São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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JANIO DE FREITAS

O bom empregador

Para quem ia criar 10 milhões de empregos, a idéia de Lula de aumentar em 50 mil o número de recrutas das Forças Armadas, para diminuir o desemprego que bate recordes, tem o mérito de ser cômica.
Mais eficiente, até por ter passado do estágio de idéia para o de prática presidencial, é outra modalidade de oferta de emprego. A inconveniência foi a limitação da oferta a uma área muito determinada: o PMDB. Ainda assim, a demanda se mostrou maior do que os empregos disponíveis, o que levou Lula a entregar cargos técnicos, como presidente da Eletrobrás, diretores do Banco do Brasil, do INSS, dos Correios e outros a escolhidos da cúpula peemedebista. Não solucionada ainda a insuficiência de cargos influentes para a voracidade do PMDB, o governo Lula está inventando mais uma vice-presidência na Caixa Econômica Federal.
Toda essa generosidade se faz ainda sob o argumento de compor as bases governistas na Câmara e no Senado, tal como, no começo do ano, o governo considerou composta a sua base parlamentar a partir da entrega de ministérios ao PMDB.
Apesar de haver ainda quem diga que o governo Lula "resistiu à pressão" e "não entregou outros cargos pedidos" pelo PMDB, além dos dois ministérios, agora se constatam passos mais além até do que as graciosas cessões aos peemedebistas. E além não só nas nomeações em si, mas sobretudo no sentido que as induz. Não são mais nomeações sob o argumento de compor base parlamentar. Vão passando meio despercebidas como ato de governo e são de todo despercebidas na sua finalidade: decorrem das negociações com o malufista PP para apoiar a candidatura de Marta Suplicy à reeleição.
É o governo federal em campanha partidária. Como bem ilustram os estrelados jardins palacianos.

Desamparo
Não há por que se afligir com a venda da Embratel para este ou aquele interessado. Do ponto-de-vista do consumidor, não há diferença fundamental entre os três candidatos. Nem a legislação deixada por Fernando Henrique ou as disposições do governo atual resguardam o interesse do consumidor, seja impondo condições de competição verdadeira, seja impondo aos serviços preços justificáveis. Além disso, os três candidatos moveram-se pelo mesmo fim: o maior lucro possível neste país de lucros impossíveis em outros países.

Os réus
O julgamento do senador João Capiberibe e de sua mulher, deputada Janete Capiberibe, cujos mandatos foram cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral, pôs em lados opostos magistrados com conceitos equivalentes de seriedade. Mas no processo contra o competente e dedicado senador, movido por um adversário cuja crônica é muito onerosa, há um componente que acentua dúvidas sobre a cassação. É o pedido feito, e gravado, por uma das duas mulheres que teriam recebido R$ 26 para votar no casal: por R$ 60 mil, inverteria o depoimento acusatório.
Campanha eleitoral no Brasil é mais do que vale tudo. Mas a cassação de Capiberibe, pendente ainda de recurso ao Supremo, é no mínimo polêmica. Ainda mais quando se sabe que, sobre Joaquim Roriz, governador do Distrito Federal, pesam processos muito graves, como o de uso eleitoral de recursos públicos, e as sentenças não aparecem.


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