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NO AR
Em chamas
NELSON DE SÁ
EDITOR DE ILUSTRADA
Na semana passada, foi
Inocêncio Oliveira quem
presidiu a ausência de trabalhos
na Câmara.
Ele disse aos telejornais que
não devolvia o dinheiro e ponto,
apesar da flagrante ausência de
trabalho.
Arrostou outra vez a opinião
pública -a mesma que não
lembrou, então, que o líder do
Congresso já foi denunciado por
trabalho escravo em uma de
suas fazendas.
Do trabalho escravo para a
ausência de trabalho, nada
aconteceu a Inocêncio. Como
nada acontece regularmente, ao
que parece, com quem recorre a
"gatos" e demais eufemismos da
escravidão.
E a escravidão prossegue. Já
nem é notícia, tal a constância
com que dezenas são achados e
libertos regularmente -e nada
mais acontece.
Ontem, aconteceu. No Jornal
Nacional e no Jornal da Record,
foi primeira manchete. Os
enunciados soavam quase como
sinopses do filme "Mississippi
em Chamas" (88):
- Fiscais são assassinados em
Minas. Investigavam denúncias
de escravidão.
Mais à frente, no JN, ouviu-se
o relato:
- O carro e os funcionários
baleados foram encontrados na
beira da estrada. O motorista
ainda estava vivo e contou que
eles foram parados por homens
que pediram informações e que
depois atiraram.
O vice José Alencar, mineiro,
anunciou "força-tarefa". E lá se
foram os ministros do Trabalho
e dos Direitos Humanos para o
norte de Minas.
As imagens do local, no JN,
lembravam Mississippi há 40
anos. Antes dos direitos civis e
da igualdade.
Minas é também o Estado de
onde parte e para onde volta o
amontoado de brasileiros que
gostariam de ser americanos ou
algo assim.
Segundo a triunfante Record,
que gastou as últimas semanas
usando o episódio para fazer a
campanha de Marcelo Crivella
a prefeito do Rio, foi "o vôo da
liberdade".
Estava mais para "o vôo da
vergonha".
Mas o âncora Boris Casoy não
estava lá, no Jornal da Record,
para evitar a vergonha que foi
mais uma intervenção da Igreja
Universal.
Minas escraviza e exporta
gente, enquanto o modelo de
marketing que é o Fome Zero
ganha o mundo.
Segundo a Globo, "Lula vai
defender em Genebra, na Suíça,
a criação do fundo mundial de
combate à fome".
Poderia ver se funciona aqui,
primeiro.
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