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CELSO PINTO
De olho na balança
Os resultados da balança comercial deste mês podem jogar
água fria no entusiasmo gerado
no primeiro bimestre. Até quinta-feira o déficit estava em US$
679 milhões, caminhando para
algo entre US$ 750 milhões e US$
800 milhões no mês.
Como em fevereiro o déficit revisado ficou em apenas US$ 85
milhões, compreende-se a decepção. Em março do ano passado o
déficit foi de US$ 878 milhões,
portanto o déficit anual pode cair
pouco ou nada. O pico do déficit
em 12 meses foi em setembro do
ano passado, US$ 9,7 bilhões.
Desde então, caiu quase sem parar até US$ 7,5 bilhões em fevereiro.
Mais importante, contudo, é
examinar as tendências. Como
março deste ano tem 22 dias úteis
e março de 97 teve apenas 20, não
faz sentido comparar os números
absolutos e sim as médias por
dias úteis. Até o final da terceira
semana de março a média das
exportações estava em US$ 190,3
milhões, abaixo dos US$ 191,3
milhões de março de 97 e bem
abaixo dos US$ 206 milhões de
fevereiro, embora superior aos
US$ 186 milhões de janeiro.
Do lado das importações, a média estava em US$ 219 milhões,
acima dos US$ 211 milhões de
fevereiro e dos US$ 217 milhões
de janeiro. A média ainda está
um pouco abaixo de março de 97
(US$ 235 milhões), mas como o
final do mês acumula mais importações, é possível que suba um
pouco.
Não é o fim do mundo, mas
revela importações um pouco
mais fortes do que se esperava. A
explicação pode estar na soma de
dois fatores. Entraves administrativos andaram atrasando importações nos últimos meses e é
possível que o fluxo esteja voltando ao normal. Pode ser um efeito,
também, de um crescimento econômico mais vigoroso do que se
supunha.
De fato, o INA, índice da Fiesp
que mede o nível de atividades,
depois de cair 5,3% em novembro
e 6% em dezembro, subiu 5,4%
em janeiro e voltou a subir 2,3%
em fevereiro, para surpresa de alguns analistas. Um economista
de um banco colocou num gráfico
as curvas da variação do INA e
da média mensal de importações
e encontrou uma forte correlação
entre elas. Ou seja, se a média de
importações está mais alta do
que se esperava, é provável que a
economia também esteja mais vigorosa.
Ótimo para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Mas,
como mostram os resultados de
março, ruim para a balança comercial. O risco é o de ter uma
economia crescendo mais no
meio do ano, mas com os números do setor externo piores do que
o mercado gostaria.
Fim do sequestro
É possível que nesta segunda-feira as Letras do Tesouro do
Estado de Alagoas voltem aos
seus donos. Desde janeiro, por
decisão de um juiz de primeira
instância de Maceió, os R$ 500
milhões em papéis foram "sequestrados" em favor do Estado
de Alagoas (vide coluna de quinta-feira).
O Tribunal de Justiça de Alagoas, contudo, finalmente concedeu uma liminar. A Cetip, que
custodia os títulos, deve receber
uma ordem para reverter os títulos aos seus donos nesta segunda-feira. O próximo capítulo da
novela será o julgamento do mérito da decisão em segunda instância. Como o Supremo também
foi acionado, se ele se pronunciar
antes, vale sua decisão.
O juiz de Maceió acatou uma
ação popular que pedia a anulação da emissão dos títulos, já que
eles não foram usados para pagar precatórios (decisões judiciais irrecorríveis). A decisão de
sequestrar os títulos de seus donos, contudo, criou um precedente complicado, já que existem R$
9,4 bilhões em títulos originados
de precatórios emitidos por Estados e municípios.
O futuro dos papéis alagoanos,
de todo modo, continua incerto.
Alagoas já não havia pago o resgate de 75 mil títulos em junho
de 97. Uma resolução do Senado,
por outro lado, proíbe que títulos
originados em precatórios sejam
incluídos na renegociação das dívidas estaduais.
O dilema sobre os títulos alagoanos acabou aparecendo na
mesa do Banco Central. O Paraná está negociando com o BC a
manutenção de seu banco estadual, o Banestado. Para isso, terá
que entrar com um bom dinheiro. Está oferecendo ações de sua
empresa energética, mas também
a montanha de papéis de Alagoas que o Banestado acumulou
(estimada em R$ 113 milhões).
O BC reluta em aceitar os títulos alagoanos. Se o fizer, poderá
ser acusado de estar atropelando,
indiretamente, a resolução do Senado. Outros credores de Alagoas
acompanham ansiosamente a
negociação.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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