São Paulo, quarta, 29 de janeiro de 1997.

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Mesmo depois de exonerado, Luiz Carlos Santos continuou a usar carro oficial e assessores do ministério
Ministro volta a ser deputado por um dia para votar a favor da reeleição

PAULO SILVA PINTO
da Sucursal de Brasília

O ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) foi exonerado ontem para reassumir seu mandato de deputado federal e votar a favor da emenda constitucional que permite a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Como deputado, Santos (PMDB-SP) continuou usando assessores do ministério e carro oficial, embora com discrição.
Em vez da placa de bronze, indicando o cargo de ministro, o Tempra preto que Santos usou ontem tinha uma placa comum (JDR-1831, de Brasília). O carro pertence ao Ministério Extraordinário de Assuntos Políticos.
Segundo a assessoria de Santos, ele foi à Câmara ainda como ministro, levando o ofício para reassumir o mandato. Depois, disse a assessoria, dispensou o carro.
Não é verdade. Às 14h, ele foi da Câmara ao seu apartamento na Asa Sul, bairro de Brasília, no Tempra oficial. Depois disso, voltou à Câmara e saiu de novo no mesmo carro.
`Momento histórico'
Santos disse que não reassumiu o mandato parlamentar por necessidade de votos favoráveis. "Eu quis participar deste momento histórico'', disse.
Mas seu suplente, Pedro Yves (PMDB-SP), que era indeciso, foi surpreendido com a perda repentina do mandato. ``Fizeram isso sem conversar'', disse.
Assessores do líder do PMDB, Michel Temer (SP), disseram que Yves não foi encontrado na noite de segunda-feira para explicar seu voto e por isso foi substituído.
Procurado por Pedro Yves, Santos disse que não pretende ficar na Câmara dos Deputados depois da votação do primeiro turno da votação da reeleição.
Santos começou o dia no Congresso com reuniões na liderança do governo na Câmara e depois na presidência da Casa.
Seu percurso no corredor foi interrompido duas vezes por conversas bem-humoradas com deputados petistas.
``Se mandaram você para cá, é porque está faltando voto. Acho que você não é o ministro extraordinário, é o ministro da emergência'', disse José Genoino (PT-SP).
``Que nada, eu vim para cá só para ter um dia de alegria. Pensei que você iria dizer que estava com saudades de mim'', respondeu Santos.
Trocas
Santos é o mais famosos dos três deputados que voltaram à Câmara para votar a favor da emenda.
Na segunda-feira, Ayrton Xerez (PSDB-RJ) foi exonerado de seu cargo de secretário de Habitação e Assuntos Fundiários do Estado do Rio de Janeiro.
Ocupou ontem o lugar de Laura Carneiro (PFL-RJ), que votaria a favor da reeleição, mas não pôde viajar a Brasília devido à sua gravidez de alto risco.
Júlio Redecker (PPB-RS) foi substituído em 13 de janeiro por um voto garantido a favor da reeleição: Telmo Kirst (PPB-RS), que deixou o cargo de secretário de Habitação do Rio Grande do Sul.
Um dos últimos atos de Luiz Carlos Santos no cargo de ministro foi tentar convencer o líder do PTB, Vicente Cascione (SP), a votar a favor da emenda.
A tentativa foi frustrada. Cascione reafirmou sua posição contrária à reeleição logo no início da conversa, anteontem à noite.
"Acho que o ministro se sentiu inibido e percebeu que nem adiantaria insistir no assunto'', disse.


Colaborou Marta Salomon, da Sucursal de Brasília

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