São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 2005

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TODA MÍDIA

NELSON DE SÁ

O cerco

O fim de semana foi de pressão, nas agências de notícia e jornais de economia, por avanço nas negociações de comércio.
O diretor da Organização Mundial de Comércio, francês Pascal Lamy, estava em toda parte lamentando o pouco que se andou até agora.
Não demorou e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, surgiu para abrir uma reunião multilateral pedindo concessões de todos.
Mas o negociador europeu, amigo de Blair, deu entrevista ao espanhol "El País" e criticou só o Brasil. Peter Mandelson disse, já no título, que "a oferta da UE [de redução nos subsídios] é a mais generosa jamais feita".
E cobrou "proposta séria do Brasil e do resto do G20" para a abertura de seus mercados "aos nossos manufaturados".
Nada de novo. Daí, talvez, os EUA terem apelado a Bono, o vocalista do U2.
Segundo reportagem do "Wall Street Journal", o representante comercial Rob Portman, dos EUA, fez reunião com Bono no "esforço para levar o cantor a ajudar num acordo".
O propósito é "pressionar a Europa a fazer cortes em tarifas agrícolas" e evitar "o colapso das negociações".
 
Mas talvez o mais marcante, da parte de Portman no "WSJ" e de Mandelson no "El País", seja que ambos saudaram os países "mais pobres", em oposição aos "pobres" Brasil e Índia, como "uma nova influência". São a nova aposta contra o G20, que tanto resiste.
E é a estratégia usada pelos mesmos EUA na América do Sul para vencer a resistência do Mercosul à Alca.
No hemisfério, não tem dado certo, como destacou o "Valor" no final da semana. Na ironia do blog de Sergio Leo, voltado ao comércio exterior, sob o título "O cerco ao Brasil furou":
- Você lembra de ter ouvido que o Brasil iria ficar isolado, porque recusou a Alca e os EUA decidiram sair à cata de acordos na vizinhança? Pois é, talvez não tenha visto o que saiu escondido nos jornais: acaba de fracassar retumbantemente a negociação para o acordo de livre comércio dos EUA com Colômbia, Peru e Equador.
E mais à frente:
- O que pegou? Os subsídios americanos à agricultura.
 
Do argentino "Clarín" ao site brasileiro "Vermelho", do PC do B de Aldo Rebelo, anuncia-se para a cúpula em Puerto Iguazu, depois de amanhã com Lula e Néstor Kirchner, dezenas de acordos "os mais variados" -até "cláusula para defender a indústria argentina".
Mas o Brasil não é o tema que ocupa Buenos Aires, por ora. No "La Nación", ontem, a notícia era que o presidente e seu ministro da economia "não se falam" desde que o segundo denunciou "manobras de corrupção em obras públicas".
Para "analistas políticos", sua "saída não provocaria crise". Soa familiar?

vermelho, ontem no "NYT"


ÀS VEZES
Direto de Brasília, Larry Rohter noticiou ontem no "New York Times" que "Chávez almeja programa de energia nuclear". Diz o correspondente que o presidente venezuelano "raramente causou tanto espanto quanto ao anunciar planos para um programa de energia nuclear com ajuda de Brasil e Argentina". Lá pelo meio do texto, "um funcionário do Departamento de Estado" pareceu discordar da avaliação:
- Estamos vigilantes, mas não preocupados. Chávez fala muitas coisas. Às vezes faz, às vezes, não.
 
Mais significativa, até para o Brasil, é a confirmação, noticiada ontem pelo "Financial Times", da compra de equipamento militar da Espanha por Chávez, "apesar da objeção americana". O ministro espanhol da Defesa vai hoje a Caracas para assinar o contrato que abrange aviões, barcos e armamentos diversos.

Em queda
Do blog de Josias de Souza na Folha Online, sobre a pesquisa Miséria em Queda, da FGV, a ser divulgada hoje:
- Os primeiros dados trazem mais uma boa notícia para Lula: a miséria atingiu o nível mais baixo desde o lançamento da nova PNAD em 92.
Para o coordenador da GV, "houve uma queda espetacular" na pobreza em 2004, movida por mais ocupação e "transferências focalizadas do Estado", além da "redução da desigualdade".

Sem resistência
O "Financial Times" acordou e saiu avisando que "a resistência da economia pode finalmente estar chegando ao fim" no país. Além dos juros e do real muito valorizado, "um dos acusados é o escândalo político".
E não faz diferença o "Miami Herald" sublinhar, como fez na edição de ontem, que, "após seis meses de investigação sobre o escândalo, principais denúncias seguem sem provas".

nelsondesa@folhasp.com.br

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