|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDÃO NO AR?
A quase um mês do fim, comissão poderia ter resposta para questões ainda não elucidadas, como saber se o PT recebeu dinheiro de conta no exterior
CPI abandona sete linhas de investigação
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após sete meses de trabalho, e a
pouco mais de um mês de seu final, a CPI dos Correios deixou de
seguir pelo menos sete linhas de
investigação que poderiam responder perguntas básicas do escândalo do "mensalão" e do caixa
dois do PT.
Segundo técnicos de órgãos de
combate à corrupção e do próprio
Senado, ouvidos ao longo dos
meses em que durou a CPI, medidas práticas, que estavam ao alcance dos parlamentares, poderiam afastar ou confirmar hipóteses sobre a origem do dinheiro do
"valerioduto" e a extensão do esquema no Congresso e clarear outros focos de denúncias de corrupção no setor público.
O presidente da CPI, Delcídio
Amaral (PT-MS), concordou com
quatro das sete lacunas apontadas
pela Folha, mas acredita que é
possível saná-las. "Vão avançar,
ainda dá tempo", disse o senador
(leia texto abaixo).
O término da CPI, inicialmente
previsto para abril, poderá ocorrer em março. O primeiro esboço
do relatório final já está sendo trabalhado por deputados.
Uma das principais medidas era
a quebra do sigilo de todas as movimentações dos bancos Rural e
BMG, de Minas. Foram atingidas
apenas contas, abertas nos bancos, de pessoas e empresas sob investigação, mas não as bases de
dados que registram as operações
das próprias instituições.
Os bancos emprestaram cerca
de R$ 55,9 milhões às empresas de
publicidade de Marcos Valério
Fernandes de Souza, que repassou o dinheiro ao PT. Ao quebrar
o sigilo dos bancos, a CPI poderia
saber se, nas datas desses repasses, ou próximas a elas, as instituições fizeram operações de internação de capital com empresas ou
outros bancos do exterior.
A confirmação desse tipo de
transação levantaria a hipótese de
que os recursos pudessem ser do
próprio PT, mantidos em alguma
conta não declarada no exterior.
Essa é uma tese importante, nunca confirmada, levantada pelo doleiro Antonio Oliveira Claramunt,
o Toninho da Barcelona, em depoimento à CPI dos Bingos.
Além disso, a quebra poderia
revelar se os bancos fizeram operações com bancos públicos -o
que poderia reafirmar a suspeita
de uso de recursos públicos nos
empréstimos ao PT.
A reação de Lula
Uma das perguntas que a CPI
dos Correios corre o risco de não
responder é se o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sabia ou não
da existência do esquema de
cooptação de parlamentares no
Congresso Nacional em troca de
dinheiro.
Publicamente, dois políticos revelaram ter alertado o presidente
antes do escândalo começar, em
junho do ano passado: o governador Marconi Perillo (PSDB-GO),
em maio de 2004, e o ex-deputado
Roberto Jefferson (PTB-RJ), no
início de 2005.
Saber se Lula conhecia a existência do "mensalão" antes das
denúncias se tornarem públicas é
essencial para se saber se o presidente, cometeu, em tese, o crime
de prevaricação (deixar de cometer ato de ofício).
O relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), alegou, em entrevista concedida à reportagem
há 20 dias, que as CPIs são impedidas por lei de interrogar o presidente da República. Porém uma
medida simples, como indagar
por ofício o Palácio do Planalto
sobre a existência de tais reuniões,
também não foi adotada.
Um terceiro ponto levantado
pelos especialistas em lavagem de
dinheiro foi a decisão da CPI de
não quebrar os sigilos bancários,
telefônico e fiscal dos deputados
acusados de receber o "mensalão". Na entrevista concedida na
última sexta-feira à reportagem, o
senador Delcídio Amaral disse
que houve "um acordo" pelo qual
essa medida seria tomada pela
CPI do Mensalão.
O relator daquela comissão,
Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), alegou desconhecer tal acordo.
Questionado sobre a razão pela
qual não procurou, com a quebra
do sigilo, confirmar a hipótese de
os deputados terem ficado com os
recursos -e não tê-los repassado
a campanhas eleitorais, como alegam-, o deputado assumiu que
a escolha foi sua. "Julguei satisfatória a prova produzida", afirmou
Ibrahim Abi-Ackel.
Assessores
Ainda na linha de apurar a extensão do esquema do "mensalão" dentro do Congresso, a CPI
dos Correios até agora não obteve
oficialmente as listas dos assessores dos deputados federais e senadores. A reportagem apurou que
pedido nesse sentido não foi enviado pela comissão às direções
do Senado e da Câmara.
Em julho, o PFL chegou a fazer
pedido semelhante à Câmara,
mas acabou arquivado por decisão do então presidente, Severino
Cavalcanti (PP-PE).
Há indicações de que uma lista
extra-oficial chegou à CPI e passou a ser comparada com a base
de dados das movimentações financeiras do publicitário Marcos
Valério e suas empresas. Porém o
resultado desse cruzamento poderá ser questionado legalmente,
já que essas listas de servidores
não são oficiais.
Outras três medidas que deixaram de ser tomadas não têm relação direta com o caixa dois do PT
e o "mensalão" criado sob orientação do ex-tesoureiro do partido
Delúbio Soares, mas poderiam
elucidar denúncias que surgiram
ao longo das investigações.
A CPI deixou de investigar a
Usiminas, uma das maiores siderúrgicas do país e fonte declarada
do "valerioduto", a rede de lojas
franqueadas dos Correios, alvo de
denúncias e relatórios críticos da
CGU (Controladoria Geral da
União) e até agora não tomou o
depoimento do lobista Nilton
Monteiro, responsável por revelar
a existência do caixa dois do
PSDB de Minas Gerais.
O lobista afirmou, em depoimento à Polícia Federal, ter conhecimento da origem do documento, supostamente assinado
pelo ex-diretor da estatal Furnas
Dimas Toledo (o que ele nega),
que revela um milionário caixa
dois na estatal de energia elétrica.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Saiba mais: CPI não ouviu testemunhas importantes Índice
|