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Secretária admite dificuldade de programas atingirem mais pobres
DA SUCURSAL DO RIO
A secretária de Renda da Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, Rosani
Cunha, reconhece que o percentual de 46% de domicílios
de menor renda excluídos dos
programas mostra uma dificuldade de chegar aos mais pobres
entre os já pobres.
Ela diz, porém, que a pesquisa do IBGE, que foi a campo em
setembro de 2006, pode não ter
captado quem havia acabado de
ingressar no Bolsa Família, mas
que ainda não havia começado
a receber o benefício.
"Aqueles que são mais pobres não têm documento de
identificação e vêm de famílias
mais desestruturadas. Temos,
sim, dificuldade para chegar a
eles, mas acredito que, se a
Pnad fosse a campo hoje, esse
quadro seria menor e o erro de
focalização seria ainda menor."
Para a economista Lena Lavinas, da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), a
pesquisa mostra que os programas estão sendo eficientes ao
transferir renda para os mais
pobres -especialmente trabalhadores agrícolas-, mas eles
não conseguem resolver um
problema fundamental de provisão de serviços em quantidade e qualidade necessários, já
que, para isso, são necessários
investimentos públicos.
Como exemplo ela cita o fato
de o acesso a telefone ter aumentado nas famílias beneficiadas, mas o mesmo não ter
acontecido no mesmo ritmo no
caso do esgotamento sanitário
(variou de 42,4% para 46,3%).
"Isso mostra uma lacuna da
política pública", diz Lavinas.
"Não posso restringir minha
política de redução da pobreza
à transferência de renda para
os mais pobres. É fundamental,
mas preciso de outras coisas,
como investimento pesado em
saneamento básico adequado."
Para o pesquisador do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Sergei Soares,
autor de estudos analisando
impactos do Bolsa Família, os
pontos positivos que aparecem
na pesquisa são o fato de não
ter sido detectado o efeito-preguiça -beneficiados terem deixado de trabalhar por conta do
benefício-, de o programa chegar principalmente aos mais
pobres e de contribuir, em sua
avaliação, para diminuir a desigualdade no acesso à escola.
Como destaque negativo,
aponta o fato de 46% dos domicílios com renda até R$ 87,5
não estarem sendo beneficiados pelos programas sociais.
"Ainda não temos uma rede
social para os mais pobres neste país", diz o pesquisador.
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