São Paulo, domingo, 29 de abril de 2007

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Lula pode ser eleitor dele mesmo, diz Leôncio

Para cientista político, presidente sonda terreno do terceiro mandato com "muito cuidado" e PSDB deve ser mais "pragmático"

Intelectual vê excesso de cores no arco-íris governista e diz que cargos são criados só para atender voracidade de aliados da administração


DA REDAÇÃO

A coalizão política do governo Lula é um arco-íris com excesso de cores. Quem diz é o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, 73. Segundo ele, Lula exibe ares de "superioridade paternal" e dificilmente terá a imagem abalada pela CPI do Apagão a ser instalada.
Sobre a hipótese eventual de um terceiro mandato para o presidente, o professor da USP e da Unicamp acredita que Lula hoje sonda o terreno com "muito cuidado", mas pode trabalhar para ser o grande eleitor de si mesmo em 2010. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

 

FOLHA - Como o sr. analisa o arco de alianças e a coalizão de Lula?
LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES -
Entendo que se trata de um arco-íris com excesso de cores. Aparentemente, olhada do ângulo numérico, a extensão da base no Legislativo ajuda a tramitação dos projetos do governo.
Mas cria problemas administrativos. Com uma composição partidária que vai da ponta da direita até a ponta da esquerda, o governo perde identidade ideológica e fisionomia programática. Outro fator negativo vem da complicação do caleidoscópio da distribuição dos cargos, das disputas internas entre vaidades feridas e visões diferentes do que fazer em cada órgão do governo. O número excessivo de partidos no governo torna mais difícil a administração da máquina, ampliada desnecessariamente com a criação de novos órgãos destinados a acalmar a voracidade dos aliados.

FOLHA - Lula detém hoje poderes imperiais? Está à vontade no poder?
LEÔNCIO -
Pela imagem transmitida, está mais à vontade do que nunca. O aspecto feliz, o ar de superioridade paternal vem não de resultados administrativos, mas dos índices de avaliação de sua pessoa na maioria do eleitorado. Não diria que o presidente dispõe hoje de poderes imperiais, se isso significa governar ao largo dos dispositivos constitucionais.

FOLHA - A CPI do Apagão pode abalar a governabilidade? LEÔNCIO - Qualquer que seja o escândalo que pule da CPI, é difícil que afete o prestígio do presidente. Lula fez o milagre de ter o apoio das cúpulas empresariais e das camadas populares. Nisso, não se afasta do figurino de chefes populistas como Getúlio, Adhemar, Jango.

FOLHA - Qual o jogo dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG)? FHC está rendido?
LEÔNCIO -
Serra e Aécio têm responsabilidades governamentais. Não podem deixar de ter boas relações com o governo federal. FHC não tem as mesmas responsabilidades. Pode falar livremente. O dilema vem do fato de que o PSDB, se conservar o seu eleitorado e suas fontes de apoio na sociedade, tem chances de ganhar a Presidência. Logo, tem que ser menos ideológico e mais pragmático.

FOLHA - Devemos considerar um terceiro mandato de Lula?
LEÔNCIO -
Pressões por um terceiro mandato só serão significativas se ao final do mandato Lula estiver muito bem cotado e o PT e talvez seus aliados não tenham um candidato competitivo. Acredito que, nesse momento, Lula e outros chefões políticos sondam o terreno com muito cuidado.
Mas quem acompanhar com atenção e pouca ingenuidade a atuação presidencial verá que está orientada, por um lado, para elevar ainda mais a popularidade de Lula com programas sociais e, por outro, no plano partidário, Lula arma um leque de apoio mais do que suficiente para ter suas propostas aprovadas e alterar a Constituição.
A esses dois aspectos, devemos acrescentar as sugestões que pulam aqui ou acolá de valorização da democracia direta, a distribuição de afagos a prefeitos. Qualquer que seja o que vem pela frente Lula empenha-se para ser o Grande Eleitor de 2008 e 2010. A questão é: Grande Eleitor de quem?


Leia a íntegra da entrevista

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