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Usina foi concebida em molde binacional para conter queixas
DA REPORTAGEM LOCAL
Um litígio territorial motivou a criação de Itaipu nos
moldes de uma usina binacional. Relatório diplomático inédito, obtido pela Folha, detalha os bastidores da luta travada entre o governo
de Brasil e Paraguai, e como
se chegou à idéia da criação
da hidrelétrica para evitar
que a disputa fosse para arbítrio internacional.
A campanha paraguaia começou no final da década de
1950 e terminou 15 anos depois, com a assinatura do
Tratado de Itaipu. Todo o
embate diplomático foi catalogado pelo embaixador José
Jobim em relatório de maio
de 1964. Jobim foi encarregado de buscar solução para
fazer Assunção desistir da
queixa territorial, abrindo
caminho para o projeto hidrelétrico do Brasil.
"Não podemos eludir o
problema da reivindicação
territorial do Paraguai. Teremos a lucrar se conseguirmos resolvê-lo o mais rapidamente possível", escreveu.
Para ilustrar, Jobim lembrou
a disputa dos Estados Unidos
pelo Canal do Panamá.
Bate-boca
A primeira nota sobre o assunto foi enviada ao Itamaraty, em 20 de maio de 1958.
Nela, o chanceler paraguaio
Sapena Pastor rejeitava
qualquer "projeto unilateral" de aproveitamento do
rio Paraná.
Um novo protesto ocorreu
em 12 de março de 1962. O
governo brasileiro respondeu em 19 de setembro, defendendo a posse do salto das
Sete Quedas. Em 14 de junho, a tréplica paraguaia. "O
salto do Guairá não somente
não está situado integralmente em território do Brasil, como o Paraguai tem direitos de soberania", disse
Sapena Pastor.
Sete quedas
Na argumentação paraguaia, a linha de fronteira deveria seguir por um sub-ramal da Serra de Maracaju e
terminar em frente ao Salto
del Guairá (Salto Grande).
Para os brasileiros, toda a Sete Quedas era do Brasil, cabendo aos paraguaios toda a
parte seca. Levantamentos
topográficos feitos pelas autoridades de Assunção indicavam um outro divisor
fronteiriço. "Tivesse sido utilizado pelos demarcadores
de 1872/74, faria com a que a
linha divisória caísse em
frente à extremidade sul da
grande ilha existente no lago,
o que daria incontestavelmente o condomínio ao Paraguai", ponderou Jobim.
O embaixador chegou a
conclusão de que o país vizinho tinha direito sobre o "o
potencial energético das
águas comuns do rio Paraná". E sugeriu a solução. "O
aproveitamento conjunto e
em igualdade de condições,
por parte do Brasil e do Paraguai, do potencial energético
das águas comuns aos dois
países, no trecho entre a foz
do Iguaçu e o salto grande
das Sete Quedas, farão desaparecer as cataratas, contribuindo para a solução do
problema de limites." A idéia
foi apropriada pelo ex-chanceler Mario Gibson Barbosa,
que assinou o Tratado de
Itaipu em 26 de abril de 1973.
(CDS)
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