São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Das doações aos cortes


Vendas de veículos vão bem, mas empregos e salários vão como a Saúde, a Educação e a Ciência: com cortes

NADA JUSTIFICA os cortes programados nas dotações orçamentárias da Saúde, da Educação e da Ciência, respectivamente de 4,1%, 5,3% e 4,1%, quando se sabe que as três previsões originais eram já insuficientes e que é nenhuma a contribuição destas reduções para combater os efeitos da crise.
Os cortes perfazem R$ 2,98 bilhões, com R$ 2 bilhões retirados da Saúde, R$ 800 milhões da Educação e R$ 180 milhões de Ciência e Tecnologia. Além de outras razões óbvias, que sentido podem ter os cortes em tais ministérios no país que, já explodida a crise, despachou caixeiros-viajantes para a compra de armas no exterior e, agora mesmo, fechou com o visitante presidente Nicolas Sarkozy compras militares de US$ 30 bilhões a US$ 40 bilhões?
Os quase R$ 3 bilhões cortados ao mais essencial conduzem à comparação com outra atitude financeira do governo. Logo em seguida ao setembro que foi o ápice do pânico com as implosões financeiras nos Estados Unidos, o governo Lula favoreceu a indústria automobilística com R$ 4 bilhões, em deduções fiscais a título de fortalecê-la na crise. O governo Serra concedeu, pelo mesmo modo, mais R$ 2 bilhões.
Até aquele setembro, a remessa de lucros da indústria automobilística para as matrizes foi de US$ 4,8 bilhões.
As vendas de veículos vão bem, mas os empregos e os salários vão como a Saúde, a Educação e Ciência e Tecnologia: com cortes.

Concentração
A existência de uma Guantánamo ainda pior no Afeganistão, criada pela CIA e pelos militares dos Estados Unidos, causa pasmo em americanos e europeus. Esperemos agora que apareça entre os problemas de Obama a prisão escondida na Tailândia, em uma restaurada base de interrogatório e tortura montada pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. A existência dessa terceira Guantánamo está citada em documentos da CIA há pouco submetidos à lei de quebra de sigilo. Mas com discreta exposição pública.

Embuste
As previsões catastróficas do FMI para este ano são importantes como notícia, mas não como previsões. Servem para aumentar a agitação, sem qualquer outro efeito. O FMI nunca acertou uma.

Raridade
A entrevista de Barack Obama dirigida ao mundo muçulmano, por intermédio da TV-Al Arabiya, foi, creio, o seu momento mais inovador. Pelo sentido de tudo o que disse e pela maneira como disse, quem estava ali era um ser que há muito tempo não existe no poder: uma pessoa.


Texto Anterior: Adversários se unem em bloco de apoio a Temer
Próximo Texto: Itália aposta no STF para extraditar Battisti
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.