São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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NO AR

Em chamas

NELSON DE SÁ
EDITOR DE ILUSTRADA

Na semana passada, foi Inocêncio Oliveira quem presidiu a ausência de trabalhos na Câmara.
Ele disse aos telejornais que não devolvia o dinheiro e ponto, apesar da flagrante ausência de trabalho.
Arrostou outra vez a opinião pública -a mesma que não lembrou, então, que o líder do Congresso já foi denunciado por trabalho escravo em uma de suas fazendas.
Do trabalho escravo para a ausência de trabalho, nada aconteceu a Inocêncio. Como nada acontece regularmente, ao que parece, com quem recorre a "gatos" e demais eufemismos da escravidão.
E a escravidão prossegue. Já nem é notícia, tal a constância com que dezenas são achados e libertos regularmente -e nada mais acontece.
Ontem, aconteceu. No Jornal Nacional e no Jornal da Record, foi primeira manchete. Os enunciados soavam quase como sinopses do filme "Mississippi em Chamas" (88):
- Fiscais são assassinados em Minas. Investigavam denúncias de escravidão.
Mais à frente, no JN, ouviu-se o relato:
- O carro e os funcionários baleados foram encontrados na beira da estrada. O motorista ainda estava vivo e contou que eles foram parados por homens que pediram informações e que depois atiraram.
O vice José Alencar, mineiro, anunciou "força-tarefa". E lá se foram os ministros do Trabalho e dos Direitos Humanos para o norte de Minas.
As imagens do local, no JN, lembravam Mississippi há 40 anos. Antes dos direitos civis e da igualdade.
 
Minas é também o Estado de onde parte e para onde volta o amontoado de brasileiros que gostariam de ser americanos ou algo assim.
Segundo a triunfante Record, que gastou as últimas semanas usando o episódio para fazer a campanha de Marcelo Crivella a prefeito do Rio, foi "o vôo da liberdade".
Estava mais para "o vôo da vergonha".
Mas o âncora Boris Casoy não estava lá, no Jornal da Record, para evitar a vergonha que foi mais uma intervenção da Igreja Universal.
 
Minas escraviza e exporta gente, enquanto o modelo de marketing que é o Fome Zero ganha o mundo.
Segundo a Globo, "Lula vai defender em Genebra, na Suíça, a criação do fundo mundial de combate à fome".
Poderia ver se funciona aqui, primeiro.


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