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QUALIDADE DE VIDA
Países pobres vão sofrer mais com clima; ricos terão de ajudar, diz ONU
Nações desenvolvidas têm que gastar para que IDH no mundo subdesenvolvido não caia ainda mais
Pnud quer um fundo de mitigação das mudanças climáticas, para que países do 3º Mundo migrem para modelo energético limpo
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
A mudança climática vai piorar significativamente a qualidade de vida nos países pobres,
e as nações ricas terão de colocar a mão no bolso para impedir que o gás carbônico que
emitiram durante seu desenvolvimento torne ainda mais
baixo o IDH no mundo subdesenvolvido. Essas são as principais conclusões do Relatório
Global de Desenvolvimento
Humano, lançado ontem.
"Estamos indo muito rapidamente em direção ao ponto em
que a nossa geração vai experimentar reversões em grande
escala no desenvolvimento humano", disse Kevin Watkins,
diretor e redator principal do
relatório, ontem em Brasília.
Para evitar que isso aconteça,
o Pnud (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento) quer criar um fundo de mitigação das mudanças climáticas, que mobilize os US$ 25 bilhões a US$ 50 bilhões necessários para que os países do Terceiro Mundo façam a transição
para um modelo energético
limpo. E também um fundo de
adaptação de nada menos que
US$ 86 bilhões até 2016, para
proteger as nações mais vulneráveis -como as da África.
O relatório pede ainda um
imposto sobre o carbono como
forma de desestimular as emissões e obter o que o PNUD considera a meta ideal -reduzi-las
em 80% até 2050.
Todos esses mecanismos
precisam ser embutidos no
acordo contra o aquecimento
que substituirá o Protocolo de
Kyoto após 2012. O novo tratado começa a ser negociado a
partir da próxima segunda-feira em Bali, Indonésia.
"O nosso foco é sobre a parte
mais pobre do mundo, de 2,6
bilhões de pessoas no mundo",
disse Watkins. Nessa porção do
planeta, os efeitos atuais e futuros da mudança climáticas (como secas e inundações intensas) estão transformando riscos em vulnerabilidades.
"A fonte desses riscos incrementais pode ser rastreada,
através da mudança climática,
até os padrões de consumo de
energia e escolhas políticas do
mundo rico", afirma o PNUD.
E a resposta a eles é também
desigual. Entre 2000 e 2004,
uma pessoa em 19 foi afetada
por desastres climáticos nos
países em desenvolvimento.
Nas nações ricas, a média foi de
uma pessoa em 1.500.
Enquanto os ricos lidam com
choques climáticos por meio de
seguros ou poupança, os pobres
são forçados a reduzir seu consumo, tirar os filhos da escola
ou vender suas terras. "Essas
são escolhas que limitam as capacidades humanas e reforçam
a desigualdade", diz o texto.
A solidariedade que os maiores causadores do problema teriam de ter com suas maiores
vítimas tem passado longe. Todos os fundos existentes hoje
para adaptação dos países mais
pobres ao clima receberam, somados, o equivalente ao que é
gasto em uma semana no programa de proteção contra enchentes no Reino Unido.
Para quem acha que um fundo de adaptação de US$ 86 bilhões é muita coisa, o PNUD
lembra que isso equivale a um
décimo do orçamento militar
dos países desenvolvidos, ou
0,2% de seu PIB. É um terço do
que foi prometido como ajuda
internacional na Eco-92.
Colaborou EDUARDO SCOLESE ,
da Sucursal de Brasília
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