São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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CRISE NO GOVERNO/A DESPEDIDA

Ex-ministro se diz vítima de ilações, afirma que deixa governo para contribuir com Lula e que errou ao buscar convivência com oposição

Palocci credita saída a "quadro conflituoso"

EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após ter sido demitido do Ministério da Fazenda, Antonio Palocci afirmou ontem que, diante de um quadro "tenso" e "conflituoso", o pedido de afastamento do governo foi a "melhor maneira" que encontrou para contribuir com o país e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele defendeu suas ações na Fazenda, agradeceu a Lula e disse que nunca atentou contra a democracia e contra as instituições.
"Penso que foi a melhor maneira de contribuir com o país e com o presidente Lula, frente ao quadro conflituoso e tenso. Na vida pública, há momentos de afirmar e momentos de recuar. Temos de ter tranqüilidade de identificar esses momentos", afirmou, em discurso lido de dez minutos diante de cerca de 500 pessoas no Salão Nobre do Palácio do Planalto.
Palocci, apontado pelo ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso como receptor de dados do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, falou durante a cerimônia de posse de seu sucessor, Guido Mantega.
O início do discurso foi marcado pela exposição de pontos que considera positivos em sua gestão na Fazenda. A seguir, mesmo que indiretamente, entrou na questão política. Disse ter enfrentado um "círculo infernal" de acusações.
"Para quem enfrentou, como eu enfrentei nesses últimos meses, o círculo infernal das suspeições e dos prejulgamentos, a tentação talvez fosse a de dizer como o poeta italiano: lascia dire le genti, e sigue il suo corso, ou siga o seu curso e não olhe para trás", afirmou. "Certamente, o verso do poeta serve para um sentimento que nutro, o de não levar mágoa nem ódio no coração. Nem mesmo contra alguns que, até bem próximos de nós, aceitam palavras que não são as nossas quanto a fatos recentes que, ou são pura acusação, ou são ilações e denúncias sem materialidade em fatos."

Malfeitorias
Palocci nada falou sobre Mattoso e Francenildo. Mas afirmou: "Jamais patrocinei nesses três anos malfeitorias com os recursos públicos, nem atentei, de nenhuma forma, contra a democracia e as instituições de meu país."
O ex-ministro disse que o seu erro talvez tenha sido acreditar na possibilidade de conviver de forma pacífica com a oposição.
"O que mais me encheu de confiança é a certeza de ter procurado um novo caminho para a convivência serena e civilizada entre contrários. (...) Talvez eu tenha falhado nesta minha crença de convivência pacífica."
Após sua fala, Palocci ouviu um discurso de Lula recheado de elogios à sua atuação na Fazenda e, a seguir, em meio a um forte abraço, deu um beijo no rosto do presidente. Após sua fala, alguns chegaram a aplaudi-lo de pé. Os ministros fizeram fila para abraçá-lo.


Leia a íntegra dos discursos

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