São Paulo, domingo, 29 de abril de 2007

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Cartas a frei Galvão revelam histórias pessoais

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUARATINGUETÁ

"Escrevemos, como tantos outros, na esperança de receber a graça da cura do mal que acomete a nossa filha. Trata-se de uma doença rara, denominada Ataxia de Friedrich. É degenerativa. Não há tratamento convencional. Via medicina, encontramos apenas paliativos. Contudo, acreditamos e buscamos a cura em Deus."
O trecho acima é de uma das dezenas de cartas que todos os dias chegam à Irmandade de Frei Galvão, em Guaratinguetá (a 176 km de São Paulo). Ali fica um dos pontos de produção das famosas pílulas do frade, às quais é atribuído o poder de operar milagres.
Escrevem para a entidade pessoas de todas as partes do Brasil e também do exterior. Elas querem receber as pílulas na esperança de alcançar solução para os mais diversos problemas: de doenças graves, como o da carta acima, enviada por um casal de Ipatinga (MG), até problemas financeiros.
A responsabilidade por ler e responder as cartas é de Terezinha Peixoto, 61, funcionária pública aposentada. Ela conta que chega a levar mais de 60 para casa todos os dias. Fica acordada até as 3h, lendo e escrevendo, à mão, as respostas.
Para cada missivista é enviado um pacote com três pílulas feitas de papel. Junto vai uma foto de frei Galvão e, atrás dela, orientações sobre como tomá-las no decorrer de uma novena.
Terezinha mostra à Folha uma carta que lhe chamou a atenção, de uma senhora de Escada (PE). "O meu problema é uma úlcera na perna direita que já dura 14 anos", diz ela na carta, que é acompanhada de uma foto da missivista.

Maternidade
O sonho de ser mãe ou a proteção de uma gravidez também são motivos comuns nas cartas. "Tive um aborto espontâneo em 2004 e, até agora, não consegui mais engravidar. Tenho 41 anos e quero muito realizar o sonho de ser mãe", conta uma moradora de Indaiatuba (SP).
Uma senhora de 64 anos, moradora de Fraiburgo (SC), confia nas pílulas para conseguir a aposentadoria. "Estou com dificuldades para me aposentar, pois nunca contribuí com a Previdência", diz ela. Numa carta, um rapaz em busca de emprego. Em outra, o desejo é "um salário melhor."
Terezinha diz que a maioria das cartas traz histórias de sofrimento. Mas que algumas levam as senhoras da irmandade às gargalhadas. "Uma vez, uma mulher que queria engravidar, e para quem já havíamos enviado as pílulas, nos escreveu perguntando se deveria tomá-las antes ou depois da menstruação", contou, aos risos.
A irmandade Frei Galvão não sabe quantas cartas com pedidos de pílulas já recebeu em todos esses anos.


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