São Paulo, domingo, 29 de abril de 2007

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Advogado criou rede de nove empresas fantasmas, diz PF

Nota fiscal daria aparência legal a dinheiro supostamente usado na compra de sentenças

Defesa de Luiz Pardo, alvo da Operação Têmis, não se pronunciou; a maioria das empresas movimentava, em média, R$ 200 mil por mês


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O advogado Luiz Roberto Pardo criou uma rede de nove empresas fantasmas para dar aparência legal ao dinheiro que é suspeito de ter recebido para influenciar em decisões judiciais, segundo as investigações da Polícia Federal que desembocaram na Operação Têmis.
As empresas fantasmas davam notas simulando a prestação de serviços ou vendas com os valores que teriam sido usados na compra de sentenças, ainda segundo os policiais.
Pardo é apontado pela PF como o articulador de uma organização da qual fariam parte advogados, juízes e empresários interessados em obter sentenças favoráveis sobre créditos tributários e, em menor escala, liberar máquinas de videobingo apreendidas.
A investigação descobriu que Pardo controla nove empresas em nome de laranjas e cinco empresas em seu nome. Ele também tem uma offshore no Uruguai, segundo a PF. Offshore é a empresa aberta em paraísos fiscais, cuja legislação dificulta ao máximo saber quem de fato controla o negócio.
No "laranjal" de Pardo, como os agentes chamam ironicamente a rede de empresas, há negócios de todo tipo: de comércio de eletrônicos, produtos plásticos, têxteis e plásticos na mesma firma, termoplásticos e polímeros, importadora e exportadora e de negócios com turismo e representações.
Apesar de a PF não ter descoberto nenhum negócio real feito pelas empresas, a maioria tinha movimentações bancárias mensais de R$ 200 mil a R$ 300 mil, em média.
Levantamento feito pela Folha mostra que Pardo criava empresas em nome de laranjas ou usava empresas fechadas _mas não encerradas na Junta Comercial_ para dar notas. A reportagem encontrou três empresas fantasmas que ele usou, segundo a PF. São empresas que nunca comercializaram ou produziram nada Äsó existiam para vender notas.
Enquadram-se nessa categoria a Germany Plast - Comércio de Produtos Plásticos Ltda e a Caripunas Comercial e Importadora e Exportadora Ltda. Ambas funcionavam numa sala de 30 m2 no Jardim Japão (zona norte de São Paulo). "Havia dois ou três funcionários. Eles ficaram uns dois anos aqui", diz Carlos Humberto de Andrade, o dono do imóvel. O aluguel era pago no prazo, diz ele.
No endereço da Obstaklo Comércio de Produtos Têxteis e Plásticos, na rua Rondonópolis, Penha (zona leste), nunca funcionou empresa, diz a dona-de-casa Ionice Costa e Silva. "Moro aqui há dez anos e nunca teve empresa no endereço."
Há ainda empresas que existiram, mas já foram fechadas: a Brunnen Termoplásticos, que fabricava galões de água, e a Empresa Paulista de Polímeros, onde hoje funciona uma transportadora de móveis. "Esse sem-vergonha saiu daqui há mais de seis anos. Sei que é sem-vergonha porque chega um monte de cobrança", conta o empresário Solismar Prestes.
Uma das empresas, a Goodson, foi aberta no mesmo endereço em que funciona o escritório do advogado, na avenida Nove de Julho. Outra, aberta em Santana do Parnaíba, cidade da Grande São Paulo que abriga empresas que buscam pagar menos impostos, tem filial no escritório de Pardo.
As empresas também abriam conta num mesmo banco, na rua Pamplona (região central), perto do escritório de Pardo.
Na avaliação de um procurador que acompanhou as investigações, não foi por amadorismo que ele fornecia o próprio endereço e abria contas numa mesma agência Äera a certeza de que não seria punido.

Outro lado
A Folha deixou recados no escritório e no telefone celular da assessoria do advogado Miguel Reale Jr., que defende Pardo, mas não obteve resposta. Uma assessora de Reale Jr. informou na sexta-feira que o advogado procuraria a reportagem, o que não ocorreu.


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