São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

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SUCESSÃO
Para a pré-candidata do PT ao governo, está na hora de ter uma psicóloga administrando São Paulo
Marta diz que não reverá privatizações

da Reportagem Local


Caso seja eleita governadora de São Paulo, Marta Suplicy não pretende rever as privatizações já realizadas por Mário Covas (PSDB).
A candidata, no entanto, diz que não vai vender nenhuma empresa que estiver sob controle estatal quando assumir o poder.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha.
(CEA e LHA)

Folha - O que a sua candidatura significa para o PT?
Marta Suplicy -
A possibilidade de ganhar a eleição e resgatar a origem de rebeldia e ousadia. É o novo em todos o sentidos, além de uma complementaridade às candidaturas que o PT tem apresentado. Agora, não vai ter barba.
Folha - Politicamente, a sua candidatura é de fora da máquina partidária . Ela sinaliza que o PT está mudando?
Marta -
É evidente. Uma candidatura de uma mulher, que vem de uma classe média e não tem uma militância em diretório significa uma mudança total, uma abertura muito grande do PT.
Folha - O PT precisa mudar?
Marta -
Não precisa mudar tanto. Precisa modificar mais a questão de imagem. A luta pelos excluídos é certa, só que às vezes foi feita de forma mais dura, mais agressiva, e muitas vezes as posições do PT não são compreendidas pela população. Sempre faltou uma estratégia de marketing para colocar o PT de outro jeito. Existem pessoas radicais no PT, mas também existem pessoas que não são.
Folha - Na última campanha do PT para a Prefeitura de São Paulo houve uma tentativa para mudar essa imagem. Foi a campanha do "PT que diz sim" e causou muitos problemas no partido...
Marta -
Quando a tentativa é falsa, não gruda. O não do PT não significa aquele não sem sentido, rancoroso. No Congresso, o PT fez propostas para tudo. Eu não sou radical. Falo as mesmas coisas que o PT vem falando, só que colocadas de outra maneira. Minha figura já é a figura do novo.
Folha - Quem vai mandar na campanha?
Marta -
Eu. Eu e o presidente do partido, o Antonio Palocci. A TV, por exemplo, fui eu que escolhi a pessoa. Depois, liguei para o Palocci para ver se ele gostava (a candidata está se referindo às negociações com o autor de novelas Benedito Ruy Barbosa). Mas sei que sou candidata de um partido. Agora, se eu disser que não vou ter uma participação super-ativa na campanha, serei uma candidata ridícula, manipulada. Eu não sou isso, e eles já viram que eu não sou.
Folha - Teme prejuízo eleitoral por defender posições que incomodam a igreja?
Marta -
Venho de uma família de industriais, muito conservadora, onde a luta contra a exclusão se dá na benemerência no máximo, não em termos de modificação da estrutura social. Essa noção que eu tive sobre injustiça social e necessidade de mudar eu aprendi na escola católica. Sou casada há 34 anos com a mesma pessoa, e meus filhos estudaram em colégios católicos. Sou muito mais ligada à igreja que qualquer candidato.
Folha - A sra. conhece os problemas administrativos do Estado?
Marta -
Eu acho que está na hora de ter uma psicóloga administrando esse Estado. Os engenheiros já mostraram o que sabem. Não tenho nenhuma inveja ou admiração pela capacidade com a qual eles administraram.
Folha - Qual seria a prioridade em um governo da senhora?
Marta -
O emprego. Isso está evidente. Em quatro áreas eu quero propostas muito concretas: emprego, renda mínima, educação e a questão da descentralização.
Folha - A sra. é marxista?
Marta -
Eu nunca me coloquei um rótulo na minha vida. Vai ser agora que vou me pôr? Aliás, feminista eu deixo você me pôr. O único rótulo a que eu não reajo firmemente é o de feminista.
Folha - Ao de esquerda a senhora reage?
Marta -
Não, menos... Agora você criou um impasse.
Folha - O que a senhora acha das privatizações feitas no governo Covas?
Marta -
Eu não faria essas privatizações, mas não vou anulá-las e tentar reavê-las.
Folha - Por quê?
Marta -
Porque eu acho que juridicamente estão certas. Está correto, elas estão vendidas. E o gasto de energias que você vai ter não compensa. Eu posso rever qual o grau de segurança que o cidadão tem nessa venda quanto à qualidade do serviço, isso sim. Se eu achar que não tem a garantia da qualidade, cabe uma negociação. Mas o que foi vendido será mantido. E o que não foi privatizado terá o processo rompido. Eu não vou privatizar mais nada.
Folha - O que ainda não estiver sacramentado a sra. interrompe?
Marta -
Sim.
Folha - Mas não revisa o que já foi feito?
Marta -
Exatamente.
Folha - Lula dá ou tira votos em São Paulo?
Marta -
Eu acho que sou forte na classe onde o Lula tem menos penetração, e o Lula é forte na classe onde eu tenho menos penetração. Eu espero que a gente possa criar uma sinergia e os dois se fortalecerem. São duas faces do mesmo PT. Uma face sindicalista, barbuda, e outra classe média, mulher. Acho que minha imagem amaina um pouco a imagem dura dela e a dele ajuda a amainar a minha mais classe média. Dá uma boa dupla.



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