São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

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Para Simões, Marta faz "passagem'

da Reportagem Local

Candidato da "esquerda" do PT, Renato Simões manda um recado a Marta Suplicy. "O partido deve estabelecer formas de controle sobre o comando da campanha", afirma.
Simões também faz críticas a Lula, que acusa de "desmontar" a candidatura de Antonio Palocci (ex-prefeito de Ribeirão Preto) e de estar "cometendo erros" ao buscar o apoio de políticos como Orestes Quércia e Itamar Franco.
A seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha - O sr. disputou, sem chance de ganhar, o diretório estadual do PT. Agora, a situação se repete na prévia. Não teme ficar com a imagem de batalhador das causas perdidas?
Renato Simões -
Não. Sou o grande vitorioso político da prévia. Nós pautamos os temas dos debates, qualificamos politicamente a esquerda do PT e demos ao partido a chance de fazer a prévia mais politizada dos últimos dez anos.
Vou ficar, sim, com a pecha de responsável pelo resgate do debate político no PT de São Paulo, que hoje é o calcanhar-de-aquiles do PT nacional.
Folha - O "diferente" que se busca na candidatura de Marta Suplicy é bom para o PT?
Simões -
Queremos o diferente representado pela minha candidatura. Queremos uma campanha socialista e programática calcada na polarização social e centrada na mobilização da militância, e não nos marketeiros das campanhas de TV.
Diferente é mudar o tom moderado e conciliador que levou em 96 o PT de São Paulo à maior derrota de sua história.
Folha - Quem deve mandar na campanha? O partido ou o candidato?
Simões -
O partido deve estabelecer formas de controle sobre o comando da campanha, para evitar autonomia total como a que ocorreu na campanha para a Prefeitura de São Paulo em 96. O comando é do PT e da frente de partidos. O programa e a linha geral também.
Folha - Qual a impressão de Marta depois dos debates?
Simões -
É uma pessoa que evoluiu no conhecimento do Estado e esquerdizou seu discurso em relação ao Covas. A Marta está fazendo seu rito de passagem para o PT nas prévias. Foi a entrada orgânica dela no partido. Ela pode ser uma boa candidata, desde que ocupe plenamente o espaço de oposição, tenha um programa de esquerda com uma frente política de esquerda e identifique Maluf e Covas como duas faces da mesma política neoliberal para o Estado.
Folha - O aval de Lula foi fundamental para Marta?
Simões -
O Lula é o grande autor intelectual da candidatura da Marta e do desmonte da campanha do Palocci. Ele está cometendo erros, como a menção favorável ao Quércia, a busca desenfreada pelo apoio do Itamar Franco e as tentativas de fazer a sua campanha pela linha de centro-esquerda. É importante dizer que rechaçamos qualquer ameaça de acertos de contas com a esquerda do partido em 99.



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