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NO LIMITE DA LEI
Ministro afirma que inteligência trabalha com informações que as pessoas ou organizações não querem disponibilizar
Ética absoluta inviabilizaria Abin, diz general
RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Jorge Armando Félix
(Segurança Institucional da Presidência) afirmou ontem no Congresso que o serviço de inteligência no Brasil não existiria caso o
governo federal raciocinasse tomando como base a "chamada
ética absoluta".
Segundo ele, isso ocorreria porque, nessa área, busca-se, entre
outras coisas, informações que
"os indivíduos ou as organizações
não querem disponibilizar".
"Se raciocinarmos com a chamada ética absoluta, não haverá
inteligência. A inteligência se propõe, entre outras coisas, a obter
um tipo de informação que os indivíduos ou as organizações não
querem disponibilizar", afirmou
o ministro, que tem sob seu comando a Abin (Agência Brasileira
de Inteligência).
"Como não existe a ética absoluta e existe a necessidade do serviço de inteligência, é preciso estabelecer limites a essa inteligência. Limites éticos, legais e individuais", acrescentou ele.
O ministro deu as declarações
como forma de estimular o debate acerca da pergunta sobre "como melhorar a capacidade de a
inteligência obter o conhecimento não-disponível".
A pergunta faz parte da consulta
à sociedade que a Abin está fazendo como forma de reformular sua
atuação na área da inteligência.
Para falar sobre o tema, o general Félix e o ministro Luiz Dulci
(Secretaria Geral da Presidência)
foram ontem à Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos
Deputados.
Consultas
No mês passado, os dois ministros convocaram a imprensa para
anunciar o ciclo de consultas à sociedade sobre a política de inteligência do governo.
Em suma, eles manifestaram na
ocasião a intenção de aumentar
os poderes da Abin.
As mudanças desejadas eram a
flexibilização das leis que limitam
a instalação de escutas telefônicas
e impedem ainda o acesso dos espiões a dados da Receita Federal
protegidos por sigilo.
Quando necessita grampear alguém, a Abin tem que recorrer à
Polícia Federal, que encaminha o
pedido à Justiça.
Dulci ressaltou em suas intervenções ontem a necessidade de
controle dos serviços da Abin por
parte da população.
Fiscalização
"Todas as sociedades democráticas contemporâneas têm algum
tipo de serviço de inteligência. É
importante que a sociedade civil
(...) esteja preparada e equipada
para acompanhar, fiscalizar e avaliar se as atividades estão sendo
exercidas de acordo com os princípios democráticos", afirmou o
ministro da Secretaria Geral da
Presidência.
Félix levantou ainda em sua fala
aos deputados a possibilidade de
a agência de inteligência atuar na
defesa de dados sigilosos de empresas privadas que "tenham importante papel estratégico".
"Queremos saber se é razoável
uma agência custeada com recursos públicos, estruturada para
atender ao governo e, mais que ao
governo, ao Estado, se preocupe
também com as empresas que,
embora privadas, tenham importante papel estratégico", disse
Dulci durante seu depoimento na
Câmara dos Deputados.
Petrobras e Embraer
O ministro citou como exemplos a Petrobras (que tem o governo como maior acionista), a Vale
do Rio Doce e a Embraer, as duas
privatizadas.
"A Embraer, por exemplo, é a
empresa que sofreu o maior número de tentativas de invasão por
usuários da internet. Isso demonstra o interesse que empresas
desse porte despertam", disse
Luiz Dulci.
Questionado posteriormente
pelos repórteres, Félix não quis
dizer se apóia a atuação da Abin
em empresas privadas, conforme
comentou o ministro Dulci no seminário realizado ontem no Congresso Nacional.
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