São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

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QUALIDADE DE VIDA

Lula sugere taxação do petróleo, diz ser abençoado e elogia Bolsa Família

Representante da ONU afirma que liderança do presidente mostrou ser possível "conter o ciclo de injustiça"

Para petista, eventual tarifa sobre petróleo no mercado mundial incentivaria o uso do etanol brasileiro feito a partir da cana-de-açúcar

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em evento ontem de lançamento do relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), que neste ano enfoca as mudanças climáticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu a taxação do petróleo no mercado mundial como uma forma de incentivar o uso do etanol brasileiro produzido a partir da cana-de-açúcar.
A declaração do presidente é um recado direto aos Estados Unidos, importadores de petróleo e produtores do etanol a partir do milho, tipo de combustível que, segundo a ONU, não evita a emissão de gás carbônico ao longo do processo de plantio, colheita e produção.
"Vejam que absurdo: para que o Brasil exporte o seu etanol para algum país do mundo, tem uma sobretaxa enorme, quase dobrando o preço do nosso álcool. Entretanto o petróleo comprado dos países de petróleo não paga nenhuma taxa. Cadê o equilíbrio comercial? Cadê a vontade de despoluir o planeta? Cadê a vontade de diminuir a emissão de gases de efeito estufa? Poderia começar taxando o petróleo."
Lula disse que os EUA continuarão produzindo etanol a partir do milho porque "quem vota nos EUA são os produtores de milho". "Se depender de cada nação tomar as decisões a partir das suas necessidades internas, os EUA vão continuar produzindo etanol de milho, porque quem vota nos EUA são os produtores de milho, e por isso é importante subsidiar, em detrimento de outras coisas que podem produzir álcool com muito mais eficácia."
Kevin Watkins, redator principal do relatório do Pnud e defensor de um imposto para a emissão de gás carbônico, mostrou-se simpático à idéia de Lula. "O etanol baseado na cana-de-açúcar produzido no Brasil é mais barato, mais eficiente e tem um impacto maior na redução das emissões do que o etanol baseado no milho produzido nos Estados Unidos".
Antes de falar, Lula ouviu elogios de dois representantes do Pnud. O primeiro foi o próprio Kevin Watkins. "Levando em conta sua liderança nos últimos anos, acredito que testemunhamos um avanço extraordinário em muitas dimensões do desenvolvimento humano", disse Watkins, citando o Bolsa Família como exemplo. "Sob sua liderança, o Brasil mostrou que, sim, é possível conter o ciclo de injustiça e estabelecer um novo rumo de ações de desenvolvimento."
Os elogios a Lula prosseguiram com Kemal Dervis, administrador do Pnud. "O Brasil é uma exceção [diante do crescimento da desigualdade em outros países] e por isso gostaria de parabenizar o presidente Lula e o seu governo", afirmou.
O lançamento mundial do relatório ocorreu ontem no Brasil a convite do Palácio do Planalto, segundo as Nações Unidas. O evento, porém, foi esvaziado. Apenas um terço das 450 cadeiras disponíveis no Salão Nobre do Planalto estavam ocupadas -quatro delas pelos ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Altemir Gregolin (Pesca).
Em sua fala, Lula disse que gostaria de acompanhar como "ouvinte" o lançamento do relatório de 2012, para que assim possa receber em mãos os números completos de sua gestão (2003-2006 e 2007-2010).
"Eu já não estarei mais presidente da República do meu país porque o mandato termina no dia 31 de janeiro de 2010", disse, antes de completar: "Somos abençoados por Deus por governar o Brasil neste momento que estamos vivendo".
Embalado pelos elogios da ONU, Lula colocou o Bolsa Família no topo de um ranking pessoal de programas de transferência de renda. "Não sei se existe em algum outro lugar do mundo um programa de transferência de renda com a seriedade do Bolsa Família, sobretudo a seriedade no cadastro."


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