São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Denúncia diz ser "indubitável" ação de Palocci

Em peça enviada a STF, procurador-geral lista telefonemas trocados entre ministro e subordinados antes de caseiro ter sigilo quebrado

Existem seis telefonemas da Fazenda para "Época" no dia em que extrato de caseiro foi divulgado, mas Palocci nega ter ordenado violação

ANDRÉA MICHAEL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A denúncia do Ministério Público Federal no caso do caseiro Francenildo dos Santos Costa diz ser "incontroversa" e "indubitável" a constatação de que houve uma quebra ilegal de seu sigilo bancário por parte do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso e do ex-assessor de imprensa de Palocci, Marcelo Netto.
Para sustentar a denúncia (acusação formal que, se acatada pela Justiça, se transforma em processo), o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, lista vários telefonemas trocados e encontros mantidos entre os três nas horas que antecederam a publicação, no site da revista "Época", da notícia de que Francenildo tinha movimentação financeira incompatível com a renda.
Antonio Fernando lista seis telefonemas da Fazenda para a revista "Época" no dia 17 de março de 2006, data da publicação da reportagem, nos horários de 10h03, 12h33, 12h40, 15h38, 16h43 e 17h40. A notícia foi divulgada no site pouco antes das 19h. Além disso, relata 12 ligações entre Palocci e seu assessor de imprensa, um dia antes, e mais nove no dia 17.
Segundo a denúncia, a quebra ilegal do sigilo se deu às 20h58 do dia 16. Nesse mesmo dia, por volta das 23h, os documentos teriam sido entregues por Mattoso a Palocci.
Francenildo foi o pivô do escândalo que derrubaria Palocci depois que, em entrevista ao jornal "Estado de S. Paulo", disse ter testemunhado reuniões do ministro em uma casa de Brasília com ex-assessores de Ribeirão Preto e lobistas.
Segundo o Ministério Público, a quebra do sigilo foi estratégia de Palocci para provar que o caseiro estaria sendo pago para fazer as acusações contra ele.
O procurador-geral une as trocas de telefonemas para dizer que a quebra do sigilo do caseiro foi ordenada por Palocci e cumprida por Mattoso.
O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, nega que o ex-ministro tenha ordenado a quebra. Diz que ele soube da movimentação "atípica" na conta do caseiro horas depois de o extrato ter sido impresso e ordenou a Mattoso que adotasse as medidas "previstas na lei".
A Folha não conseguiu falar ontem com os advogados de Marcelo Netto e de Jorge Mattoso e não encontrou ninguém na revista "Época" que pudesse falar sobre o episódio.


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