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CRISE NO GOVERNO/A DESPEDIDA
Ex-ministro se diz vítima de ilações, afirma que deixa governo para contribuir com Lula e que errou ao buscar convivência com oposição
Palocci credita saída a "quadro conflituoso"
EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia após ter sido demitido
do Ministério da Fazenda, Antonio Palocci afirmou ontem que,
diante de um quadro "tenso" e
"conflituoso", o pedido de afastamento do governo foi a "melhor
maneira" que encontrou para
contribuir com o país e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele defendeu suas ações na Fazenda, agradeceu a Lula e disse
que nunca atentou contra a democracia e contra as instituições.
"Penso que foi a melhor maneira de contribuir com o país e com
o presidente Lula, frente ao quadro conflituoso e tenso. Na vida
pública, há momentos de afirmar
e momentos de recuar. Temos de
ter tranqüilidade de identificar esses momentos", afirmou, em discurso lido de dez minutos diante
de cerca de 500 pessoas no Salão
Nobre do Palácio do Planalto.
Palocci, apontado pelo ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso como receptor de dados do sigilo
bancário do caseiro Francenildo
dos Santos Costa, falou durante a
cerimônia de posse de seu sucessor, Guido Mantega.
O início do discurso foi marcado pela exposição de pontos que
considera positivos em sua gestão
na Fazenda. A seguir, mesmo que
indiretamente, entrou na questão
política. Disse ter enfrentado um
"círculo infernal" de acusações.
"Para quem enfrentou, como eu
enfrentei nesses últimos meses, o
círculo infernal das suspeições e
dos prejulgamentos, a tentação
talvez fosse a de dizer como o poeta italiano: lascia dire le genti, e sigue il suo corso, ou siga o seu curso e não olhe para trás", afirmou.
"Certamente, o verso do poeta
serve para um sentimento que
nutro, o de não levar mágoa nem
ódio no coração. Nem mesmo
contra alguns que, até bem próximos de nós, aceitam palavras que
não são as nossas quanto a fatos
recentes que, ou são pura acusação, ou são ilações e denúncias
sem materialidade em fatos."
Malfeitorias
Palocci nada falou sobre Mattoso e Francenildo. Mas afirmou:
"Jamais patrocinei nesses três
anos malfeitorias com os recursos
públicos, nem atentei, de nenhuma forma, contra a democracia e
as instituições de meu país."
O ex-ministro disse que o seu
erro talvez tenha sido acreditar na
possibilidade de conviver de forma pacífica com a oposição.
"O que mais me encheu de confiança é a certeza de ter procurado
um novo caminho para a convivência serena e civilizada entre
contrários. (...) Talvez eu tenha falhado nesta minha crença de convivência pacífica."
Após sua fala, Palocci ouviu um
discurso de Lula recheado de elogios à sua atuação na Fazenda e, a
seguir, em meio a um forte abraço, deu um beijo no rosto do presidente. Após sua fala, alguns chegaram a aplaudi-lo de pé. Os ministros fizeram fila para abraçá-lo.
Leia a íntegra dos discursos
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