São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

Texto Anterior | Índice

CELSO PINTO
De olho na balança

Os resultados da balança comercial deste mês podem jogar água fria no entusiasmo gerado no primeiro bimestre. Até quinta-feira o déficit estava em US$ 679 milhões, caminhando para algo entre US$ 750 milhões e US$ 800 milhões no mês.
Como em fevereiro o déficit revisado ficou em apenas US$ 85 milhões, compreende-se a decepção. Em março do ano passado o déficit foi de US$ 878 milhões, portanto o déficit anual pode cair pouco ou nada. O pico do déficit em 12 meses foi em setembro do ano passado, US$ 9,7 bilhões. Desde então, caiu quase sem parar até US$ 7,5 bilhões em fevereiro.
Mais importante, contudo, é examinar as tendências. Como março deste ano tem 22 dias úteis e março de 97 teve apenas 20, não faz sentido comparar os números absolutos e sim as médias por dias úteis. Até o final da terceira semana de março a média das exportações estava em US$ 190,3 milhões, abaixo dos US$ 191,3 milhões de março de 97 e bem abaixo dos US$ 206 milhões de fevereiro, embora superior aos US$ 186 milhões de janeiro.
Do lado das importações, a média estava em US$ 219 milhões, acima dos US$ 211 milhões de fevereiro e dos US$ 217 milhões de janeiro. A média ainda está um pouco abaixo de março de 97 (US$ 235 milhões), mas como o final do mês acumula mais importações, é possível que suba um pouco.
Não é o fim do mundo, mas revela importações um pouco mais fortes do que se esperava. A explicação pode estar na soma de dois fatores. Entraves administrativos andaram atrasando importações nos últimos meses e é possível que o fluxo esteja voltando ao normal. Pode ser um efeito, também, de um crescimento econômico mais vigoroso do que se supunha.
De fato, o INA, índice da Fiesp que mede o nível de atividades, depois de cair 5,3% em novembro e 6% em dezembro, subiu 5,4% em janeiro e voltou a subir 2,3% em fevereiro, para surpresa de alguns analistas. Um economista de um banco colocou num gráfico as curvas da variação do INA e da média mensal de importações e encontrou uma forte correlação entre elas. Ou seja, se a média de importações está mais alta do que se esperava, é provável que a economia também esteja mais vigorosa.
Ótimo para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Mas, como mostram os resultados de março, ruim para a balança comercial. O risco é o de ter uma economia crescendo mais no meio do ano, mas com os números do setor externo piores do que o mercado gostaria.
Fim do sequestro
É possível que nesta segunda-feira as Letras do Tesouro do Estado de Alagoas voltem aos seus donos. Desde janeiro, por decisão de um juiz de primeira instância de Maceió, os R$ 500 milhões em papéis foram "sequestrados" em favor do Estado de Alagoas (vide coluna de quinta-feira).
O Tribunal de Justiça de Alagoas, contudo, finalmente concedeu uma liminar. A Cetip, que custodia os títulos, deve receber uma ordem para reverter os títulos aos seus donos nesta segunda-feira. O próximo capítulo da novela será o julgamento do mérito da decisão em segunda instância. Como o Supremo também foi acionado, se ele se pronunciar antes, vale sua decisão.
O juiz de Maceió acatou uma ação popular que pedia a anulação da emissão dos títulos, já que eles não foram usados para pagar precatórios (decisões judiciais irrecorríveis). A decisão de sequestrar os títulos de seus donos, contudo, criou um precedente complicado, já que existem R$ 9,4 bilhões em títulos originados de precatórios emitidos por Estados e municípios.
O futuro dos papéis alagoanos, de todo modo, continua incerto. Alagoas já não havia pago o resgate de 75 mil títulos em junho de 97. Uma resolução do Senado, por outro lado, proíbe que títulos originados em precatórios sejam incluídos na renegociação das dívidas estaduais.
O dilema sobre os títulos alagoanos acabou aparecendo na mesa do Banco Central. O Paraná está negociando com o BC a manutenção de seu banco estadual, o Banestado. Para isso, terá que entrar com um bom dinheiro. Está oferecendo ações de sua empresa energética, mas também a montanha de papéis de Alagoas que o Banestado acumulou (estimada em R$ 113 milhões).
O BC reluta em aceitar os títulos alagoanos. Se o fizer, poderá ser acusado de estar atropelando, indiretamente, a resolução do Senado. Outros credores de Alagoas acompanham ansiosamente a negociação.


E-mail: CelPinto@uol.com.br






Texto Anterior | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.