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QUALIDADE DE VIDA
IDH alto esconde desigualdade, dizem especialistas
Dados indicam evolução gradativa, mas desempenho é visto como oportunidade para acelerar melhorias dos indicadores sociais
DA SUCURSAL DO RIO
Para especialistas consultados pela Folha, a linha que separa países de alto desenvolvimento humano (IDH igual ou
superior 0,800) é uma marca
arbitrária que oculta, no caso
brasileiro, a desigualdade.
O feito, no entanto, é uma
oportunidade para acelerar a
melhoria dos indicadores sociais caso o Brasil se compare
apenas com os países que pertencem ao grupo do qual agora
fazemos parte, com índices
muito melhores que os nossos.
Para o ex-presidente do IBGE no governo FHC Simon
Schwartzman, os dados indicam um processo de melhoria
gradativa e de longo prazo.
"Vão dizer que "nunca antes
na história deste país" o IDH
esteve tão alto e que, finalmente, entramos para os países de
"alto desenvolvimento", como
se fosse mais um trunfo do governo Lula. Na verdade, a linha
divisória entre o alto e o médio
desenvolvimento é arbitrária e
o Brasil, último da lista, tem à
frente vários países latino-americanos. É um resultado
medíocre, mas que será comemorado com grande fanfarra."
Kevin Watkins, diretor de
desenvolvimento do Pnud, diz
que a tendência de melhoria do
Brasil é contínua ao longo do
tempo, mas lembra que há países com PIB per capita menor
que o brasileiro e que possuem
resultados melhores em educação e saúde.
Como exemplo, ele cita o
Vietnã, país cujo PIB per capita
é bem menor do que o brasileiro (3.071 dólares, ante 8.402).
O país asiático, no entanto, tem
expectativa de vida de 73,7
anos (a do Brasil é de 71,7) e
90,3% de sua população adulta
está alfabetizada (enquanto no
Brasil, são 88,6%).
Flávio Comin, assessor do
Pnud, lembra também que o
IDH permite a comparação de
rankings de desenvolvimento
humano e do PIB per capita.
No caso brasileiro, o país está
três posições abaixo do que seu
PIB permitiria, relação inversa
a de outros países latino-americanos, como Cuba (43 posições acima), Uruguai (16 lugares), Chile (15), Argentina (nove) e México (sete).
"São países que deram mais
prioridade à dimensão social. O
Brasil já está fazendo o mesmo,
mas é preciso acelerar", diz o
assessor do Pnud.
Comin identificou no relatório cinco áreas em que o Brasil
está muito defasado em relação
aos demais países de alto desenvolvimento e que, por isso,
podem apressar, no futuro, a
melhoria do IDH: saneamento
básico, pobreza, mortalidade
infantil, mortalidade materna e
desigualdade.
Ele cita como exemplo o fato
de, entre os 20% mais pobres, a
mortalidade na infância ser de,
até cinco anos, 83 mortes por
1.000 nascidos vivos. Entre os
20% mais ricos, a relação é de
29 a cada 1.000.
"A mortalidade entre os mais
pobres ainda segue um padrão
africano. Nesse e em outros indicadores, ainda estamos muito distantes dos países de
maior desenvolvimento humano, mas o fato de estarmos agora simbolicamente nesse grupo
faz com que tenhamos obrigação de acelerar nosso progresso social", diz ele.
Na avaliação de Wanda Engel, ex-chefe da divisão de Desenvolvimento Social do Banco
Interamericano de Desenvolvimento e ex-secretária de Assistência Social do governo FHC,
é preciso continuar investindo
em políticas destinadas prioritariamente aos municípios
com menor IDH e à população
mais pobre.
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