|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cartas a frei Galvão revelam histórias pessoais
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUARATINGUETÁ
"Escrevemos, como tantos
outros, na esperança de receber
a graça da cura do mal que acomete a nossa filha. Trata-se de
uma doença rara, denominada
Ataxia de Friedrich. É degenerativa. Não há tratamento convencional. Via medicina, encontramos apenas paliativos.
Contudo, acreditamos e buscamos a cura em Deus."
O trecho acima é de uma das
dezenas de cartas que todos os
dias chegam à Irmandade de
Frei Galvão, em Guaratinguetá
(a 176 km de São Paulo). Ali fica
um dos pontos de produção das
famosas pílulas do frade, às
quais é atribuído o poder de
operar milagres.
Escrevem para a entidade
pessoas de todas as partes do
Brasil e também do exterior.
Elas querem receber as pílulas
na esperança de alcançar solução para os mais diversos problemas: de doenças graves, como o da carta acima, enviada
por um casal de Ipatinga (MG),
até problemas financeiros.
A responsabilidade por ler e
responder as cartas é de Terezinha Peixoto, 61, funcionária
pública aposentada. Ela conta
que chega a levar mais de 60 para casa todos os dias. Fica acordada até as 3h, lendo e escrevendo, à mão, as respostas.
Para cada missivista é enviado um pacote com três pílulas
feitas de papel. Junto vai uma
foto de frei Galvão e, atrás dela,
orientações sobre como tomá-las no decorrer de uma novena.
Terezinha mostra à Folha
uma carta que lhe chamou a
atenção, de uma senhora de Escada (PE). "O meu problema é
uma úlcera na perna direita
que já dura 14 anos", diz ela na
carta, que é acompanhada de
uma foto da missivista.
Maternidade
O sonho de ser mãe ou a proteção de uma gravidez também
são motivos comuns nas cartas.
"Tive um aborto espontâneo
em 2004 e, até agora, não consegui mais engravidar. Tenho
41 anos e quero muito realizar o
sonho de ser mãe", conta uma
moradora de Indaiatuba (SP).
Uma senhora de 64 anos,
moradora de Fraiburgo (SC),
confia nas pílulas para conseguir a aposentadoria. "Estou
com dificuldades para me aposentar, pois nunca contribuí
com a Previdência", diz ela. Numa carta, um rapaz em busca de
emprego. Em outra, o desejo é
"um salário melhor."
Terezinha diz que a maioria
das cartas traz histórias de sofrimento. Mas que algumas levam as senhoras da irmandade
às gargalhadas. "Uma vez, uma
mulher que queria engravidar,
e para quem já havíamos enviado as pílulas, nos escreveu perguntando se deveria tomá-las
antes ou depois da menstruação", contou, aos risos.
A irmandade Frei Galvão não
sabe quantas cartas com pedidos de pílulas já recebeu em todos esses anos.
Texto Anterior: D. Odilo em SP embaralha eleição na CNBB Próximo Texto: Militares se adaptam à penúria, mas têm projetos bilionários Índice
|