São Paulo, Quinta-feira, 29 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Ex-presidente do BC poderá se calar para não se incriminar
CPI decide reconvocar Lopes como testemunha

da Sucursal de Brasília


A CPI dos Bancos decidiu que irá reconvocar o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes para um novo depoimento. Ele deverá depor na condição de testemunha em data ainda não definida, mas, segundo os senadores, terá o direito de permanecer calado se questionado sobre assuntos que eventualmente possam incriminá-lo.
Lopes deveria ter deposto na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na segunda-feira. Acabou preso por se recusar a assinar o termo de compromisso de dizer a verdade, depondo sob a condição de testemunha. Foi solto na mesma noite, após pagar fiança.
A comissão decidiu reconvocá-lo aprovando requerimento do senador Pedro Simon (PMDB-RS). Na opinião de Simon, o ex-presidente do BC tem muito a explicar, como testemunha ou como réu.
Hoje a comissão faz, às 15h, reunião secreta para decidir se aprova requerimentos pendentes feitos por senadores.
Anteontem, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) propôs, durante reunião da CPI, que o ministro Pedro Malan (Fazenda) seja ouvido. O líder do PMDB, Jader Barbalho (PA), protestou ontem contra a "pressa" em convocar pessoas, sem citar o ministro.
Na opinião de Jader, essas decisões devem ser maturadas. "Devemos expor algumas pessoas ao sol e à chuva. Nada de pressa. Tenho visto ansiedade intempestiva de trazer pessoas aqui", disse.
O presidente da CPI, senador Bello Parga (PFL-MA), divulgou nota em que informa que reassume hoje o comando dos trabalhos da comissão. Ele disse que se submeteu a exames de avaliação médica no Instituto do Coração, em São Paulo. Nos últimos dias a CPI foi dirigida pelo vice-presidente, senador José Roberto Arruda (PSDB-DF).

Depoimento
Ontem depôs à CPI o consultor Rubem Novaes, que viajou a Brasília junto com o dono do Marka, Salvatore Cacciola, quando este veio pedir socorro ao BC para o seu banco, em janeiro.
Eles estavam acompanhados também por Luiz Augusto Bragança, amigo de Lopes. Após a desvalorizção do real, em 13 de janeiro, o BC vendeu dólar barato ao Marka, com prejuízo para os cofres públicos, em uma operação que está sendo investigada pela CPI.
"O Cacciola estava receoso de talvez não conseguir levar o problema à diretoria do BC. Achou que o Bragança, sendo amigo do presidente do BC de então, poderia ajudar", disse Novaes.
Segundo o consultor, Bragança tomou um "passa-fora" de Lopes. "Ele foi fortemente admoestado pelo Francisco Lopes quando tocou no assunto no café da manhã."
Novaes disse que acompanhou Cacciola sem cobrar nada, atendendo a "um apelo de um amigo desesperado". Afirmou ainda que não foram discutidas formas de facilitar o socorro do BC.


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