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FORÇAS ARMADAS
Programas de reaparelhamento aquecem setor; brasileiros participam de exposição de armas no Rio
Feira registra expansão da indústria bélica
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
A indústria brasileira de material bélico está passando por um
discreto renascimento.
Não se trata mais de tentar voltar aos tempos áureos dos anos
80, quando o país chegou a ser um
significativo exportador de armas
e incomodava os Estados Unidos
ao vender armamento para países
hostis aos americanos como Líbia
e Iraque.
Mas os programas de reaparelhamento das Forças Armadas estão dando um novo sopro de vida
ao setor.
Um dos sinais foi o crescimento
da feira bienal de defesa LAD (Latin America Defentech). A LAD
2001, que terminou sexta-feira, no
Rio de Janeiro, teve 245 expositores e delegações de 37 países,
comparados com os 181 de 1999, e
93 da primeira, realizada em 1997.
Eram 33 expositores brasileiros
e uma forte representação européia: 22 empresas da Alemanha,
21 do Reino Unido e 14 da Áustria.
Entre as empresas brasileiras estavam as tradicionais Avibrás, fabricante de foguetes, e a Embraer
(Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.), que tem uma linha de
produtos militares como o treinador Tucano e os aviões-radar e de
sensoriamento remoto que serão
usados pelo Sivam (Sistema de
Vigilância da Amazônia).
"Plano Fênix"
Pela primeira vez vieram aviões
estrangeiros fazer demonstração
aérea na feira de defesa. O motivo
é o grande programa de substituição de aeronaves da FAB (Força
Aérea Brasileira), antes conhecido como "Plano Fênix" (a ave mitológica que renasce das cinzas).
O agora chamado Programa de
Fortalecimento e Consolidação
do Espaço Aéreo brasileiro envolve gastos de 2,8 bilhões de dólares
com aquisição de aviões e helicópteros (eram 3,5 bilhões antes
de a frota de aviões VIP ter sido
retirada do programa).
O prazo previsto é de sete anos,
mas deverá ser prolongado se os
financiamentos não forem completados a tempo.
Dessa verba, 700 milhões de dólares estão reservados para a compra de novos caças - entre 16 e 24
- para a defesa aérea da região
do Planalto, substituindo os veteranos Mirage 3 baseados em Anápolis (GO). Um dos concorrentes,
o americano F-16 Fighting Falcon,
fez uma demonstração aérea na
feira de defesa.
Outros concorrentes são o Mirage 2000 francês, o sueco Gripen
e outro americano, o A/F-18, além
do russo Sukhoi-27.
Ressentimento
A participação de empresas da
França na Embraer, que se dispõe
a fabricar o Mirage 2000 no Brasil,
tenderia a fazer pender a decisão
para esse avião.
Contra o Mirage está o fato de
ainda haver uma boa dose de ressentimento em setores do alto comando da Aeronáutica com a investida francesa.
A fabricação no país pela Embraer "é uma atração especial,
mas não é tudo", disse o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Carlos de Almeida Baptista, durante a demonstração aérea na base aérea
de Santa Cruz, oeste do Rio.
Financiamentos favoráveis e
políticas de compensação comercial ("offsets") também podem
contar pontos, revela o comandante Batista.
"O primeiro critério é que deve
haver transferência de tecnologia.
Não pode haver a mínima restrição", afirma Baptista.
"Queremos o melhor pelo menor preço", disse o comandante
Batista.
"Alcance visual"
Isso tende a colocar de fora o A/
F-18 e o F-16 se o governo americano não liberar a venda de mísseis de maior alcance, para combate BVR (sigla em inglês para
"além do alcance visual") -como está fazendo em relação aos F-16 que o Chile pretende comprar.
A Força Aérea tem urgência
nesse programa, pois os Mirage 3
chegam ao final da sua vida útil
em 2005.
A FAB tem hoje uma unidade
operando 12 aviões Tucano fazendo a defesa do espaço aéreo da
Amazônia.
Deverão ser adquiridos 99
aviões aperfeiçoados, a versão Super Tucano ou ALX, para monitorar a região no quadro do projeto
Sivam (Sistema de Vigilância da
Amazônia).
O primeiro lote de 76 Tucanos
está em vias de ser encomendado.
"No máximo em dois meses sai a
ordem para o Super Tucano", declara Baptista.
Segunda mão
O reaparelhamento inclui
aviões se segunda mão, como 10
quadrimotores de transporte C-130 Hercules comprados da Força
Aérea Italiana e 12 aviões de patrulha anti-submarino P-3 Orion
adquiridos dos EUA.
Esse último negócio desagradou à Embraer, que está desenvolvendo um avião de patrulha
baseado no seu jato regional
EMB-145.
Como haveria necessidade de
mais aviões para equipar outro
esquadrão, o avião da Embraer
ainda tem chance.
Na demonstração aérea feita na
feira de defesa estavam dois outros aviões de patrulha - o EC-295 CASA, espanhol, e o veterano
britânico Nimrod.
A versão transporte do CASA
também concorre ao programa
C-X, de um avião de transporte
bimotor para substituir os Buffalo, muito usados na Amazônia e já
sentindo a idade.
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