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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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GOVERNO X PT

Dirceu se reúne com vice-líderes da bancada do PT, mas discussão adia decisão sobre futuro de Lindberg

Governo ameaça radicais com "gelo político"

Alan Marques/Folha Imagem
O ministro José Dirceu (Casa Civil) durante reunião com os 23 vice-líderes da bancada ontem


RANIER BRAGON
JULIANA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ontem endurecer a ofensiva contra os radicais do PT, com o patrocínio de enquadramentos e ameaças de desligamentos, como forma de tentar contornar a oposição de setores da base aliada a pontos polêmicos da reforma da Previdência, que chega amanhã ao Congresso.
A decisão foi afastar todos os radicais de postos de liderança ou de participação em comissões na Câmara dos Deputados e no Senado, um "gelo político" cujo objetivo final é forçar os radicais a se desligarem da legenda.
A articulação foi definida em reunião ocorrida entre o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, e parlamentares do chamado "campo majoritário" do PT, que apóia o governo.
"Quem fizer campanha de dentro do PT contra o PT está se pondo fora do PT", afirmou o deputado Professor Luizinho (SP), vice-líder do governo na Câmara e um dos presentes à reunião.
A gota d'água para a ação foi a visita que a senadora Heloísa Helena (PT-AL) e o deputado Lindberg Farias (PT-RJ) fizeram anteontem ao presidente nacional do PDT, Leonel Brizola. Os três criaram uma espécie de oposição organizada à cobrança de contribuição dos servidores inativos, um dos principais pontos da reforma da Previdência. Além disso, ameaçaram entrar na Justiça contra a campanha publicitária do governo relativa à reforma.
"Isto é ser apunhalado pelas costas, não tenho sangue de barata", afirmou o presidente nacional do PT, José Genoino, acrescentando que os petistas que fizerem oposição organizada ao governo estão se "desligando automaticamente do partido".
À noite, numa reunião dos 23 vice-líderes da bancada com o ministro José Dirceu (Casa Civil), o deputado Paulo Bernardo (PT-PR) pediu que Lindberg se retratasse ou renunciasse à condição de vice-líder do partido. Bernardo também pediu a ele que saísse da reunião, já que se tratava de um encontro de quem apóia o governo. Lindberg respondeu: "Tá bom, eu saio".
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), porém, pediu que ele ficasse para que Lindberg não saísse como vítima. Diante disso e para evitar um tumulto, os petistas deixaram a decisão para hoje na reunião de bancada.
A posição do governo e da direção partidária é clara: Lindberg e Heloísa Helena devem voltar atrás na decisão de entrar na Justiça contra a campanha publicitária do governo a favor das reformas previdenciária e tributária. Do contrário, serão punidos.
No caso de Lindberg, a posição da maioria da bancada na Câmara, num primeiro momento, será destituí-lo do cargo de vice-líder. Além disso, o PT vai substituir alguns de seus integrantes na comissão que já discute a reforma da previdência e que mais tarde será transformada na comissão especial para tratar da proposta. Pelo menos três de seus seis representantes na comissão são contrários à cobrança de contribuição dos inativos.
Na reunião, Dirceu, que chegou a ameaçar não participar devido à presença de Lindberg, evitou se envolver na discussão de Paulo Bernardo com Lindberg. "Não é meu papel, mas de vocês com Genoino", disse. "Vamos enquadrar sim, caso contrário, em uma bancada de 92 deputados, seremos enquadrados por cinco ou seis", disse Bernardo antes da reunião.


Colaborou RAYMUNDO COSTA, da Sucursal de Brasília


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