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Genoino diz que oposição é lacerdista
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do PT, José Genoino, diz que os adversários do partido, chamados por ele de "conservadores" e "lacerdistas tardios", usam o caso Waldomiro
Diniz para "enfraquecer" o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Carlos Lacerda (1914-1977) foi
um dos principais líderes conservadores do país. Participou de articulações para depor os presidentes Getúlio Vargas (1883-1976) e João Goulart (1918-1976),
derrubado em 64. E também tentou impedir a posse de Juscelino
Kubitschek (1902-1976).
Em entrevista à Folha anteontem, Genoino disse, sem citar nomes, que a oposição quer "um governo fraco para voltar ao poder
em 2006". Leia a entrevista:
Folha - O senhor concorda que há
uma crise hoje no país?
José Genoino - Acho que nós temos um fato policial e criminal. O
governo tomou medidas enérgicas e imediatas ao demitir o Waldomiro. Setores conservadores,
no momento em que o Planalto
fez uma reforma ministerial bem-sucedida e que trabalhava com
uma agenda para 2004, com crescimento econômico e melhoria
dos programas sociais, fizeram
uma disputa política para enfraquecer o governo e atacar o PT. É
um ambiente artificial de crise política. O governo tomou todas as
medidas, agiu rapidamente e não
tem nada a temer.
Folha - O senhor falou que o governo agiu rapidamente, mas em
julho último surgiram denúncias
de irregularidades na atuação de
Waldomiro. O senhor não acha que
nessa época o ministro José Dirceu
deveria ter demitido o assessor?
Genoino - Nós não podemos
aceitar a tese de acusar um superior porque o seu subordinado
praticou uma irregularidade antes de assumir o governo. O ministro José Dirceu não tem nada a
ver com isso. Esse episódio, criminal e policial, mostra aos dirigentes do PT que eles devem ter mais
vigilância, mais cuidado e maior
controle das nomeações. Temos
que tirar lições. Mas, politicamente, não podemos aceitar que erros
de procedimento produzam, por
parte de setores conservadores, a
tática de atacar o ministro. Eles
tentam enfraquecer o governo,
mas o alvo principal é o PT, um
partido que tem base social e política. A virulência contra o partido
é maior do que contra o governo.
Nós fizemos da ética um campo
de batalha. Somos o alvo tendo
em vista a disputa eleitoral de
2004. Tentam fazer aquilo que eu
classifico como lacerdismo tardio
de alguns vestais do presente, que
buscam igualar todo mundo. Temos clareza do que está em disputa nesse processo. Como você pode fazer o julgamento moral de
um partido com tantos filiados?
Um partido que pode, na sua história, ter erros, até graves, mas
que corta na carne, às vezes até
com injustiça. Isso é autoritário,
injusto e inaceitável.
Folha - O sr. tem dito que o Waldomiro não é filiado ao PT e que o
caso não diz respeito ao partido.
Por outro lado, vocês são acusados
de terem aparelhado o Estado. Por
que então ele foi colocado em um
posto tão importante?
Genoino - Waldomiro nunca foi
do PT, nunca participou de reuniões nossas. Trata-se de um caso
criminal. Mas isso não pode ser
motivo para que peçam a cabeça
do superior dele. Mas eu tenho
dados aqui sobre o número de
cargos do PT no governo. Dos 17
mil servidores em função gratificada, o PT só nomeou 13%. Em
vários órgãos, você vai encontrar
gente que não é do PT. Esse servidor praticou o crime em 2002, e o
governo está sendo transparente.
Folha - O PT cobrou muitas CPIs
no governo FHC. Por que o partido
não apóia uma investigação do
Congresso no caso Waldomiro?
Genoino - Esses casos foram todos casos denunciados publicamente durante o governo FHC.
Nós nunca trouxemos um fato
anterior. Durante 20 anos no
Congresso, eu nunca me especializei em CPI, não existe um requerimento assinado por mim. O alvo não é o governo.
Folha - O PT é a favor do jogo?
