São Paulo, sexta, 29 de janeiro de 1999

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CASO CECI CUNHA
Deputados vêem indício de envolvimento de Talvane Albuquerque
Comissão aprova cassação de deputado acusado de crime

DENISE MADUEÑO
da Sucursal de Brasília

A comissão de sindicância da Câmara, que aprovou ontem o pedido de cassação do deputado Talvane Albuquerque (sem partido-AL), apresentou supostos indícios do envolvimento do parlamentar na morte da deputada Ceci Cunha (PSDB-AL), assassinada em 16 de dezembro do ano passado.
A comissão acredita ter obtido o que a Polícia Civil de Alagoas e a Polícia Federal ainda não conseguiram. A comissão identificou supostas contradições nos depoimentos dos assessores do deputado, Jadielson Barbosa da Silva, Alécio Alves e José Bezerra Júnior.
"O deputado Talvane (Albuquerque) tem participação no episódio", disse o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). "Há indícios fortes de que os assessores estão envolvidos", completou o relator da comissão, deputado Robson Tuma (PFL-SP). Ao ser indagado pela Folha sobre as conclusões da comissão, o deputado disse apenas: "Nada a declarar".
O novo delegado responsável pelo inquérito, Paulo Brás, da Polícia Civil de Alagoas, pediu um encontro com Tuma. Ele estava ontem em Brasília para tomar o depoimento de Barbosa da Silva e Alves, presos na Superintendência da Polícia Federal.
No entendimento de deputados da comissão, a história se resume da seguinte maneira: Albuquerque teria procurado o pistoleiro Maurício Guedes Novaes, o "Chapéu de Couro", para matar o deputado Augusto Farias (PFL-AL) por R$ 200 mil. Como o deputado teria adiantado apenas R$ 500 e não a parcela de R$ 50 mil acertada, o pistoleiro procurou Farias para vender a informação.
Ainda segundo os deputados, após o crime, os assessores teriam ido para Arapiraca, onde enterraram os coletes à prova de bala usados na morte da deputada. Depois teriam fugido para Brasília em companhia de Albuquerque.
No depoimento à comissão, Barbosa da Silva contou que comprou dois coletes à prova de bala, enterrou-os e, posteriormente, quando estava foragido, pediu para um parente desenterrá-los e destruí-los.
Segundo os parlamentares, os assessores do deputado foram contraditórios ao tentar explicar o que fizeram entre 18h e 20h30 no dia da morte de Ceci Cunha.
Para acusar Albuquerque de falta de decoro, a comissão levou em conta o que considera uma relação promíscua entre o deputado e o pistoleiro, a compra de coletes à prova de balas de contrabandista e a ajuda na fuga dos assessores com prisão preventiva decretada.
"É certo que ele (Albuquerque) se relacionou promiscuamente com criminosos para a prática de crime. O deputado Augusto Farias era a primeira vítima", disse Greenhalgh. A Mesa da Câmara deve enviar o pedido de cassação à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) em fevereiro, depois da posse do novo Congresso.
A comissão desistiu de pedir punição de Farias, apesar de considerar que o parlamentar errou ao ter denunciado Albuquerque de querer matá-lo apenas depois da morte de Ceci Cunha.



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