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SOMBRA NO PLANALTO
Ex-assessor de Dirceu articulou liberação de verbas na Câmara com líderes governistas
Waldomiro negociava mais de R$ 1 bilhão em emendas
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos meses que antecederam a
sua demissão, Waldomiro Diniz
estava empenhado na negociação
de emendas parlamentares que
somavam mais de R$ 1 bilhão.
Até as vésperas de sua saída do
governo, no dia 13 deste mês, o
ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil), flagrado em vídeo negociando propina com um
empresário de loterias no Rio, articulava com líderes da base governista, na Câmara dos Deputados, a liberação de verbas.
O acompanhamento das emendas parlamentares, pelas quais
deputados e senadores conseguem atender a suas bases eleitorais com obras pagas pelos ministérios, é uma das funções mais visadas no relacionamento entre o
Executivo e o Congresso, principalmente em ano eleitoral.
Em 2002, quando atuava no governo de Benedita da Silva (PT),
no Rio, Waldomiro Diniz, conforme a fita de vídeo, pede 1% do valor de um contrato que ele negociava como propina.
"Waldomiro cuidava das emendas, o Marcelo Sereno [assessor
de Dirceu] tratava dos cargos",
explicou Ricarte de Freitas (PTB-MT), vice-líder petebista.
"Quem operacionalizava o varejo era Waldomiro. Ele sabia dos
acordos feitos pelos líderes", declarou Rodrigo Maia (PFL-RJ), vice-líder do partido na Câmara.
No final de 2003, houve um
acordo entre Dirceu e o Congresso pelo qual, em troca do apoio à
aprovação do Orçamento de
2004, os deputados teriam liberados, até abril deste ano, R$ 700 mil
em restos a pagar de emendas
apresentadas em 2002 e R$ 1,5 milhão em novas emendas.
Dirceu avisou aos lideres partidários que Waldomiro seria o representante do governo no trato.
Muitas das reuniões com os parlamentares ocorreram no gabinete
do presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP).
"Estava tudo muito enrolado
[as discussões sobre o Orçamento]. Foi um esforço coletivo do
qual ele [Waldomiro] participou.
Ele sempre ficava à disposição minha e do Amir Lando (PMDB-RO) [ex-líder do governo no Congresso e atual ministro da Previdência] para encaminhar aos ministérios o que a gente pedisse",
disse Virgílio Guimarães (PT-MG), que foi líder do PT na Comissão de Orçamento.
"Quando você quer ver sua
emenda liberada, sai procurando
os caminhos. Procura quem puder", contou Renildo Calheiros
(PE), atual líder do PC do B.
A lista de pedidos feitos a Waldomiro era variada. José Thomaz
Nonô (PFL-AL) revelou que um
pleito seu foi resolvido -depois
de cinco anos esquecido nos escaninhos da burocracia- graças à
intervenção de Waldomiro.
"Ele passou por mim no corredor da Câmara e falou: "Deputado, aquele negócio já foi para o
Diário Oficial'", contou Nonô.
A Radio FM Anadia, oficialmente reivindicada pela Associação Comunitária dos Moradores
do Povoado Tabuleiro Grande, no
interior de Alagoas, pertence a
um correligionário do deputado
Nonô, Juarez Falcão (PFL), vereador do município de Anadia (AL).
A portaria que autorizou o funcionamento da rádio, assinada
pelo então ministro das Comunicações, Miro Teixeira, saiu publicada na edição do "Diário Oficial"
da União de 23 de julho de 2003.
O diretor da rádio, Avelar Aranha Falcão, sobrinho do vereador, confirmou que o apoio do
deputado foi "fundamental" para
a edição da portaria. "O deputado
colocou um assessor como procurador da rádio, para cuidar do
processo em Brasília. A partir daí
a coisa começou a andar", disse.
Nonô, oposição ao governo,
disse que a deferência de Waldomiro não muda suas críticas. "Esse episódio desmente o pouco que
restava de ético no PT".
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