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ELIO GASPARI
Grande notícia: a desigualdade murchou
É possível que esta seja
uma das boas notícias dos
últimos 30 anos e vem pela voz
de quem entende do assunto, o
economista Marcelo Medeiros,
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea: "Desde
2001 a desigualdade social brasileira entrou num declínio sistemático e vigoroso. O declínio da
desigualdade veio junto com
uma redução da pobreza. É um
fato inédito no Brasil, sem paralelo no mundo de hoje".
Aos fatos, e aos números: uma
família de quatro pessoas que em
2001 vivia com até R$ 209 mensais (em dinheiro de hoje) viveu
em 2004 com R$ 239. Teve um
aumento real de 14% na sua renda. É o piso do andar de baixo,
onde estão 18 milhões de brasileiros, os tais "10% mais pobres". É
verdade que nesse período a renda média das famílias caiu 2,5%,
mas para os mais pobres a queda
foi suave. O índice de Gini, sinalizador internacional de desigualdades sociais, caiu sucessivamente de 0,597 em 2002, até
0,574 em 2004. Entre 2003 e 2004,
a queda foi de 5%, coisa jamais
vista no Brasil. Isso aconteceu
numa época em que o mundo
passa por um surto de desigualdade. No México e na Índia, por
exemplo, a diferença aumentou.
A mudança da situação social
brasileira deriva principalmente
de dois fatores: o aumento dos
postos de trabalho para os mais
pobres (ou o aumento dos postos
com salários muito baixos) e o
efeito dos benefícios dos programas de transferência de renda,
ou atrelados ao salário mínimo.
O sacrossanto salário mínimo
cresce sistematicamente, em valores reais, desde 1999.
A ruína da ekipekonômica tucano-petista derrubou a renda
de ricos e pobres, mas os pobres
perderam menos. Ademais, a expansão do mercado de trabalho
com carteira assinada indica
uma moderação da selvageria
patronal. É possível que tenha
ocorrido um aumento da massa
de trabalhadores pobres, beneficiados pela melhoria do nível
educacional que já dura mais de
12 anos. As relações entre o mercado de trabalho e a melhoria da
renda dos brasileiros mais pobres ainda não estão devidamente mapeadas.
As mudanças ocorridas entre
2001 e 2004 são mais visíveis nos
extremos da sociedade. A distância entre os dois andares diminuiu, mas nessa história não teve
Robin Hood, pois ninguém tirou
dinheiro do rico para dar ao pobre. Mesmo assim, a turma de cima perdeu bastante.
Na camada dos 1% mais ricos
(1,8 milhão de almas), uma família de quatro pessoas tinha
renda de R$ 23.860 mensais em
2001. Ficou com R$ 21.520 em
2004. Perdeu 11%. O grupo dos
10% das famílias que
ganhava acima de R$ 3.585
mensais caiu para
R$ 3.409, um tombo de pelo menos 5%.
Papai Noel criou 2.558 cargos públicos
Com uma canetada natalina,
Lula criou 2.558 novos cargos no
serviço público. Esse número
equivale à metade da ruína do
desemprego no comércio de São
Paulo num mês de resultados medíocres.
Tudo carne de primeira. Quatrocentos cargos só no contrafilé
do Itamaraty. O quadro de diplomatas, que tinha 987 servidores,
ficou com 1.387, um acréscimo de
40%. Quando um presidente tem
um chanceler que, durante uma
solenidade oficial, o chama de
"nosso guia", dá nisso.
A maior beneficiada pelo Natal-Companheiro foi a Fiocruz,
com mil novos cargos. Soa esquisito que só 150 sejam de pesquisadores. Os demais vão para tecnologistas, analistas e técnicos. O
Instituto Nacional da Propriedade Industrial, INPI, levou 440 e o
Inmetro, 580.
No mundo dos DAS e de outros
cargos em comissão abriram-se
161 vagas.
A banca e Serra
O Banco Votorantim, onde
brilha a caneta do empresário
Antônio Ermírio de Moraes,
produziu uma análise da situação política. Disseca os
candidatos a presidente da
República e, entre os seis
"pontos vulneráveis" de José
Serra, diz o seguinte: "Incerteza sobre ações de eventual governo (passado de esquerda),
voluntarioso, independente e
com discurso desenvolvimentista".
Desde que os florentinos
criaram as casas de crédito, é a
primeira vez que um banco
tem coragem de dizer que independência é vulnerabilidade. Se o doutor Antônio Ermírio sair pelo país dizendo
isso, Serra está eleito.
A caixa de Duda
Os investigadores das malfeitorias do marqueteiro Duda
(Dusseldorf) Mendonça conseguiram a narrativa de um
candidato que tentou contratá-lo para cuidar de sua campanha eleitoral. Foi informado de que o serviço só seria
aceito se a maior parte do pagamento circulasse pelo caixa
dois.
Essa informação desmente
a lorota segundo a qual ele
operava na ilegalidade porque era pressionado pelos
clientes.
Mudou o mundo
Lula não foi à reunião do andar de cima do Fórum de Davos nem à do andar de baixo,
em Caracas. Em janeiro de
2003, na primeira declaração
megalomaníaca de sua Presidência, disse o seguinte: "A
sociologia não previa que um
ser humano pudesse, ao mesmo tempo, ser respeitado
num encontro em Porto Alegre e em Davos". Talvez alguém já tenha explicado ao
companheiro a diferença entre astrologia e sociologia. De
qualquer forma, astrólogos e
sociólogos jamais acharam
que ele faltasse aos dois.
Opus magna
De uma senhora que viu todas as modas nos quatro cantos do mundo: "Opus Dei?
Estou fora. Sou da opus
night".
Barba de molho
Duas pessoas levaram a Lula
notícias do desconforto em
que estaria o ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares. A exposição a que foi submetido levou-o a evitar aparições públicas. Nos dois casos, "nosso
guia" lastimou a situação,
mas comentou que, se Delúbio cortar a barba, poderá ir
aonde quiser.
Triângulo do veneno
O ex-senador Sérgio Machado, presidente da Transpetro
(dona de encomendas para
26 navios), encrencou-se
com três elementos inofensivos que, juntos, se transformam em veneno: político,
banco estatal e fundo de pensão. Em 1995, uma empresa
cearense da qual era sócio
majoritário e fiador formou
uma sociedade para lançar
debêntures no mercado. O
papel agradou aos diretores
do fundo de pensão do Banco
do Nordeste, que agasalhou
58% da emissão. Micaram.
O papelório transformou-se numa briga que já gerou
quatro ações judiciais. Em
1999, a mesma empresa de
Machado tomou um empréstimo de US$ 1 milhão no Banco do Nordeste. Meses depois, ele saiu da sociedade.
Para seu infortúnio, a dívida
que assumiu como fiador
não foi quitada. Os devedores
brigam na Justiça. Está decidido que o valor da dívida será estabelecido por arbitragem e há uma audiência preliminar marcada para o dia 5
de abril.
Ciúme
Há uma carga de eletricidade
no ar do Planalto contra o
ministro Antonio Palocci. Ele
estaria conversando demais
com grão-tucanos.
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