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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Falso padeiro mentiu sobre dinheiro para petista, diz PF
Depoente que havia dito ter entregue R$ 250 mil falsificou até a sua identidade
PF não se manifesta sobre motivação de Luiz Armando Silvestre Ramos, que se apresentou como Aguinaldo ao prestar falso testemunho
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A POUSO ALEGRE (MG)
A pessoa que anteontem
prestou um depoimento à Polícia Federal de Minas Gerais sobre o caso do dossiê mentiu ao
dizer que entregou dinheiro ao
petista Hamilton Lacerda, em
São Paulo. O depoente falsificou até sua identidade: apresentou-se como Aguinaldo
Henrique Delino, mas é na verdade Luiz Armando Silvestre
Ramos. A polícia pediu sua prisão (leia texto nesta página).
O verdadeiro Aguinaldo Delino é um ex-funcionário de Ramos, morador de Cachoeira de
Minas (MG), que perdeu os documentos há dois meses. Ele foi
ouvido ontem por um promotor de Justiça, a pedido da PF, e
contou ter dado queixa à polícia
sobre o sumiço dos documentos. Disse ainda não saber o
motivo pelo qual Ramos usou
seu nome no falso depoimento.
"Na verdade [a suposta testemunha] não é Aguinaldo, ele se
utiliza do nome de outra pessoa", disse o delegado federal
Daniel Daher, que cuida do caso em Pouso Alegre (MG). A PF
está à procura de Ramos desde
o início da manhã de ontem.
No depoimento à polícia e
num vídeo gravado pelo "Jornal do Estado", de Pouso Alegre, Ramos, apresentando-se
como Aguinaldo, afirmou ter
sido usado como "laranja" por
Luiz Armando Silvestre Ramos
-ele próprio, como se soube
ontem. Segundo seu relato, ele
teria participado da entrega de
R$ 250 mil a Hamilton Lacerda, um dos investigados no caso
do dossiê contra tucanos.
A Folha esteve na casa de
Ramos (até então identificado
como Aguinaldo) às 10h30 de
ontem. Segundo sua mulher e
sua mãe, ele deixou o imóvel,
na periferia de Pouso Alegre, às
6h, a pé, dizendo que iria "prestar um depoimento". Ao ser
perguntado sobre "Aguinaldo",
a família confirmava o nome.
Uma hora depois, uma equipe da PF esteve na casa. Desde
então, Ramos não foi encontrado pela polícia. A PF não havia
divulgado, até o início da noite
de ontem, os possíveis motivos
que teriam levado Ramos a
fraudar seu testemunho.
O dono do "Jornal do Estado", advogado e empresário da
construção civil Sebastião
Foch Kersul, 62, e o jornalista
Fernando Lima, 28, que fizeram a gravação do vídeo, e a
jornalista Rosy Pantaleão, dona do site TV Uai e secretária-geral do PSDB no município,
negaram motivação política
para a entrevista. "Fizemos a
denúncia para a Polícia Federal
e pedimos a presença deles para que apurassem o que estava
acontecendo. Foi feito anteontem [terça-feira]", disse Foch.
Segundo o empresário, a pessoa que se apresentou como
Aguinaldo foi à sede do jornal e
disse que queria "fazer uma denúncia" porque temia por sua
segurança. "Ele contou a história para nós e tomamos as devidas providências. Contratamos
um advogado para ele e tudo
mais, para que ele fosse protegido", disse Foch.
O empresário disse não ser
filiado a partido. Foch e o jornalista foram ouvidos na noite
de anteontem pela PF junto
com Rosy Pantaleão. Ela afirmou que só enviou o vídeo, pela
internet, para a PF de Mato
Grosso, na última terça. "Como
é que eu iria armar uma coisa
dessas? A cidade inteira sabe
que sou do PSDB, não escondi
isso do delegado", disse Rosy.
O delegado Daniel Daher
descartou a possibilidade de terem ocorrido saques na conta
corrente de Luiz Armando Silvestre Ramos, o que desmontou seu depoimento, após receber, ontem pela manhã, informações extra-oficiais da agência do Bradesco na cidade.
Segundo o delegado, não foram feitas comunicações ao
Coaf (Conselho de Controle
das Atividades Financeiras) sobre saques ou provisionamentos no mês de setembro.
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