São Paulo, sábado, 29 de abril de 2000


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QUESTÃO AGRÁRIA
Governo é pego de surpresa pelo apoio da Contag, cuja "linha positiva" foi elogiada por FHC
Federações querem 71 invasões no dia 1º

WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

Federações de trabalhadores na agricultura anunciaram ontem que vão promover 71 invasões de terra em áreas que eles consideram improdutivas, em 12 Estados.
As ações devem ocorrer no feriado da próxima segunda-feira, dia 1º de Maio (Dia do Trabalho), batizado de Dia Nacional de Ocupações de Terras.
Até o final do mês, os trabalhadores rurais pretendem invadir 120 áreas em todo o país. Entre 10 mil e 12 mil famílias, pelos cálculos das federações, estão mobilizadas para participar das ações.
As invasões têm apoio da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e foram anunciadas apenas um dia após de a entidade ter entregue pessoalmente ao presidente Fernando Henrique Cardoso a pauta de reivindicações do Grito da Terra Brasil 2000.
"O processo de negociação das nossas reivindicações não tem nada a ver com a programação de ocupação de terras, que mostra que ainda temos um lado em que é necessário avançar, que é o dos movimentos sociais", afirmou o presidente da Contag, Manoel dos Santos.
Para Santos, a decisão de invadir as terras é das federações estaduais "que têm necessidades próprias, pois o processo de reforma agrária, especialmente os das desapropriações, entrou num ritmo lento".
A Contag, segundo o presidente da entidade, não está incentivando ou provocando as invasões. "Mas não podemos impedir que elas aconteçam, porque as federações são independentes".
FHC afirmou ontem, por intermédio do porta-voz-adjunto da Presidência, Alexandre Parola, que "seria um grave erro da Contag enveredar por esse caminho" pois ela vai contra "a linha positiva e frutífera que tem sido o diálogo com a entidade nos últimos cinco anos".
O presidente, segundo Parola, "manifestou expectativa de que essas ocupações não se realizem" pois "a população brasileira já manifestou estar cansada desse tipo de comportamento".
Por meio de sua assessoria de imprensa, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, classificou a proposta da Contag de "ato político" e disse que nenhuma das terras invadidas será vistoriada ou desapropriada.
A Folha apurou que os setores do governo envolvidos com os assuntos agrários foram pegos de surpresa, ontem. Ninguém havia sido informado da intenção das federações de promover invasões -as preocupações estavam voltadas para o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que recrudesceram as ações nas últimas semanas, invadindo sedes do Incra.
O presidente da Contag disse que, apesar de se reunir com FHC e com Jungmann, anteontem, não os alertou das invasões.
"Não se faz um processo desses com alerta às autoridades", afirmou. A divulgação do cronograma foi feita ontem à tarde, por meio da assessoria de imprensa da Contag.
A maioria das invasões programadas acontecerá na zona da mata de Pernambuco. Segundo Sebastião Rocha, secretário de Política Agrária da Contag e coordenador do dia de protesto, das 71 ações previstas, 40 ocorrerão no Estado.
Ele teme reações violentas por parte dos proprietários rurais e da Polícia Militar de Pernambuco. Outra área que preocupa é a do Triângulo Mineiro.
"O fato de os trabalhadores rurais terem de ocupar terras já é uma violência. Mas a preocupação com retaliações é sempre presente, pois a tendência é de a violência aumentar", afirmou Rocha.
No dia 1º estão previstas invasões nos Estados de Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Sergipe, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Tocantins, além do Distrito Federal.
Também estão sendo organizadas pelas federações ligadas à Contag outras 14 invasões de terra na Bahia, Piauí e Sergipe durante o mês de maio.
No dia 11 de maio, na marcha do Grito de Terra Brasil 2000, em Brasília, a Contag quer reunir 10 mil trabalhadores rurais na cidade para cobrar do governo a pauta de reivindicações apresentada anteontem.


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