São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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JANIO DE FREITAS

A missão


A Satiagraha orientou-se por uma espécie de sociedade de fundo religioso, fonte de seu caráter de missão justiceira

A MAIS RECENTE novidade da Operação Satiagraha não se refere a grampo telefônico, não é criminal, não é policial, nem envolve ministro querendo derrubar alguém para dominar o seu cargo. É mais simples do que estes componentes ainda muito obscuros, também não está desvendada de todo, mas não é mais inofensiva do qualquer deles. Ei-la: a condução da Satiagraha orientou-se por uma espécie de sociedade ou fraternidade de fundo religioso, presente nos três âmbitos coordenados para a operação -o policial, o do Ministério Público e o judicial.
Esse vínculo imaterial é a fonte do caráter de missão justiceira e saneadora da sociedade, sobre a qual o delegado Protógenes Queiroz fala com crescente desenvoltura e exaltação, a seu próprio respeito, e o juiz Fausto De Sanctis o faz à sua maneira, com mais comedimento formal, mas total clareza de sua convicção missioneira, inclusive pelo despojamento em relação à carreira no Judiciário. O que o delegado Protógenes Queiroz também faz, agora, com a recusa à oportunidade de passar à política, que lhe é oferecida pela notoriedade e pelo PSOL.
A Satiagraha não é a primeira operação cujas características foram influenciadas pelos propósitos e maneiras da fraternidade. Antes houve ao menos uma em grande escala: a operação que prendeu o banqueiro Edemar Cid Ferreira, do Banco Santos, manteve-o encarcerado por prazo incomum e tomou-lhe, entre outros bens, a estupenda coleção de arte, raridades e arqueologia. A propósito, o juiz De Sanctis determinou agora que as peças sejam expostas, por considerar que a coleção de arte é um bem público, não privado.
O delegado Protógenes Queiroz passou a ostentar na lapela, recentemente, uma imagem de santa.

No chão
A Agência Nacional de Aviação Civil, a exaustiva Anac, enfim oferece uma demonstração de iniciativa original na desordem do serviço aéreo brasileiro. Em vez de reunir-se previamente com as empresas aéreas, para conferir e ajustar os procedimentos que evitassem a bagunça irresponsável das vésperas do Natal, com os atrasos e cancelamentos de vôos, a Anac fez a convocação para conversarem no dia 26 sobre o ocorrido.
Note-se: a Anac está considerando atrasadas as partidas com mais de 30 minutos além do programado. O dobro dos 15 minutos usuais na aviação de passageiros. Nem assim.

Velho e novo
Agradeço muito aos que se deram o trabalho, no correr do ano, de ler textos desta coluna. Asseguro que nada quis induzir-lhes, mas apenas proporcionar, na medida do meu possível, elementos informativos e argumentos para confrontarem com sua própria opinião. A todos desejo em 2009 o verdadeiramente decisivo: bastante sorte.


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