São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

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Secretária admite dificuldade de programas atingirem mais pobres

DA SUCURSAL DO RIO

A secretária de Renda da Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, Rosani Cunha, reconhece que o percentual de 46% de domicílios de menor renda excluídos dos programas mostra uma dificuldade de chegar aos mais pobres entre os já pobres.
Ela diz, porém, que a pesquisa do IBGE, que foi a campo em setembro de 2006, pode não ter captado quem havia acabado de ingressar no Bolsa Família, mas que ainda não havia começado a receber o benefício.
"Aqueles que são mais pobres não têm documento de identificação e vêm de famílias mais desestruturadas. Temos, sim, dificuldade para chegar a eles, mas acredito que, se a Pnad fosse a campo hoje, esse quadro seria menor e o erro de focalização seria ainda menor."
Para a economista Lena Lavinas, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a pesquisa mostra que os programas estão sendo eficientes ao transferir renda para os mais pobres -especialmente trabalhadores agrícolas-, mas eles não conseguem resolver um problema fundamental de provisão de serviços em quantidade e qualidade necessários, já que, para isso, são necessários investimentos públicos.
Como exemplo ela cita o fato de o acesso a telefone ter aumentado nas famílias beneficiadas, mas o mesmo não ter acontecido no mesmo ritmo no caso do esgotamento sanitário (variou de 42,4% para 46,3%).
"Isso mostra uma lacuna da política pública", diz Lavinas. "Não posso restringir minha política de redução da pobreza à transferência de renda para os mais pobres. É fundamental, mas preciso de outras coisas, como investimento pesado em saneamento básico adequado."
Para o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Sergei Soares, autor de estudos analisando impactos do Bolsa Família, os pontos positivos que aparecem na pesquisa são o fato de não ter sido detectado o efeito-preguiça -beneficiados terem deixado de trabalhar por conta do benefício-, de o programa chegar principalmente aos mais pobres e de contribuir, em sua avaliação, para diminuir a desigualdade no acesso à escola.
Como destaque negativo, aponta o fato de 46% dos domicílios com renda até R$ 87,5 não estarem sendo beneficiados pelos programas sociais.
"Ainda não temos uma rede social para os mais pobres neste país", diz o pesquisador.


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