Genoino - Minha posição pessoal: acabar com bingo e caça-níquel. São atividades em que não
sabemos onde começa o ilegal e
termina o legal. Vou defender a
posição no partido e na bancada,
mas não há uma questão fechada.
Folha - O sr. disse em 2002 que
nem todo mundo no PT era puro...
Genoino - Eu reafirmo essa frase.
Mas todo julgamento abstrato
provoca autoritarismo. Se alguém
do PT for pego, comprovadamente, cometendo irregularidade, nós
vamos tomar medidas imediatas
de defesa do patrimônio ético.
Folha - O PT não foi muito rígido
com a senadora Heloísa Helena
(sem partido-AL), por exemplo, e
não está agindo assim nesse caso?
Genoino - São casos totalmente
diferentes. Não existe ninguém do
PT com acusação de corrupção.
Folha - O senhor defende um
afastamento temporário do ministro José Dirceu?
Genoino - Não existe nada contra o ministro. José Dirceu não
praticou nenhuma irregularidade. Sou solidário a ele. Nós estamos curtidos em uma história
que tem a festa e a poesia, mas que
também tem a dureza.
Folha - Houve um erro político do
PT ao anunciar que faria um ato de
desagravo ao ministro e depois ter
recuado?
Genoino - Não. Havia uma manifestação de dirigentes do partido de fazer um ato de apoio ao Zé
Dirceu. Eu ouvi alguns companheiros do PT e do governo. Eles
fizeram ponderações, e eu levei
em conta.
Folha - No caso Santo André, o PT
defendeu a tese de que era um crime comum. O Ministério Público foi
em outra linha de investigação. Como o senhor vê esse episódio?
Genoino - Quem conduziu essa
investigação foi a Polícia Civil de
São Paulo e o Ministério Público,
duas instituições não comandadas pelo PT. Não investigamos
nem concluímos nada. No dia 24
de janeiro de 2002, poucos dias
após a morte do Celso Daniel
[prefeito de Santo André], justificam a quebra de sigilos telefônicos de petistas com o argumento
de que é para prevenir o tráfico de
drogas. Essa fita foi ilegal.
Folha - O caso Waldomiro muda a
estratégia do PT para as eleições?
Genoino - Nós vamos trabalhar
muito para ganhar as eleições.
Mas os nossos adversários anteciparam as táticas de como pretendem enfrentar o PT. Não vamos
atacar ninguém, mas nada ficará
sem resposta.
Folha - O senhor ainda acha que o
PSDB está por trás desse caso Waldomiro?
Genoino - Existem setores do
país que até hoje não aceitam que
o governo do PT faça as mudanças, há uma disputa política em
curso. Nunca acusei ninguém diretamente de estar por trás disso.
Folha - O PT está se informatizando com um leasing do Banco do
Brasil. Se fosse o PFL fazendo a
mesma coisa no governo FHC, o
que o senhor diria?
Genoino - Eu iria solicitar na Câmara informações. O PT fez um
contrato transparente.
Folha - Quais as taxas de juros?
Genoino - Não sei te informar,
mas são as de mercado.
Folha - Como o senhor vê sua gestão à frente do partido?
Genoino - A nossa geração é originária dos anos rebeldes de 1968,
nós sabemos o que é derrota, e
não é derrota eleitoral, é derrota
de cinco anos de cadeia. A minha
vida política está realizada.
Folha - O senhor foi cogitado para
assumir a Casa Civil?
Genoino - É a primeira vez que
eu ouço falar disso. Eu fiz uma opção e estou feliz de presidir o PT
até 2005, quando haverá eleição
direta. Depois, vejo o que faço.
Folha - O senhor falou em conservadorismo. É a direita?
Genoino - O PT é radical, vai
sempre defender seu programa
de mudanças. A sociedade brasileira vem de uma experiência de
500 anos de governos autoritários, conservadores. Você mudar
um país desse não é fácil. Então,
os conservadores querem um governo fraco, querem atacar o PT
para voltar ao poder em 2006. Temos que ter consciência dessa disputa política em curso.
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