São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Falso padeiro mentiu sobre dinheiro para petista, diz PF

Depoente que havia dito ter entregue R$ 250 mil falsificou até a sua identidade

PF não se manifesta sobre motivação de Luiz Armando Silvestre Ramos, que se apresentou como Aguinaldo ao prestar falso testemunho


RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A POUSO ALEGRE (MG)

A pessoa que anteontem prestou um depoimento à Polícia Federal de Minas Gerais sobre o caso do dossiê mentiu ao dizer que entregou dinheiro ao petista Hamilton Lacerda, em São Paulo. O depoente falsificou até sua identidade: apresentou-se como Aguinaldo Henrique Delino, mas é na verdade Luiz Armando Silvestre Ramos. A polícia pediu sua prisão (leia texto nesta página).
O verdadeiro Aguinaldo Delino é um ex-funcionário de Ramos, morador de Cachoeira de Minas (MG), que perdeu os documentos há dois meses. Ele foi ouvido ontem por um promotor de Justiça, a pedido da PF, e contou ter dado queixa à polícia sobre o sumiço dos documentos. Disse ainda não saber o motivo pelo qual Ramos usou seu nome no falso depoimento.
"Na verdade [a suposta testemunha] não é Aguinaldo, ele se utiliza do nome de outra pessoa", disse o delegado federal Daniel Daher, que cuida do caso em Pouso Alegre (MG). A PF está à procura de Ramos desde o início da manhã de ontem.
No depoimento à polícia e num vídeo gravado pelo "Jornal do Estado", de Pouso Alegre, Ramos, apresentando-se como Aguinaldo, afirmou ter sido usado como "laranja" por Luiz Armando Silvestre Ramos -ele próprio, como se soube ontem. Segundo seu relato, ele teria participado da entrega de R$ 250 mil a Hamilton Lacerda, um dos investigados no caso do dossiê contra tucanos.
A Folha esteve na casa de Ramos (até então identificado como Aguinaldo) às 10h30 de ontem. Segundo sua mulher e sua mãe, ele deixou o imóvel, na periferia de Pouso Alegre, às 6h, a pé, dizendo que iria "prestar um depoimento". Ao ser perguntado sobre "Aguinaldo", a família confirmava o nome.
Uma hora depois, uma equipe da PF esteve na casa. Desde então, Ramos não foi encontrado pela polícia. A PF não havia divulgado, até o início da noite de ontem, os possíveis motivos que teriam levado Ramos a fraudar seu testemunho.
O dono do "Jornal do Estado", advogado e empresário da construção civil Sebastião Foch Kersul, 62, e o jornalista Fernando Lima, 28, que fizeram a gravação do vídeo, e a jornalista Rosy Pantaleão, dona do site TV Uai e secretária-geral do PSDB no município, negaram motivação política para a entrevista. "Fizemos a denúncia para a Polícia Federal e pedimos a presença deles para que apurassem o que estava acontecendo. Foi feito anteontem [terça-feira]", disse Foch.
Segundo o empresário, a pessoa que se apresentou como Aguinaldo foi à sede do jornal e disse que queria "fazer uma denúncia" porque temia por sua segurança. "Ele contou a história para nós e tomamos as devidas providências. Contratamos um advogado para ele e tudo mais, para que ele fosse protegido", disse Foch.
O empresário disse não ser filiado a partido. Foch e o jornalista foram ouvidos na noite de anteontem pela PF junto com Rosy Pantaleão. Ela afirmou que só enviou o vídeo, pela internet, para a PF de Mato Grosso, na última terça. "Como é que eu iria armar uma coisa dessas? A cidade inteira sabe que sou do PSDB, não escondi isso do delegado", disse Rosy.
O delegado Daniel Daher descartou a possibilidade de terem ocorrido saques na conta corrente de Luiz Armando Silvestre Ramos, o que desmontou seu depoimento, após receber, ontem pela manhã, informações extra-oficiais da agência do Bradesco na cidade.
Segundo o delegado, não foram feitas comunicações ao Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) sobre saques ou provisionamentos no mês de setembro.


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