Mesmo fugindo de bolas divididas, Geddel não se esquiva de dizer que se considera "preparado e absolutamente maduro" para ocupar a presidência da Casa para a qual se elegeu pela primeira vez em 1990: "Seria uma honra". Mas tem um mantra: presidência da Câmara não é algo que se postule. Diz a aliados que não repetiria uma aventura como a do petista Virgílio Guimarães (MG) nem um "vôo solo" como o que levou Severino Cavalcanti ao posto, para ser apeado meses depois.
Por ora, o campeão de votos do PMDB na Câmara se ocupa de tentar levar os antigos companheiros da oposição no partido, como Michel Temer (SP), para o bloco dos governistas, hoje francamente majoritário. "O governo também tem de saber que para ter a unidade do PMDB é preciso ampliar a interlocução no partido", diz.


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