|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO
Para a pré-candidata do PT ao governo, está na hora de ter uma psicóloga administrando São Paulo
Marta diz que não reverá privatizações
da Reportagem Local
Caso seja eleita governadora
de São Paulo,
Marta Suplicy
não pretende
rever as privatizações já realizadas por Mário Covas (PSDB).
A candidata, no entanto, diz que
não vai vender nenhuma empresa
que estiver sob controle estatal
quando assumir o poder.
A seguir, os principais trechos
da entrevista concedida à Folha.
(CEA e LHA)
Folha - O que a sua candidatura
significa para o PT?
Marta Suplicy - A possibilidade
de ganhar a eleição e resgatar a origem de rebeldia e ousadia. É o novo em todos o sentidos, além de
uma complementaridade às candidaturas que o PT tem apresentado. Agora, não vai ter barba.
Folha - Politicamente, a sua candidatura é de fora da máquina partidária . Ela sinaliza que o PT está
mudando?
Marta - É evidente. Uma candidatura de uma mulher, que vem de
uma classe média e não tem uma
militância em diretório significa
uma mudança total, uma abertura
muito grande do PT.
Folha - O PT precisa mudar?
Marta - Não precisa mudar tanto. Precisa modificar mais a questão de imagem. A luta pelos excluídos é certa, só que às vezes foi feita
de forma mais dura, mais agressiva, e muitas vezes as posições do
PT não são compreendidas pela
população. Sempre faltou uma estratégia de marketing para colocar
o PT de outro jeito. Existem pessoas radicais no PT, mas também
existem pessoas que não são.
Folha - Na última campanha do
PT para a Prefeitura de São Paulo
houve uma tentativa para mudar
essa imagem. Foi a campanha do
"PT que diz sim" e causou muitos
problemas no partido...
Marta - Quando a tentativa é
falsa, não gruda. O não do PT não
significa aquele não sem sentido,
rancoroso. No Congresso, o PT fez
propostas para tudo. Eu não sou
radical. Falo as mesmas coisas que
o PT vem falando, só que colocadas de outra maneira. Minha figura já é a figura do novo.
Folha - Quem vai mandar na
campanha?
Marta - Eu. Eu e o presidente do
partido, o Antonio Palocci. A TV,
por exemplo, fui eu que escolhi a
pessoa. Depois, liguei para o Palocci para ver se ele gostava (a candidata está se referindo às negociações com o autor de novelas Benedito Ruy Barbosa). Mas sei que
sou candidata de um partido. Agora, se eu disser que não vou ter
uma participação super-ativa na
campanha, serei uma candidata ridícula, manipulada. Eu não sou isso, e eles já viram que eu não sou.
Folha - Teme prejuízo eleitoral
por defender posições que incomodam a igreja?
Marta - Venho de uma família
de industriais, muito conservadora, onde a luta contra a exclusão se
dá na benemerência no máximo,
não em termos de modificação da
estrutura social. Essa noção que eu
tive sobre injustiça social e necessidade de mudar eu aprendi na escola católica. Sou casada há 34
anos com a mesma pessoa, e meus
filhos estudaram em colégios católicos. Sou muito mais ligada à igreja que qualquer candidato.
Folha - A sra. conhece os problemas administrativos do Estado?
Marta - Eu acho que está na hora de ter uma psicóloga administrando esse Estado. Os engenheiros já mostraram o que sabem.
Não tenho nenhuma inveja ou admiração pela capacidade com a
qual eles administraram.
Folha - Qual seria a prioridade
em um governo da senhora?
Marta - O emprego. Isso está
evidente. Em quatro áreas eu quero propostas muito concretas: emprego, renda mínima, educação e a
questão da descentralização.
Folha - A sra. é marxista?
Marta - Eu nunca me coloquei
um rótulo na minha vida. Vai ser
agora que vou me pôr? Aliás, feminista eu deixo você me pôr. O único rótulo a que eu não reajo firmemente é o de feminista.
Folha - Ao de esquerda a senhora
reage?
Marta - Não, menos... Agora
você criou um impasse.
Folha - O que a senhora acha das
privatizações feitas no governo
Covas?
Marta - Eu não faria essas privatizações, mas não vou anulá-las
e tentar reavê-las.
Folha - Por quê?
Marta - Porque eu acho que juridicamente estão certas. Está correto, elas estão vendidas. E o gasto
de energias que você vai ter não
compensa. Eu posso rever qual o
grau de segurança que o cidadão
tem nessa venda quanto à qualidade do serviço, isso sim. Se eu achar
que não tem a garantia da qualidade, cabe uma negociação. Mas o
que foi vendido será mantido. E o
que não foi privatizado terá o processo rompido. Eu não vou privatizar mais nada.
Folha - O que ainda não estiver
sacramentado a sra. interrompe?
Marta - Sim.
Folha - Mas não revisa o que já
foi feito?
Marta - Exatamente.
Folha - Lula dá ou tira votos em
São Paulo?
Marta - Eu acho que sou forte
na classe onde o Lula tem menos
penetração, e o Lula é forte na classe onde eu tenho menos penetração. Eu espero que a gente possa
criar uma sinergia e os dois se fortalecerem. São duas faces do mesmo PT. Uma face sindicalista, barbuda, e outra classe média, mulher. Acho que minha imagem
amaina um pouco a imagem dura
dela e a dele ajuda a amainar a minha mais classe média. Dá uma
boa dupla.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|