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QUESTÃO AGRÁRIA
Governo é pego de surpresa pelo apoio da Contag, cuja "linha positiva" foi elogiada por FHC
Federações querem 71 invasões no dia 1º
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
Federações de trabalhadores na
agricultura anunciaram ontem
que vão promover 71 invasões de
terra em áreas que eles consideram improdutivas, em 12 Estados.
As ações devem ocorrer no feriado da próxima segunda-feira,
dia 1º de Maio (Dia do Trabalho),
batizado de Dia Nacional de Ocupações de Terras.
Até o final do mês, os trabalhadores rurais pretendem invadir
120 áreas em todo o país. Entre 10
mil e 12 mil famílias, pelos cálculos das federações, estão mobilizadas para participar das ações.
As invasões têm apoio da Contag (Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura) e
foram anunciadas apenas um dia
após de a entidade ter entregue
pessoalmente ao presidente Fernando Henrique Cardoso a pauta
de reivindicações do Grito da Terra Brasil 2000.
"O processo de negociação das
nossas reivindicações não tem nada a ver com a programação de
ocupação de terras, que mostra
que ainda temos um lado em que
é necessário avançar, que é o dos
movimentos sociais", afirmou o
presidente da Contag, Manoel
dos Santos.
Para Santos, a decisão de invadir as terras é das federações estaduais "que têm necessidades próprias, pois o processo de reforma
agrária, especialmente os das desapropriações, entrou num ritmo
lento".
A Contag, segundo o presidente
da entidade, não está incentivando ou provocando as invasões.
"Mas não podemos impedir que
elas aconteçam, porque as federações são independentes".
FHC afirmou ontem, por intermédio do porta-voz-adjunto da
Presidência, Alexandre Parola,
que "seria um grave erro da Contag enveredar por esse caminho"
pois ela vai contra "a linha positiva e frutífera que tem sido o diálogo com a entidade nos últimos
cinco anos".
O presidente, segundo Parola,
"manifestou expectativa de que
essas ocupações não se realizem"
pois "a população brasileira já
manifestou estar cansada desse tipo de comportamento".
Por meio de sua assessoria de
imprensa, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, classificou a proposta da
Contag de "ato político" e disse
que nenhuma das terras invadidas será vistoriada ou desapropriada.
A Folha apurou que os setores
do governo envolvidos com os assuntos agrários foram pegos de
surpresa, ontem. Ninguém havia
sido informado da intenção das
federações de promover invasões
-as preocupações estavam voltadas para o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra), que recrudesceram as
ações nas últimas semanas, invadindo sedes do Incra.
O presidente da Contag disse
que, apesar de se reunir com FHC
e com Jungmann, anteontem, não
os alertou das invasões.
"Não se faz um processo desses
com alerta às autoridades", afirmou. A divulgação do cronograma foi feita ontem à tarde, por
meio da assessoria de imprensa
da Contag.
A maioria das invasões programadas acontecerá na zona da mata de Pernambuco. Segundo Sebastião Rocha, secretário de Política Agrária da Contag e coordenador do dia de protesto, das 71
ações previstas, 40 ocorrerão no
Estado.
Ele teme reações violentas por
parte dos proprietários rurais e da
Polícia Militar de Pernambuco.
Outra área que preocupa é a do
Triângulo Mineiro.
"O fato de os trabalhadores rurais terem de ocupar terras já é
uma violência. Mas a preocupação com retaliações é sempre presente, pois a tendência é de a violência aumentar", afirmou Rocha.
No dia 1º estão previstas invasões nos Estados de Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato
Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí,
Sergipe, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Tocantins, além do
Distrito Federal.
Também estão sendo organizadas pelas federações ligadas à
Contag outras 14 invasões de terra
na Bahia, Piauí e Sergipe durante
o mês de maio.
No dia 11 de maio, na marcha do
Grito de Terra Brasil 2000, em
Brasília, a Contag quer reunir 10
mil trabalhadores rurais na cidade para cobrar do governo a pauta de reivindicações apresentada
anteontem.
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