São Paulo, sexta, 29 de janeiro de 1999

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FIM DE MANDATO
Deputado perdeu eleição para senador em 98
Campos se despede e ataca "mesmice"

OSWALDO BUARIM JR.
da Sucursal de Brasília

O deputado Roberto Campos (PPB-RJ), 81, despediu-se ontem de 16 anos de vida parlamentar (oito no Senado e oito na Câmara) dizendo estar frustrado com a "insuportável mesmice" da política brasileira. Campos volta, como ele definiu, à atividade "intelectual e professoral".
Ele disse que a constatação o levava a fazer um "retrospecto melancólico", fruto também do reconhecimento do "fracasso de uma geração" em promover o desenvolvimento sustentado no país. Campos se candidatou ao Senado no ano passado. Perdeu a vaga para Saturnino Braga (PSB), ficando sem mandato.
Campos recordou que, quando chegou ao Senado, em 1983, os assuntos mais importantes eram moratória e recessão. "Dezesseis anos depois, os temas inquietantes voltam a ser recessão e crise cambial." Em seu balanço, colocou lado a lado o Brasil e a Rússia, países com "potencial cintilante e desempenho opaco".
"A Rússia foi uma superpotência que depois submergiu, descobrindo, afinal, que era apenas um país de Terceiro Mundo, com um Exército de Primeiro Mundo", disse. "O Brasil é uma potência emergente que ainda não emergiu. Continua sendo um país com grande futuro no seu passado. Tendo chegado a produzir o oitavo PIB, deixou-se ultrapassar pela China e pela Espanha."
Brasil e Rússia vivem crises econômicas semelhantes. No ano passado, depois de assinar um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a Rússia decretou a moratória de sua dívida e a crise no país se agravou.
O Brasil passou a ser visto como o país candidato a sofrer a próxima crise, que chegou neste mês, com a liberação do câmbio, alta da taxa de juros e temores de volta da inflação.
A explicação para o contraste entre "o potencial de riqueza e a pobreza do desempenho", para Campos, são "deformações culturais, erros comportamentais e a armadilha do meio sucesso".
As deformações, ele resumiu como a "doença dos ismos" (nacionalismo, populismo, estruturalismo econômico, estatismo e protecionismo). Os "erros comportamentais" são descritos como a falta de uma abertura econômica antes da política, nos anos 80, e a reserva de mercado da informática. Para simbolizar o "meio sucesso", elegeu, entre outros problemas, o Plano Real, que derrubou a inflação, mas retardou soluções de política cambial e combate ao déficit público.
Duas dezenas de deputados fizeram apartes ao discurso de Campos, que durou mais de uma hora e teve de ser resumido.



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