São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 2006

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Lula crê que Berzoini ocultou atuação na compra do dossiê

Presidente afastou deputado por achar que seu envolvimento era maior do que admitia

Em conversas reservadas, presidente reclamou que os envolvidos não lhe davam informações a respeito daquilo que tinham feito


Raimundo Pacco - 26.11.2006 / Folha Imagem
O deputado Ricardo Berzoini durante uma reunião do Diretório Nacional do PT, em São Paulo


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diferentemente do que disse publicamente, que afastara o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) da coordenação de sua campanha porque ele não esclarecera o dossiegate, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu tirá-lo do time eleitoral por avaliar que o então presidente do PT teve envolvimento com a compra de um dossiê contra o PSDB.
Publicamente, Lula sustenta que não soube da negociação com o chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antonio Vedoin. Chamou de "aloprados" os petistas que fizeram a "sandice inominável". A Polícia Federal, que investiga o caso, não coletou até o momento evidência da participação de Lula.
Como revelou a Folha no domingo, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal firmaram a convicção de que partiu de Berzoini a decisão de compra do dossiê. O deputado nega.
Em conversas reservadas à época, o presidente Lula disse que estava convencido de que Berzoini mentira ou omitira dados.

O escândalo
O dossiegate veio a público em 15 de setembro, uma sexta-feira, quando a Polícia Federal prendeu Valdebran Padilha e Gedimar Passos no hotel Ibis, em São Paulo, com cerca de R$ 1,7 milhão.
O ex-petista Valdebran representava Vedoin. O policial federal aposentado Gedimar, a campanha petista.
Ainda naquela sexta-feira, o presidente Lula ouviu do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, conselho para apurar rapidamente o caso até segunda-feira, sob pena de forte dano eleitoral.
O presidente, então, chamou Berzoini para uma conversa no Palácio do Alvorada no domingo, dia 17. Berzoini negou envolvimento na operação. Jurou que não sabia de nada.
Nos dias seguintes, a versão de Berzoini foi ruindo, na opinião de Lula. A imprensa tornou pública a participação de Osvaldo Bargas e Jorge Lorenzetti, então integrantes do "núcleo de inteligência" da campanha de Lula, e subordinados diretos de Berzoini.
Lula passou a acreditar que o envolvimento de Berzoini no caso era maior do que ele admitia e decidiu tirá-lo da coordenação da campanha, além de articular futura licença da presidência do PT.

Primeiras versões
Nas primeiras versões que o presidente deu à imprensa -nas entrevistas para o segundo turno-, o presidente disse que não cobrara explicações dos integrantes de sua campanha próximos a ele, como Berzoini, Bargas e Lorenzetti. O presidente argumentava que não cabia a ele o papel de investigador do caso.
No dia 16 de outubro, quando concedeu entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, Lula mudou a versão sobre Berzoini. Ele passou a dizer que o coordenador da campanha caíra porque não esclarecera o episódio.
"Chamei o presidente do partido e perguntei: "Eu quero saber. Quem fez essa burrice? Porque foi de uma sandice inominável. Ele me disse que não sabia. Eu falei: "Ricardo, você que é o presidente do PT tem obrigação de apresentar para a sociedade brasileira a resposta, Ricardo". Ele não deu [a resposta]. Na quarta-feira [20 de setembro], eu o afastei da coordenação da campanha", afirmou o presidente Lula na entrevista ao programa de TV.

Dupla traição
Em conversas reservadas durante a eleição, Lula reclamou que fora prejudicado por um ato de sua própria campanha e que os envolvidos não lhe davam informações a respeito do que fizeram. Sentiu-se traído duplamente.
Naquele momento, o dossiegate ainda não produzira dano eleitoral -o presidente continuava favorito a vencer no primeiro turno. Mas havia temor de que pudesse fazê-lo (o caso criou a onda política que levou ao segundo turno). Como Lula já não confiava mais em Berzoini, decidiu substituí-lo pelo assessor especial para assuntos internacionais Marco Aurélio Garcia, que viria a assumir também a presidência do PT.


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