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CRISE NO GOVERNO/BASTIDORES
Duas semanas após revelação de dados do caseiro, identidade do mandante é desconhecida
Governo trava guerra sobre responsáveis pela violação
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda de Antonio Palocci
não encerrou duas questões que
atazanam e põem em pé de guerra
setores do governo Luiz Inácio
Lula da Silva. A primeira delas é a
apuração das responsabilidades
pela violação do sigilo e o esclarecimento de quem tomou conhecimento do assunto -ou teve acesso aos próprios extratos violados.
A segunda questão decorre da
primeira: o grupo da Fazenda que
caiu, ligado a Palocci, acredita ter
sido empurrado para o abismo
por assessores palacianos e ministros influentes. Numa reação, tenta dividir com outros setores responsabilidades pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.
Essa guerra interna vem sendo
travada longe dos holofotes, principalmente em torno de como se
processou a divulgação dos dados
da fracassada operação para tentar desqualificar o depoimento do
caseiro, que contradisse o ex-ministro Palocci sobre suas visitas à
chamada "casa do lobby".
Investigações
As investigações do governo e
do PT sobre o caseiro começaram
logo após a publicação da entrevista em que ele contradisse Palocci, no dia 14 de março, uma terça-feira.
Membros do governo obtiveram a informação de que uma suposta testemunha havia revelado
que o caseiro teria recebido uma
quantia volumosa de dinheiro.
Essa informação circulou entre
ministros, dentro e fora do Palácio do Planalto, e parlamentares
petistas. Um deles era o senador
Tião Viana (PT-AC), que sempre
citava um jardineiro de uma casa
vizinha à usada pelo grupo de Ribeirão Preto (SP).
"Esse jardineiro disse que Nildo
disse a ele que receberia uma bolada para derrubar Palocci. Só que
agora o jardineiro não quer falar",
comentava o senador pelos corredores do Congresso. O senador
diz que soube apenas da informação sobre a existência da testemunha, mas não da operação que levou à quebra do sigilo bancário.
Ontem, o caseiro confirmou a
existência do jardineiro e disse
que comentou com ele sobre a intenção de comprar um terreno
(leia texto na pág. A7).
Com base nas informações supostamente obtidas do jardineiro
foi montada a operação para quebrar o sigilo bancário do caseiro,
divulgado pela revista "Época"
em 17 de março. Ao longo daquele dia, ministros, assessores e senadores do PT disseram a jornalistas que viria uma "bomba" contra Francenildo.
Na mesma sexta-feira, a informação de que haveria uma revelação que comprometeria o caseiro
circulou também no Palácio do
Planalto. Assessores do presidente negam que ele tenha tido conhecimento da quebra do sigilo
bancário, mas essa versão circula
entre alguns políticos de Brasília,
ainda que sem comprovação.
Em depoimento à Polícia Federal, anteontem, o ex-presidente da
Caixa Econômica Federal Jorge
Mattoso disse que entregou os dados do sigilo violado a Palocci na
noite de 16 de março, uma quinta-feira. Mas não revelou a mando de
quem o sigilo foi violado.
Os agentes da PF não acreditam
na versão de Mattoso, de que ele
teria mandado levantar os dados
do caseiro depois de receber informação de dentro da própria
Caixa sobre operações atípicas de
Francenildo. A PF trabalha com a
suspeita de que o dado foi transmitido à CEF por assessores do
Ministério da Fazenda. O principal suspeito é o ex-assessor especial Marcelo Netto, que nega envolvimento no caso.
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