São Paulo, domingo, 29 de abril de 2001

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FORÇAS ARMADAS

Programas de reaparelhamento aquecem setor; brasileiros participam de exposição de armas no Rio

Feira registra expansão da indústria bélica

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A indústria brasileira de material bélico está passando por um discreto renascimento.
Não se trata mais de tentar voltar aos tempos áureos dos anos 80, quando o país chegou a ser um significativo exportador de armas e incomodava os Estados Unidos ao vender armamento para países hostis aos americanos como Líbia e Iraque.
Mas os programas de reaparelhamento das Forças Armadas estão dando um novo sopro de vida ao setor.
Um dos sinais foi o crescimento da feira bienal de defesa LAD (Latin America Defentech). A LAD 2001, que terminou sexta-feira, no Rio de Janeiro, teve 245 expositores e delegações de 37 países, comparados com os 181 de 1999, e 93 da primeira, realizada em 1997.
Eram 33 expositores brasileiros e uma forte representação européia: 22 empresas da Alemanha, 21 do Reino Unido e 14 da Áustria.
Entre as empresas brasileiras estavam as tradicionais Avibrás, fabricante de foguetes, e a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.), que tem uma linha de produtos militares como o treinador Tucano e os aviões-radar e de sensoriamento remoto que serão usados pelo Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).

"Plano Fênix"
Pela primeira vez vieram aviões estrangeiros fazer demonstração aérea na feira de defesa. O motivo é o grande programa de substituição de aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira), antes conhecido como "Plano Fênix" (a ave mitológica que renasce das cinzas).
O agora chamado Programa de Fortalecimento e Consolidação do Espaço Aéreo brasileiro envolve gastos de 2,8 bilhões de dólares com aquisição de aviões e helicópteros (eram 3,5 bilhões antes de a frota de aviões VIP ter sido retirada do programa).
O prazo previsto é de sete anos, mas deverá ser prolongado se os financiamentos não forem completados a tempo.
Dessa verba, 700 milhões de dólares estão reservados para a compra de novos caças - entre 16 e 24 - para a defesa aérea da região do Planalto, substituindo os veteranos Mirage 3 baseados em Anápolis (GO). Um dos concorrentes, o americano F-16 Fighting Falcon, fez uma demonstração aérea na feira de defesa.
Outros concorrentes são o Mirage 2000 francês, o sueco Gripen e outro americano, o A/F-18, além do russo Sukhoi-27.

Ressentimento
A participação de empresas da França na Embraer, que se dispõe a fabricar o Mirage 2000 no Brasil, tenderia a fazer pender a decisão para esse avião.
Contra o Mirage está o fato de ainda haver uma boa dose de ressentimento em setores do alto comando da Aeronáutica com a investida francesa.
A fabricação no país pela Embraer "é uma atração especial, mas não é tudo", disse o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Carlos de Almeida Baptista, durante a demonstração aérea na base aérea de Santa Cruz, oeste do Rio.
Financiamentos favoráveis e políticas de compensação comercial ("offsets") também podem contar pontos, revela o comandante Batista.
"O primeiro critério é que deve haver transferência de tecnologia. Não pode haver a mínima restrição", afirma Baptista.
"Queremos o melhor pelo menor preço", disse o comandante Batista.

"Alcance visual"
Isso tende a colocar de fora o A/ F-18 e o F-16 se o governo americano não liberar a venda de mísseis de maior alcance, para combate BVR (sigla em inglês para "além do alcance visual") -como está fazendo em relação aos F-16 que o Chile pretende comprar.
A Força Aérea tem urgência nesse programa, pois os Mirage 3 chegam ao final da sua vida útil em 2005.
A FAB tem hoje uma unidade operando 12 aviões Tucano fazendo a defesa do espaço aéreo da Amazônia.
Deverão ser adquiridos 99 aviões aperfeiçoados, a versão Super Tucano ou ALX, para monitorar a região no quadro do projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
O primeiro lote de 76 Tucanos está em vias de ser encomendado. "No máximo em dois meses sai a ordem para o Super Tucano", declara Baptista.

Segunda mão
O reaparelhamento inclui aviões se segunda mão, como 10 quadrimotores de transporte C-130 Hercules comprados da Força Aérea Italiana e 12 aviões de patrulha anti-submarino P-3 Orion adquiridos dos EUA.
Esse último negócio desagradou à Embraer, que está desenvolvendo um avião de patrulha baseado no seu jato regional EMB-145.
Como haveria necessidade de mais aviões para equipar outro esquadrão, o avião da Embraer ainda tem chance.
Na demonstração aérea feita na feira de defesa estavam dois outros aviões de patrulha - o EC-295 CASA, espanhol, e o veterano britânico Nimrod.
A versão transporte do CASA também concorre ao programa C-X, de um avião de transporte bimotor para substituir os Buffalo, muito usados na Amazônia e já sentindo a idade.



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